VIVENDI À VENDA
"Vivendi coloca seu ?império? à venda", copyright Folha de S. Paulo, 8/07/03
"A segunda maior empresa de mídia do mundo, a Vivendi Universal, deve ser vendida até o final de julho em um negócio que valeria um roteiro de cinema à altura de ?Wall Street? e de seu Gorgon Gecko, protagonizado por Michael Douglas nos anos 80.
Um dos principais atores da negociação é o ambicioso herdeiro de uma empresa de bebidas que já escreveu músicas para Celine Dion e que sonha recuperar o que já lhe pertenceu -a própria Universal e o dinheiro da família.
A Vivendi Universal está à venda por causa de dívidas pesadas, de mais de US$ 30 bilhões, que o seu controlador, um grupo francês, contraiu durante a febre da expansão dos negócios de mídia e internet há três anos. A Vivendi francesa não tinha nada a ver com o ramo. Estava no negócio de tratamento de água. Na onda da diversificação, adquiriu em 2000, por US$ 34 bilhões e de uma vez só, a Universal e a companhia de bebidas Seagram do norte-americano Edgar Bronfman.
Bronfman herdou a Seagram da família há vários anos e havia comprado a Universal em 1995, em um dos piores momentos da história da companhia. Em pouco mais de três anos, ele recolocou a Universal no topo dos estúdios de Hollywood, ressuscitou a MCA Records e consegui encher novamente de gente e de dólares os parques temáticos da empresa.
Acabou indo longe demais.
Estimulado pela ?exuberância irracional? recente na economia americana, Bronfman vendeu a companhia para a Vivendi. A idéia era continuar no ?board? da empresa como o maior acionista individual e ampliar seus tentáculos, adquirindo outros negócios para superar seu maior concorrente, a AOL Time Warner.
Quando a chamada ?bolha financeira? que estimulava os negócios estourou no final do ano 2000, a Vivendi Universal tinha muito mais empresas e muito menos público do que antes.
Afundada em dívidas, decidiu colocar à venda toda a sua área de entretenimento -que Bronfman pretende agora recomprar para readquirir o controle total.
Além dele, outros grandes grupos de mídia, principalmente americanos, entregaram ofertas para o negócio, que deve ser fechado acima dos US$ 11 bilhões.
Entre os interessados com chance, além de Bronfman, estão os grupos Liberty Media, a General Electric, dona da rede NBC nos EUA, a Metro-Goldwyn-Mayer e a Viacom. Em um primeiro momento, a Vivendi pretendia se desfazer também da área musical da empresa, mas optou por deixar o negócio mais para a frente."
VENEZUELA
"Hugo Chávez promete ?ofensiva de informação?", copyright Gazeta Mercantil, 7/07/03
"O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou na sexta-feira uma ?ofensiva de informação? para resistir às ?insistentes campanhas desestabilizadoras? contra seu governo, supostamente promovidas pelos grandes meios privados de comunicação.
O governo destinará 60 bilhões de bolívares (US$ 37,5 milhões), ?para ampliar e modernizar a estratégia de comunicação do Estado?, anunciou Chávez, na posse de Jesse Chacón como novo Ministro de Comunicação e Informação.
Essa ?ofensiva de informações? deve destinar-se especialmente ?à classe média alta, que odeia Chávez e é envenenada por uma campanha rigorosamente? gestada e impulsionada pelos meios privados locais contra seu governo, disse o presidente.
?Parece que eles não querem refletir(os dirigentes dos meios de comunicação), e continuam lançando campanhas desestabilizadoras, apesar de estarem sendo derrotados?, afirmou Chávez.
Ele defendeu que os grandes meios ?retornem ao seu papel, em uma sociedade livre?.
O presidente disse que os ?donos? dos meios privados ?dirigiram? o golpe de Estado que o derrubou durante 48 horas em 11 de abril do 2002, e também a greve que, entre dezembro e fevereiro passados, instigou a oposição para forçá-lo a renunciar ao cargo, ?sem êxito?.
Chávez lembrou que o governo ?é o dono? dos sinais de televisão e rádio, e que foi ?muito generoso?, porque não revogou as concessões apesar de ?ter razões? para isso.
Os donos dos principais meios venezuelanos reconheceram, no último dia 13 de dezembro, em pleno auge da greve, que se envolveram no conflito político para ?defender-se? dos ?ataques? do governante. Chávez incentivou o novo ministro de Comunicação a ?projetar e articular uma grande estratégia? informativa para solucionar as ?falhas? do governo.
Chacón disse que o ?único problema do governo é não informar à população o que faz?."
FSP ANTIAMERICANA
"Luta contra os Fatos", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 7/07/03
"Se alguém ainda não acredita que a chamada ?grande imprensa? distorce o noticiário do dia-a-dia para que os fatos se ajustem aos pontos de vista de seus editores e jornalistas, a Folha de São Paulo deste domingo, 6 de julho, oferece mais algumas provas irrefutáveis. Ao abordar o início da visita do presidente norte-americano George W. Bush à África, nesta segunda-feira, o jornal paulistano dispensou a cobertura das agências internacionais de notícia (elas mesmas nem sempre tão isentas assim) para usar apenas matéria enviada por seu correspondente em Washington, DC, Fernando Canzian.
Sem ler mais que o título da matéria, já é possível deduzir que se trata de mais um exercício de jornalismo comodista, em que o autor prefere ouvir um lado só, aquele que mais se ajusta à sua ideologia e seu modo de ver o mundo: ?Bush visita a África de olho no petróleo?. Para não deixar dúvidas, o jornal acrescenta: ?Para analistas, promessas de ajuda são verniz humanitário, mas viagem é centrada no combate ao terror e no fornecimento de óleo?. Como se houvesse algo de errado nisso.
Canzian fornece algumas informações gerais sobre a visita de Bush a cinco países africanos e – como quase toda a imprensa mundial, diga-se de passagem – destaca que Bush ?será também o primeiro chefe de Estado a visitar a África do Sul sem ter um encontro com Nelson Mandela?. Como se o presidente tivesse alguma intenção de se encontrar com um de seus maiores críticos.
A Folha diz em seguida que ouviu ?algumas das principais organizações não-governamentais ligadas à África?, mas só cita duas dessas organizações, a Africa Action e o TransAfrica Forum. Ambas, por uma estranha coincidência, contrárias a Bush. Salih Booker, da Africa Action, declarou a Canzian que ?Bush tem conseguido apresentar-se como mais simpático que outros à causa africana, mas há uma enorme dose de manipulação para mostrar compaixão?. Para não ficar atrás, Bill Fletcher, do TransAfrica Forum, disse que ?países ricos em petróleo da África, como a Nigéria, merecem cada vez mais a atenção dos EUA ?apenas por causa do petróleo?.
Se quisesse ouvir pelo menos mais uma ONG, o correspondente da Folha poderia ter procurado, por exemplo, a apartidária Constituency for Africa. Seu diretor-executivo Melvin Foote, ouvido pelo Washington Times, declarou que ?a promessa de Bush de $15 bilhões de dólares para a AIDS não encontra paralelos. [O ex-presidente] Clinton ofereceu apenas $300 milhões, mesmo sabendo que a questão era um tremendo desafio. Clinton nos deu um osso. Bush está pondo alguma carne no osso?.
O maior jornal brasileiro poderia, ainda, ter procurado ouvir alguns ativistas que – embora tenham posições políticas distintas das do presidente americano – analisam suas ações em relação à África com justiça. O roqueiro irlandês Bob Geldof, por exemplo. Geldof, que já em 1985 promoveu o concerto ?Live Aid? para ajudar a eliminar a fome no continente africano, declarou recentemente que ?Clinton falava muito mas não fazia nada, enquanto Bush não fala mas faz.? Mais: ?vocês podem achar que eu perdi um parafuso, mas a administração Bush é a mais radical, de uma forma positiva, em seu enfoque em relação à África desde Kennedy.?
A Folha poderia ter buscado as opiniões de alguns africanos, quem sabe, como fez a agência Reuters. Entre os africanos ouvidos pela agência está o guarda de segurança Abdoulaye Saido, de Dakar, que disse: ?[Receber Bush] é uma grande honra para nós. Ele é um homem que acredita nos mesmos princípios que eu. Ele acredita na dignidade de cada vida, ele acredita em democracia, ele acredita em mercados livres, ele entende a importância do livre comércio.?
Mas não. A Folha preferiu ficar apenas do lado esquerdo da cerca. Para não estragar seu argumento de que a visita de Bush é ?só sobre petróleo?, foi ouvir Emira Woods, economista da Universidade de Harvard e diretora de uma organização chamada Foreign Policy in Focus. Ela afirma que os EUA querem dobrar a participação dos países africanos no fornecimento de óleo, para ?diminuir a dependência do Oriente Médio a todo custo?. Pela estranha lógica de Woods (e da Folha), a intenção americana de aumentar as importações de produtos africanos pelos Estados Unidos (não apenas petróleo, diga-se), trazendo divisas e gerando empregos, é apenas uma ?política de controle que não deve resultar, necessariamente, na melhora geral do padrão de vida dos africanos?.
Em termos jornalísticos, não haveria o menor problema se a Folha publicasse o artigo de Canzian nas páginas de opinião. Mas quando uma reportagem assim tendenciosa é a única notícia sobre o assunto em todo o jornal, há algo claramente errado com os critérios de seus editores."