ENTREVISTA / SÉRGIO GROISMAN
"?A TV é muito superficial?", copyright Folha de S. Paulo, 10/02/02
"O apresentador do ?Altas Horas?, Sérgio Groisman, tem dois desafios em seu segundo ano na TV Globo. O primeiro é não deixar o nível do programa cair, já que a emissora fez cortes entre 20% e 30% nos orçamentos de todas as produções. Ele quer também apresentar menos atrações populares, tipo KLB, e trazer artistas que estejam pouco na mídia, como Lobão. Os obstáculos são a desinformação dos jovens e o horário ingrato.
Por que os debates no ?Altas Horas? parecem mais pobres que os do ?Programa Livre?, que você fazia no SBT, e do ?Fala Galera?, que você faz no Futura?
A platéia tem a mesma formação, mas, no Futura, o debate dura uma hora e, por ser um só assunto, fica mais rico. No caso do SBT, foram 2.200 programas em oito anos, com 520 mil pessoas na platéia. É difícil comparar um programa diário com um semanal. E tive problemas graves no SBT: a Erundina foi lá quando era prefeita de São Paulo e uma garota perguntou se ela não podia criar uma lei proibindo os nordestinos de virem para cá. Perguntei à garota se ela tinha lido Graciliano Ramos, se gostava de Raul Seixas, Gil e Caetano. Quando a platéia participa, não dá para saber quem tem boas perguntas.
O que você pretende entrevistando pessoas da platéia?
Saber a opinião sobre temas mais difíceis de serem entendidos pela própria sociedade, como aborto ou drogas. Não dá pra achar que todos os garotos de 15 anos são iguais e que um jovem possa representar a juventude inteira. Mas, no programa, temos uma representação da sociedade. Hoje, o cara pode votar no Lula para presidente e no Maluf para governador; ouvir Skank, Gil e Zezé di Camargo. Acho que isso nada mais é do que o reflexo da democracia com pouco acesso à informação.
O programa não fica superficial com entrevistas tão curtas?
Não são tão curtas, mas a referência das pessoas é o ?Programa Livre?. A questão é que dificilmente alguém assiste ao ?Altas Horas? do começo ao fim, e se eu me aprofundar durante duas horas em um ou dois assuntos, a pessoa que começar a assistir ao programa no meio vai se desinteressar. E também quero diversificar os temas, colocar gente que fez sucesso, mas que não tem aparecido, como Lobão, Evandro Mesquita; quero levar agora o Hermes Aquino, que gravou aquela música, ?Nuvem Passageira?. Talvez faltem algumas coisas, mas a TV é o veículo mais superficial de todas as mídias. Se alguém acha que pode ser bem informado só com ela, está perdido.
O seu nome está ligado à qualidade. É o que o público espera de um programa seu.
Quando eu estava na Cultura, me convenceram a levar a Roberta Miranda lá e vi que o público gostou. Resolvi rever meus conceitos. E há uma questão delicada, que serve para algumas pessoas fazerem porcaria na TV: para nós da classe média, a televisão é uma opção no sábado à noite, mas para a maioria das pessoas é o único lazer. Há dois públicos no Brasil. Para quem não tem outra opção, ou tentamos fazer a cabeça com Caetano e Chico César ou damos prazer com KLB e umas bundas. É um dilema. Quero que as pessoas se transformem, mas não posso impor a transformação. Cada programa reflete a personalidade do apresentador e do diretor. Estou partindo para algo mais próximo de mim. Na TV está tudo muito igual.
Foi difícil sair do SBT?
Recusei um baú de dinheiro, porque o Silvio Santos queria que eu ficasse. Mas eu não dormiria mais se ficasse lá. Queria ter estrutura para trabalhar e uma equipe mais qualificada. O Silvio só pensava na audiência, não queria saber quem eu era ou o que eu pensava.
O que você esperava quando foi para a Globo?
Meu primeiro desejo era um programa diário e ao vivo, de uma hora. A Globo ofereceu meia hora e preferi pensar no semanal, que seria da meia-noite às quatro da manhã. Mas, na prática, isso não é possível. Eu gostei de criar um horário novo para programa de auditório, mas às vezes sofro com isso.
Não é um contra-senso fazer programa para adolescente sábado de madrugada?
As pessoas saem, mas voltam. Quando acaba o ?Supercine?, quase 50% dos televisores estão ligados. Nunca acompanhei a audiência dos meus programas, mas, por curiosidade, já passei muitos sábados aqui observando os números. Muitas vezes, o programa entra bem mais tarde do que deveria. Não dá pra cobrar uma audiência linear. O que importa é que o programa mantém seu desempenho estável em termos percentuais, variando entre sete e 14. Quando acaba, tem, às vezes, o total de 11 pontos, o que é bom. Dificilmente as pessoas assistem até o fim. Nesse horário você pode ter uma ótima atração, mas quando entra o intervalo, muitos vão dormir.
Você não temeu se descaracterizar?
A Globo não me contratou para me transformar. As pessoas acham que ela faz lavagem cerebral em seus funcionários. Você acha que o Cazé se descaracterizou ou que ele não foi aceito pela Globo? Se ele se transformou, por que saiu? Eu não viria se eles me dissessem pra falar só de pátria, família e sociedade, sair na ?Caras? e só namorar globais. Preservo minha liberdade."
EDITORA ABRIL
"Felipe D?Avila na Abril: mais que uma simples contratação?", copyright Comunique-se. (www.comunique-se.com.br), 6/02/02
"Ao anunciar na última sexta-feira (1?/2), em nova rodada de reestruturação, a contratação de Felipe D?Avila como diretor superintendente da Unidade de Revistas de Interesse Geral, a Editora Abril não conseguiu convencer o mercado de que esta é uma operação de rotina, dentro do típico vaivém de executivos entre as empresas.
Em primeiro lugar, porque D?Avila é dono da editora que leva o seu sobrenome, mantinha até aqui o cargo de publisher de suas próprias revistas – a saber República, Bravo e Sabor-Pão de Açúcar –, e anunciou que não se desfaz da empresa e muito menos de sua participação nela; ou seja, continuará acionista majoritário.
Se vai continuar no controle acionário da empresa é porque acredita nela. Se acredita (a menos que já tenha algum outro negócio em vista), o que o levaria a se afastar, trocando seu próprio negócio para ser executivo de uma outra organização, que atua no mesmo ramo?
Dificilmente, por melhor que fosse a proposta salarial, um convite desses seduziria alguém na posição estratégica em que estava D?Avila na sua empresa, a menos que tivesse como objetivo buscar o know-how da líder do mercado, para aplicar posteriormente em sua própria empresa.
Improvável: se há mal do qual a Abril não padece é o da ingenuidade.
Esta não foi uma contratação de rotina, em segundo lugar, porque estivesse a Abril interessada simplesmente num bom executivo, encontraria às dezenas no mercado, como sempre encontrou, provavelmente com experiência superior a de D?Avila e um perfil mais adequado ao cargo. Estão aí os headhunthers da vida, prontos para esse tipo de captura. D?Avila, como se sabe, é sociólogo por formação e a fundação de sua própria editora foi sua primeira grande experiência no mercado editorial.
Em terceiro lugar, vimos esse filme antes, há cerca de dois anos, quando a Abril adquiriu parte do controle acionário da Símbolo, numa negociação na qual a presidente da empresa, Joana Woo, passou a integrar seu staff editorial.
Há ainda uma quarta razão, de ordem pessoal, mas também nada desprezível. D?Avila é casado com Ana Diniz, vice-presidente executiva e herdeira do Grupo Pão de Açúcar, e responsável direta já há vários anos pelo Marketing do grupo. Ou seja, tem uma rede de contatos e relacionamento no mais alto escalão do empresariado brasileiro, e que certamente poderá proporcionar bons negócios à Abril, como proporcionou para a sua D?Avila. Mas por quê levar tudo isso para a Abril, em troca de um salário, ainda que um bom salário?
Pode ser simples alucinação, ilação ou qualquer outro ão da vida. Mas é isso o que as pessoas estão efetivamente se perguntando, como perguntaram quando Fernando Vieira de Mello Filho, diretor e um dos sócios da Rádio Trianon de São Paulo, deixou sua posição operacional na emissora para ser diretor de Jornalismo da Rádio Bandeirantes – um caso até semelhante, mas com outras conformações.
Não haver efetivamente nenhum negócio à vista envolvendo a Editora D?Avila, na ida de Felipe D?Avila para a Abril, é até possível, mas correrão meses até o mercado certificar-se de que foi apenas isso o que ocorreu.
Felipe D?Avila é do ramo, não resta dúvida. Estão aí as revistas República, Bravo e Sabor-Pão de Açúcar, mais o site Primeira Leitura – que montou em sociedade com Luiz Carlos Mendonça de Barros -, para comprovar sua competência nesse mercado. A estranhar apenas o fato de o olho do dono engordar boi alheio.
De qualquer modo a ele, e ao profissional que escalou para sucedê-lo no comando operacional da Editora D?Avila, Renato Junqueira, boa sorte, pois nosso mercado está precisando – e muito – de gente talentosa que o coloque novamente na rota do crescimento."
JORNAL DO BRASIL
"JB na mira de fogo do Sindicato do Rio", copyright Comunique-se. (www.comunique-se.com.br), 6/02/02
"O Sindicato dos Jornalistas do Rio já está se mobilizando para combater a decisão do Jornal do Brasil de transformar os funcionários da redação que recebem entre R$ 2.500 a R$ 4 mil em pessoas jurídicas. Segundo a assessoria de imprensa da entidade, todos ficaram surpresos com a notícia. No ano passado, sindicato e representantes do JB tentaram chegar a um acordo quanto a decisão de terceirizar os jornalistas cujos salários ultrapassam R$ 4 mil. As negociações estão suspensas. ?Obviamente somos contra. Essa é mais uma das tentativas de rasgar a CLT mesmo antes de sua flexibilização ser sancionada?, disse o diretor Marcelo Bernstein.
O advogado do sindicato, José Araújo, disse que vai defender a tese de que na verdade a idéia de terceirizar os jornalistas não passa de uma fraude do JB, já que o vínculo empregatício permanece. ?Eles terão que cumprir carga horária e responder a uma hierarquia. Isso é vínculo empregatício?. Araújo acha que a redação deve tentar resistir. ?Às vezes é impossível. Ou você adere ou perde o emprego. Se eles forem pressionados assim, aconselho que aceitem e depois procurem o sindicato para que possamos defendê-los na Justiça?.
A diretoria do sindicato vai se reunir na próxima semana para discutir a questão. Bernstein adiantou que a situação do no. também será estudada.
Nesta quarta-feira (30/1), um e-mail foi distribuído no JB informando que todos os funcionários da redação que recebem abaixo de R$ 2.500 terão seus contratos de trabalho encerrados e serão, em seguida, contratados pela Agência Multimídia S/A. Aqueles com salários entre R$ 2.500 e R$ 4 mil serão convidados pela Agência Multimídia para se tornarem Pessoa Jurídica. As mudanças, segundo o e-mail, fazem parte do processo de reestruturação do diário.
Comunique-se teve acesso ao e-mail enviado à redação do Jornal do Brasil:
Prezados,
Dando continuidade ao processo de restruturação do JB/AJB, a empresa tomou as seguintes providências:
Todos funcionários da Redação-JB/AJB, que ganham salários abaixo de R$ 2.500,00, terão seus contratos de trabalho encerrados a partir de 03/01/02 e automáticamente serão contratados pela Agência Multimídia S/A , a partir de FEV/02.
Funcionários que ganham valores de R$ 2.500,00 a R$ 4.000,00, terão seus contratos encerrados a partir de 03/01/02 e estão sendo convidados pela Agência Multimídia, inclusive os já contratados pela AM. em regime de CLT, para tornarem-se PESSOA JURÍDICA, para contratação como prestadores de serviços jornalísticos.
O ônus da constituição dessas empresas será por conta da empresa contratante.Quanto a proposta do valor desses serviços prestados favor dirigirem-se à Administração da Redação.
Solicitamos a colaboração de todos de dirigirem-se a Administração da Redação, para assinarem seus Avisos de Desligamentos e terem as devidas orientações para os novos procedimentos.
Atenciosamente, Jorge Luiz"