GOVERNO LULA
“Planalto mantém jornalistas longe do presidente”, copyright Folha de S. Paulo, 12/6/03
“O Palácio do Planalto mudou o formato de cerimônias públicas às quais está presente o presidente da República. Agora, repórteres ficam confinados em um cercado montado no fundo do salão, sem permissão para circular. Segundo a assessoria da Presidência, é ?apenas um teste?.
A Folha contou ontem de tarde as lajes de mármore no chão do Palácio que separavam o cercado dos jornalistas do local onde ficou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O cálculo aproximado é que os repórteres ficaram a 28 metros de distância durante um evento sobre o setor agrícola.
Os repórteres só foram liberados para circular após Lula e os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda) deixarem o local.
No governo FHC, e até a semana passada no governo Lula, a imprensa tinha permissão para circular no Palácio do Planalto durante cerimônias públicas -mas sem entrar na área onde estavam os convidados e o presidente. Essas ocasiões eram a maneira mais fácil de manter contato com ministros e outras autoridades do Poder Executivo.
Desde o início do governo Lula, há uma determinação para que a mídia não se aproxime muito do presidente. ?O povo pode, a imprensa não?, gritava um policial militar em 21 de maio, em Balsas (MA), quando Lula quase foi abordado por repórteres. Agora, a medida também foi adotada dentro do Planalto.”
“Revista revela preocupação estética”, copyright Folha de S. Paulo, 14/6/03
“O nome bonito da revista ?Margem Esquerda? revela que existe nela preocupação estética, daí a expectativa de que não fique confinada somente à margem gauche do riverão Tietê. Oxalá navegue em suas águas as expressões do nacionalismo do Terceiro Mundo como parte fundamental do ?campo anti-capitalista e anti-imperialista?.
A crítica marxista entre nós que não levantar a auto-estima cultural dos brasis não cumprirá sua função crítica, principalmente porque continuamos sob o tacape de governos inestéticos, cuja orientação midiática é o karaokê de programa de auditório.
Neste primeiro número, o melhor da contribuição estrangeira aparece com Perry Anderson, que tem se tornado para a cultura brasileira uma espécie de Waldo Frank inglês, aconselhando aos intelectuais o exercício de ?uma análise cáustica, irredutível e até brutal do mundo tal como ele é?.
Perry Anderson cita a jangada neoliberal ?Blair-Clinton-Cardoso? e alude à perspectiva de Zapata baixar em nosso terreiro.
São excelentes os artigos sobre o governo Lula assinados por Francisco de Oliveira, Wolfgang Leo Mar, José Fiori e Luiz Antonio Magalhães. A essência da era feagaceana é um sistema em que o emprego é mais importante do que o trabalho. E mais: o trabalho não é considerado fonte de geração de riqueza. O seu legado consiste na fragilização do Estado para que as decisões políticas e econômicas sejam tomadas fora daqui. Isso significa que o desafio do governo atual é superar o medo do FMI. Essa é a condição necessária à democratização do país.
Na maré alta do capitalismo videofinanceiro, a revista ?Margem Esquerda? estampa um ?Manifesto? em que falta, no entanto, reflexão materialista sobre as Forças Armadas brasileiras. Os leitores ficarão contentes se a matéria política contemporânea não se traduzir em censura intelectual e estilística, conforme tem acontecido a revistas de esquerda no Brasil.”