Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Fernando Martins

JORNAL DE NOTÍCIAS

"?Eppur si muove!?… e os jornais também!", copyright Jornal de Notícias, 9/3/03

"O JN voltou a requalificar a sua imagem. Uns gostaram… outros nem tanto

Em Dezembro de 1633, Galileo Galilei, catedrático em Pisa e em Pádua, membro da Accademia dei Lincei, com toda uma vida votada à Matemática e à Astronomia (foi ele quem descobriu os satélites de Júpiter, com o telescópio que construiu), renegou publicamente as teorias de Copérnico do movimento da Terra. A Inquisição, em Roma, consentiu-lhe essa alternativa à da fogueira, graças ao prestígio científico de que Galileu desfrutava.

Diz a História que, imediatamente depois de ter abjurado, com toda a solenidade, perante os inquisidores, o velho mestre murmurou:

?Eppur si muove (E, no entanto, move-se)!?

O emblemático episódio de Galileu continua a valer no duplo simbolismo do movimento, da mudança, e do respeito que devem merecer as convicções do Homem, tenham elas fundamento científico ou ideológico.

Da evolução do mundo e da genialidade dos homens foi testemunha viva a geração dos meus avós, cuja vida se desenrolou em simultâneo com o aparecimento do primeiro automóvel, com a vulgarização da energia eléctrica e da utilização do telefone, com a sustentação nos céu do mais pesado do que o ar, com a gravação e reprodução do som, com o cinema mudo e sonoro e com o frigorífico e, depois de tantas outras estupefacções que seria fastidioso enumerar, com a chegada do primeiro homem à Lua.

Hoje, quando a ficção científica já não faz abrir as bocas de pasmo e de susto, porque se apaga rapidamente dos léxicos a palavra ?imprevisto?, a mudança rege-se pelos mais diversos imperativos, quase todos de mercado ? e que tendem a antecipar as exigências dos consumidores, perante uma concorrência de agressividade crescente.

Por isso, na senda da teoria dos técnicos de Marketing de que as mudanças devem verificar-se nos períodos de maior estabilidade do produto e nunca em tempo de crise, o JN voltou a requalificar a sua imagem. E não só.

Muitos leitores gostaram… outros nem tanto!

O Provedor volta (embora sem surpresa) a constatar a enorme ligação entre o jornal e os seus leitores, sadiamente exercitada perante o novo formato do ?Jornal de Notícias?.

Algumas reacções, directamente endereçadas à Direcção, vêm sendo difundidas na ?Página do Leitor?. Outras, porém, e talvez porque assumindo-se como críticas e esperando uma mediação que possa conduzir à correcção, foram dirigidas ao Provedor. Mais de uma vintena, entre cartas, mensagens electrónicas e telefonemas.

Numa tentativa de síntese, resumem-se em sete questões as preocupações mais insistentemente manifestadas:

1. ?A mudança é tão grande que este já não é o meu JN?;

2. ?tenho feito um grande esforço, porque estou muito ligado ao jornal, mas não sei, não consigo ler este JN?;

3. ?não é só não saber onde estão as coisas, é não me entender com o jornal, com a letra, com os títulos, com tudo?;

4. ?o JN nunca foi um jornal pretensioso e querem fazer dele, agora, um jornal de referência. Estão a estragá-lo?;

5. ?já da última vez começaram a imitar o DN. Agora é de mais?;

6. ?está um jornal sulista, elitista e ‘snob’. Deixei de gostar?

7. ?o ‘Grande Porto’ perdeu relevo e influência. A cidade, no estado em que está, precisava mais do que nunca de um jornal interventivo, que lhe assinalasse os podres?.

Algumas observações tiveram igualmente por objecto o caderno de publicidade, dado que segundo dois leitores, não assinala, claramente, a que edição pertence, tão-pouco tem data na sua primeira página.

Sobre a apreciação dos leitores, a Direcção, pela voz do director-adjunto José Leite Pereira, considera:

?Muitos leitores têm-se dirigido ao jornal para abordarem o grafismo que adoptámos a partir do dia 1. Sinceramente, e sem que isso signifique menosprezo por posições contrárias, à Direcção têm chegado sobretudo elogios. É óbvio que gostamos de ouvir elogios a uma decisão que implicou algum arrojo e responsabilidade, mas tal não significa que fechemos os olhos e os ouvidos às críticas, algumas das quais, aliás, temos transposto para a página do leitor.

Houve, aliás, uma decisão que invertemos rapidamente quando nos apercebemos de que os leitores teriam razão nos reparos que faziam. Refiro-me ao segundo caderno. Inicialmente, o caderno de anúncios foi pensado para poder ser lido de duas formas: começar pelos anúncios ou pela previsão do tempo, a que se seguiam as páginas especiais e os anúncios de sufrágios. Foi por essa razão que a contracapa e algumas das páginas seguintes (ou anteriores, conforme o início da leitura) apareceram invertidas. Propositadamente. Ora, alguns leitores que começavam por ler os anúncios, chegavam aos sufrágios e encontravam a página de pernas para o ar. Foram vários os que se nos dirigiram mas fomos especialmente sensíveis aos que consideravam que colocar os sufrágios ?de pernas para o ar? era uma falta de respeito. Tão rápido quanto nos foi possível corrigimos a situação, porque a nossa intenção não era ? não poderia ser nunca ? a de menosprezarmos aquela página e menos ainda os sentimentos de quem a lê ou ali anuncia.

?Quanto ao resto, e continuando de espiríto aberto a todas as críticas e pronto a emendar o que se conclua estar realmente mal, parece-me que é necessário deixar passar a espuma da mudança para se fazer uma análise ao novo grafismo do JN. Mas é bom que se entenda que é de grafismo que estamos a falar, porque, no essencial, nada mudou. Como a Direcção teve oportunidade de explicar em editorial, o JN não vendeu, nem venderá a sua alma. Em termos de conteúdo continuamos iguais. E os princípios são os de sempre. O grafismo, sinceramente, parece-me facilitar a leitura: o leitor encontra mais entradas de texto, as matérias estão mais destacadas. As novas secções parecem-me úteis, quanto mais não seja porque nada se retirou, antes se procurou acrescentar.

?O jornal que apresentámos a 1 de Março foi largamente pensado com os nossos consultores da Cases, parceiros de outras mudanças no JN que sempre foram bem acolhidas. O largo tempo de estudo não isenta o projecto de erros, obviamente. Mas, repito, estamos ainda sobre a espuma da mudança. Admito e desejo que, o que se estranha hoje, se venha a entranhar amanhã, para que o JN possa ser, como sempre tem sido, um jornal dos seus leitores.?

As alterações ao grafismo de um jornal, e mais ainda se elas implicam um alinhamento diferente (que deverá corresponder a uma nova filosofia da informação que se oferece) são sempre profundamente ponderadas por quem as defende e por quem as executa ? sabido como é que os hábitos são uma condicionante de peso. Uma mudança profunda vale por que, até que se habitue de novo, o leitor tenha, durante algumas semanas, um novo jornal nas mãos. Com todos os riscos implícitos.

O ?Jornal de Notícias? é, porém, desde sempre, um jornal de proximidade, de afectos, numa relação com dois sentidos e que resiste ao choque da inovação. Atente-se na garantia dada por José Leite Pereira de que a Direcção mantem ?o espiríto aberto a todas as críticas e pronto a emendar o que se conclua estar realmente mal? . E, como reforço, aquele director adjunto afirma: ?Mas é bom que se entenda que é de grafismo que estamos a falar, porque, no essencial, nada mudou. Como a Direcção teve oportunidade de explicar em editorial, o JN não vendeu, nem venderá a sua alma.?

O JN move-se, uma vez mais, tendo por objectivo uma melhoria da qualidade. Os leitores, que são, naturalmente, os destinatários da mudança, continuarão a julgá-la, com o JN, pelo JN. Respeitamos e acolhemos as suas opiniões, num diálogo de aprofundamento de ideias que, aproveitando ao jornal, aproveitará aos que o lêem e aos que nele anunciam."