JORNAL DE NOTÍCIAS
"O estranho mundo do ?faz-de-conta?", copyright Jornal de Notícias, 6/4/03
"Fechar o televisor ou não ler o jornal não acaba a guerra nem sequer alivia as consciências
É verdade que a guerra não completou, ainda, 20 dias, mas também é certo que o seu prólogo foi suficientemente longo para justificar as manifestações de saturação de um número considerável de leitores, que se queixam do excessivo espaço dedicado ao conflito pelos ?media? em geral ? e, em particular, do tempo que as televisões dedicam à invasão do Iraque.
Um dos protestos chegou ao Provedor por telefone, e acabou agravado já que, quem ia deixar o desabafo do ?basta de notícias da guerra?, acabou por ficar a ouvir, enquanto esperava que a linha ficasse livre, nada menos do que o noticiário da TSF?sobre os confrontos no Golfo.
Durante meses desenrolaram-se as batalhas políticas e a sua exploração jornalística, com as previsões da há muito anunciada derrota da diplomacia. Depois, os primeiros bombardeamentos a Bagdad marcaram o início de duas novas guerras: a militar, que continua a matar centenas de inocentes, e a da informação, que visa conquistar talvez o mais importante objectivo dos beligerantes: a opinião pública.
?São muitas guerras juntas. Eu já não leio as primeiras páginas do JN, as que falam do Iraque. Será que não têm outros assuntos para preencher o espaço??, pergunta Maria Judite Mendonça, de Vila Nova de Gaia.
Para João Alberto Silva, da Amadora, a guerra ?contaminou? todo o jornal, porque, ?para além das notícias das batalhas da véspera, também os colunistas, nos seus artigos de opinião, não falam de outra coisa, e muitas notícias das outras secções acabam igualmente por ir lá parar?.
O Provedor entende que alguns leitores comecem a atingir uma saturação, de que as repetições excessivas das Televisões são moldura mais do que justificativa. No fundo, muitas vezes, a leitura dos jornais não é mais do que um prolongamento (e algumas vezes mais um ?replay?) desse noticiário da guerra. Mas, em boa verdade, os ?media?, quaisquer que eles sejam, não podem alhear-se dessa realidade que, nesta altura, condiciona o mundo inteiro.
Que a imprensa deve recusar o papel de repositório de factos que, antes veiculados pelos ?media? da informação instantânea que são as TVs, as rádios e a internet, são recessos e, portanto, já não constituem notícia ? isso é um facto. Mas reconheçamos que jornais e revistas, de uma maneira geral, entenderam que os factos têm que ser por eles apresentados à luz da perspectiva dos seus enviados no terreno, e depois perspectivados e analisados, nas suas causas e consequências, por especialistas.
A globalização atinge, hoje, todo um vasto mundo de interesses, que vai naturalmente da Economia à informação, mas que chega, também, aos domínios da sensibilidade e da solidariedade.
Cada dia mais o ?mundo do faz-de-conta? é fugaz, tão volátil como a falsa felicidade que consente. Não serve de nada dizer ?não? à guerra ? é preciso, sim, ajudar a cimentar a consciência colectiva de que a guerra é sempre uma tragédia, no seu cenário de destruição, de morte, de crueldade e de sofrimento. Como não adianta recusar as imagens dessa mesma guerra. Porque ela existe, está ali ao lado, ao estender a mão para o botão do televisor, a despedaçar crianças ?por engano?.
Tentar fugir à realidade que nos cerca é correr em círculos para o fosso da ignorância, do comodismo egoísta que não nos livrará da inexorável torrente das consequências dessa mesma realidade. Que nos apanhará pelas costas.
Neste mundo em desenfreada corrida, não tarda que as próprias avestruzes desenterrem a cabeça da areia para perguntar: porquê?
O silêncio e a acomodação dos homens não têm lugar nos dias de hoje. É tempo de perguntas, muitas perguntas, tão incómodas quanto possível. Para que alguém explique a legitimidade de matar um povo para dar-lhe uma liberdade que ninguém lhe perguntou se queria.
Pelo menos àquele preço.
A. Agra Amorim, de S. Mamede de Infesta, queixa-se de que na Redacção ignoram muitas das cartas em que aponta casos (como arruamentos em mau estado) merecedores de uma notícia.
Artur Magina, por seu turno, pensa que, a nível do Porto-cidade, o jornal devia ser mais interventivo e atento aos pequenos-grandes problemas do quotidiano.
O JN tem, de facto, uma tradição de mediador entre os cidadãos e aqueles a quem está cometida a trefa de lhes resolver os problemas. Mas os ?buracos? são tantos!
Joaquim Vassalo vive há muitos anos em Lisboa, mas não esqueceu, nunca, a região onde nasceu: a freguesia de Marinhas, em Esposende. Tudo o que lhe fale do Norte, em particular do seu Minho, é uma dádiva. Por isso, desde há muito que compra o JN. Só que se confessa ao Provedor magoado, triste e desiludido?
Diz que a última versão gráfica do jornal lhe roubou não só as notícias do Norte, que, em seu entender, antes havia em maior quantidade, como as notícias da Grande Lisboa, que lhe interessam igualmente dado que vive na capital.
Segundo Joaquim Vassalo, o JN comete um erro em pretender ser uma jornal que serve o sul. ?Aqueles que cá para o sul o compram são os do Norte com saudades da terra. ?
O leitor, que lamenta, ainda, que o Desporto, agora, não publique relatos e outras notícias dos clubes da sua região, apresenta uma sugestão: que possa ser vendida também em Lisboa a edição Norte, deixando aos leitores a escolha.
A edição do Sul é impressa em Lisboa, enquanto que a edição que se vende no Norte é impressa no Porto ? razão que explica a inviabilidade da venda das duas edições na capital."