PEDOFILIA & CENSURA
“Em campanha contra pedófilos “, copyright O Globo, 10/12/03
“Numa tentativa de proteger seus alunos de pedófilos, escolas primárias britânicas estão apelando até mesmo para a censura. Depois de algumas delas terem decidido não identificar os alunos nas fotos de anuários, professores e diretores agora voltam suas baterias para as peças de Natal e decidiram proibir os jornais de fotografar as encenações, uma tradição que em outros tempos era motivo de orgulho para pais. Hoje, eles temem pela segurança dos filhos.
Há algumas semanas, um diretor de uma escola de Northampton, no oeste da Inglaterra, decidiu proibir a identificação de alunos em fotos e reportagens depois de uma das crianças ter recebido telefonemas obscenos de um pedófilo que viu seu nome num jornal local. Há casos em que a imprensa regional não foi autorizada a cobrir a encenação das peças.
A decisão recebeu críticas até do meio educacional, embora o Departamento Nacional de Educação endosse parte das medidas, sem recomendar a censura. A Associação Nacional dos Diretores afirma não ter recebido da polícia nenhuma prova de que a publicação dos nomes das crianças esteja diretamente ligada a ataques de pedófilos. Especialistas em criminologia vão além e alertam que, na realidade, o inimigo muitas vezes é conhecido e tampouco precisa procurar vítimas nas páginas de jornais.
?Em termos estatísticos, crianças estão muito mais expostas a parentes e amigos da família do que a um desconhecido no portão da escola. Claro que o ataque de um estranho é possível, mas essa noção de um perigo misterioso é errônea? ? explica o professor Tony Kearon, da Universidade de Keele.
A imprensa também tem sua parcela de culpa. Os tablóides sensacionalistas volta e meia publicam histórias envolvendo ameaças a crianças e exploram à exaustão a comoção provocada pelo julgamento de Ian Huntley, funcionário de uma escola primária da cidade de Soham que assassinou duas alunas no ano passado.”
MÍDIA & SAÚDE
“EUA querem banir anúncio de ?milagre? para emagrecer”, copyright Folha de S. Paulo, 14/12/03
“?Perca 2 kg por semana sem dieta nem exercícios.?; ?Emagreça para sempre comendo de tudo na quantidade que quiser.?
A divulgação publicitária dessas promessas milagrosas de emagrecimento pode estar com os dias contados nos EUA. Uma campanha lançada agora pelo Departamento de Proteção ao Consumidor, órgão da Comissão Federal de Comércio dos EUA, pretende convencer as empresas de mídia a não veicular anúncios de produtos contra obesidade que não tenham eficácia comprovada.
?Infelizmente há muitos anúncios de produtos cujas promessas de redução de peso são cientificamente impossíveis?, afirmou Timothy Muris, presidente da Comissão Federal de Comércio.
Para auxiliar a mídia, o departamento preparou uma lista das promessas enganosas mais comuns e uma explicação científica que contradiz a premissa milagrosa da propaganda.
No caso de anúncios que afirmam que o consumo de determinado produto causa ?perda de peso rápida sem dieta nem exercício físico”, o órgão argumenta, no manual distribuído à mídia, que “é falsa toda a propaganda que anuncia ou sugere que os consumidores podem ter uma perda significativa de peso sem uma mudança no estilo de vida?.
Numa categoria mais abrangente, estão os artefatos que anunciam ser possível a redução de peso por meio de adesivos, palmilhas, cintas, cremes e outros. ?Esses produtos não causam perda significativa de peso. A mensagem de que uma pessoa pode perder um quilo ou mais por semana por usar um desses produtos é falsa?, afirma o departamento.
?Nesta primeira etapa, queremos que a adesão à campanha seja voluntária. Partimos do pressuposto de que a mídia não quer divulgar anúncios enganosos?, disse Richard Cleland, do Departamento de Proteção ao Consumidor. Cleland não comentou, porém, se uma segunda etapa envolveria processos contra empresas de comunicação que veicularem os anúncios enganosos.
Paul Boyle, da Associação de Jornais dos EUA, declarou que a publicação do manual é um ?bom instrumento educacional?, mas fez ressalvas. Segundo ele, os fabricantes devem ser os responsáveis pela veracidade das informações, não a mídia.
Com mais de 60% da população acima do peso ideal, o mercado de produtos de combate à obesidade está em alta nos EUA. Por ano, os consumidores gastam cerca de US$ 40 bilhões. As projeções calculam que esse valor possa chegar a US$ 48 bilhões em 2006.
Dados da Comissão Federal de Comércio mostram, entretanto, que 55% das propagandas de artigos contra a obesidade possuem alguma expressão considerada enganosa como ?impedir a absorção de gordura? ou ?reduzir peso em partes específicas do corpo?. A pesquisa analisou 300 anúncios veiculados na mídia e panfletos recebidos pelo correio em 2001.
Fabricante da Thermo Charge (cápsula de emagrecimento), Ron Schneider diz não temer a campanha, apesar de o site do produto utilizar fartamente expressões vetadas pelo governo, tais como ?[o produto] assegura a perda de peso pelo bloqueio e a inibição da ingestão de gordura?.
?O meu produto é o resultado de cinco anos de pesquisa. Não faço anúncios na TV. Minha maior propaganda é boca a boca?, disse Schneider. ?Tudo o que está no site é comprovado cientificamente. Sou um cientista responsável.?”
LÍNGUA VIVA
“Frases controversas”, copyright Jornal do Brasil, 15/12/03
“?Boa sorte, senhor Gorsky!?; ?É um pequeno passo para o homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade.? Qual destas duas expressões integrou as primeiras palavras que o astronauta Neil Armstrong proferiu ao descer no Mar da Tranqüilidade e tornar-se o primeiro homem a caminhar na superfície da Lua? Há controvérsias.
?Quando a lenda for mais interessante do que a realidade, imprima-se a lenda.? A recomendação apareceu em 1962 no filme O homem que matou o facínora, de John Ford.
Eram 5h56min56s do dia 21 de julho de 1969 e o mundo inteiro estava de olho na televisão, que transmitia ao vivo. O segundo homem a pisar na Lua, acompanhando o comandante do módulo Eagle (Águia), foi Edwin Aldrin Jr. Enquanto isso, na nave-mãe, a Apollo 11, o terceiro deles, Michael Collins, tornou-se o mais solitário dos homens. Quando estava no lado escuro da Lua, ficava sem comunicação nenhuma: nem com os dois do módulo, nem com o resto da humanidade aqui embaixo. Os três tinham a mesma idade: 39 anos.
A controvérsia das primeiras palavras do homem na Lua diminuiu um pouco há alguns anos. Num debate realizado na Flórida, Armstrong teria explicado o seguinte. Quando menino, foi apanhar uma bola de beisebol que caíra perto da casa do Sr. Gorsky, vizinho de seus pais, e ouvira a esposa dizer: ?Sexo oral, você quer sexo oral? Só quando o filho do vizinho for à Lua?.
Muitos anos depois, apenas o casal, dentre os milhões que assistiram à alunissagem, teria entendido a saudação enigmática. Contribui para a permanência da lenda, em vez de servir para erradicá-la, justamente a ausência da frase nas fitas de áudio e de vídeo da Nasa.
Também no Brasil há muitas frases lendárias. Uma delas é atribuída ao estadista francês Charles de Gaulle. Ao visitar-nos, irritado com vários atrasos, teria dito: ?O Brasil não é um país sério?. Mais tarde surgiram indícios de que o autor da desfaçatez teria sido um brasileiro. Mas Charles de Gaulle teria exarado juízo ainda mais adverso sobre a França: ?Não se pode governar um país que tem 246 variedades de queijo?.
Frases repetidas passam de boca em boca, sofrem alterações e por fim não se sabe mais qual a versão original. Entram para o reino das anedotas. Anedota é palavra que veio do grego anékdota, coisas inéditas, ainda não publicadas. O português tomou do grego o plural de anékdotos. Foi o historiador grego Procópio, que viveu em Bizâncio entre os séculos 5 e 6, o primeiro a publicar anedotas cheias de curiosidade como anexos de sua História das guerras de Justiniano.
Mas duas outras frases famosas podem ser documentadas, de que é exemplo ?Rico ri à toa?. Foi registrada pelo jornalista e poeta Paulo Mendes Campos, nos anos 40, ao receber uma foto do presidente Getúlio Vargas para legendar. Ao ver sua foto com legenda ?Rico ri à toa?, o próprio presidente achou graça no feito do poeta-jornalista. E sorriu mais uma vez.
Getúlio Vargas tornaria célebre outra frase. ?Deixo a vida para entrar na História? está em sua carta-testamento, assinada momentos antes de suicidar-se, na madrugada de 24 de agosto de 1954. O autor da frase usou um eufemismo, ?deixo a vida?, no lugar de ?morro?. Eufemismo veio do grego euphemismós, pela formação eu, bem, bonito, e phemismós, dito, do verbo phemi, dizer. O prefixo eu está presente também em outras palavras do português, como eugenia (boa geração) e eufonia (voz bonita), cujo antônimo é a cacofonia, com outro prefixo, kakos, feio, desagradável. Para os antigos gregos, kakos designava também o estrangeiro, que falava mal o grego, e o aleijado.
Quando a personagem não disse certa frase, mas o jornalista escreve que disse, fica a lenda, que quase sempre prevalece sobre a verdade factual. Pois as palavras voam, a escrita permanece.”