Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Fernando Martins

JORNAL DE NOTÍCIAS

"Cada jornal diário tem o seu público e os seus padrões", copyright Jornal de Notícias, 20/1/02

"José de Almada e Faria é licenciado em Direito e vive em Loures. Confessa não ser um leitor regular do JN, mas diz que, com alguma frequência, sente o impulso de comprá-lo, ?como quem vai em peregrinação a terras do Norte, onde estão todas as raízes paternas?. Admite que o jornal já lhe foi mais estranho. Mas ainda não o entranhou, a ponto de trocá-lo por aquele que não dispensa diariamente. Reconhece, no entanto, que algo está a mudar na relação com o ?Jornal de Notícias?, já que a curiosidade inicial, indiferente, dá lugar (só há dias o consciencializou) a uma análise crítica. Portanto interessada.

Só que a sua crítica é exigente, severa e genérica. Não contextualiza grande parte dos erros, confiante no fácil reconhecimento dessas mesmas falhas por parte dos responsáveis do jornal, nomeadamente pelo Provedor.

Diz José de Almada e Faria, nomeadamente: ?É um jornal estranho, que tanto tenta abordar, com certo aprofundamento, os temas que fazem o momento informativo, como se vira para as notícias das regiões e para o desporto. É como se não tivesse identidade, ou melhor, como se tivesse múltiplas personalidades. Quer ser um jornal nacional e comporta-se como um jornal regional e desportivo. (…) Depois, há nele um incrível desleixo, com notícias que acabam a meio de uma frase, erros inaceitáveis até nos títulos grandes, para já não falar desse verdadeiro desastre de dizerem, em primeira página, que a capital da Austrália é Sidney.?

O leitor de Loures estranha, ainda, que não haja no JN uma rubrica para corrigir os erros da véspera. ?Eu, pelo menos, nunca a vi de todas as vezes que comprei o jornal. E, no entanto, sempre lhe descubro diversos erros por edição. Também nunca vi, publicado, um texto em que alguém usufrua do direito de resposta que a lei garante. Também não existem no JN??

José de Almada e Faria levanta não uma mas uma série de questões. E a cada uma delas, se tratada em profundidade, não bastava uma página. O Provedor tentará, em síntese, abordar os temas que se lhe afiguram mais importantes _ sem prejuízo de, eventualmente, voltar a algum deles numa outra oportunidade, ainda em resposta a Almada e Faria, ou em intervenção suscitada por qualquer outro leitor.

O Jornal de Notícias não atravessa, ao fim de 113 anos de vida, uma crise de identidade. Desde muito cedo que se afirmou pelo privilégio dado à informação e pela defesa daqueles que não encontravam eco para os seus anseios legítimos, para as suas reclamações, para as suas exigências. Onde quer que estivessem, independentemente dos seus credos, da sua raça, do seu estatuto social.

As limitações de comunicação e de difusão fizeram dele, durante muitos anos, primeiro um jornal do Porto, depois o jornal do Norte. Mas o avanço tecnológico, que sempre acompanhou (em alguns casos em termos de vanguarda nacional, como a composição a frio e a edição ?on-line?), possibilitou ao JN o sonho da dimensão nacional, e permitiu-lhe dar passos seguros para a concretização de edições múltiplas. Com a consequente modernização do modelo editorial e das estruturas.

Não é, decerto, uma tarefa acabada. Não o será nunca, já que o JN tentará, sempre, corresponder às exigências dos seus leitores. Acima de tudo essas.

Admite-se que o Jornal de Notícias não corresponda aos padrões de exigência de José de Almada e Faria _ como não coincide, decerto, com os dos públicos dos outros diários portugueses de expansão nacional. Não pode, no entanto, esquecer-se que foi essa linha editorial que fez do JN o mais vendido, o de maior difusão e o mais importante veículo de publicidade da imprensa portuguesa.

Não parece ao Provedor que esta página deva ser tribuna de debate sobre os padrões de qualidade de um jornal. Ou sobre quem, de facto, determina esses mesmos padrões.

O Jornal de Notícias não quer ser o que os outros são. Nem deve querê-lo, enquanto continuar a merecer a marcada preferência dos consumidores portugueses de diários. Tem, é certo, erros que todos lamentamos _ e os seus autores também. Alguns a revelarem uma falta de cuidado que ronda as raias de um profissionalismo débil. O Provedor, a Direcção, o Conselho de Redacção. os editores e os restantes jornalistas têm-no, de uma ou de outra maneira, admitido nestas páginas. Mas a verdade é que, glosando Manuel António Pina, ?ninguém como nós faz tão bem este ?mau? jornal?.

Mas tem o JN outras qualidades que outros não têm, como a quantidade e a diversidade do noticiário. E a espantosa relação de proximidade com os seus leitores. E um pluralismo e uma equidistância que ninguém ousa pôr em causa!

Fazendo um balanço entre virtudes e defeitos, se fosse necessário sacrificar uma das qualidades-esteios do jornal em nome de uma escrita de mais qualidade e de uma revisão mais cuidada _ decerto que nem o Provedor nem os leitores aceitavam a troca!

Essa uma das razões, decerto, porque não há, no JN, uma coluna diária de erratas do dia anterior (em alguns dias seria demasiado extensa!) Fazemo-lo, sim, quando o erro ultrapassa o domínio da ortografia ou da sintaxe. E sempre, sempre que estão em causa o prejuízo de alguém, o seu nome e a sua honra.

A circunstância de José de Almada e Faria nunca se ter cruzado, nas suas romagens ao Jornal de Notícias, com um caso de exercício do ?Direito de Resposta? só abona a favor do JN, certo como é que ele representa um dos valores desde sempre consagrados pelo jornal _ independentemente dos preceitos da Lei e da fiscalização do seu exercício, a cargo da Alta Autoridade para a Comunicação Social.

Nunca foi preciso que alguma vítima das incorrecções do JN invocasse a legislação para que a sua defesa, fosse publicada. Mesmo que não respeitasse alguns dos preceitos formais, tais com meios e prazos de envio.

E nunca o JN cedeu à tentação fácil de iludir o cumprimento da lei, como outros fazem remetendo as posições dos atingidos para os mais recônditos locais do jornal, sem o destaque que o decreto preceitua, com corpos de letras praticamente ilegíveis _ algumas vezes estrategicamente misturados com as cartas à Direcção. Com a complacência que vale pelo consentimento da Alta Autoridade para a Comunicação Social, que segue, aliás, o procedimento do seu antecessor Conselho de Imprensa.

Preocupam o Provedor, como decerto todos os outros jornalistas, os erros em que, infelizmente, o JN vem sendo fértil. Alguns ultrapassam a bitola do descuido e permitem ilações que esses mesmos erros legitimam. Mas são bem mais graves (e felizmente muito mais raras) as falhas de natureza ética e deontológica.

E a vigilância sobre essas falhas é, de facto, a principal missão do Provedor e razão importante do exercício da função."