Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fim da repetição infernal

TORRES EM FOGO

A diretoria da ABC News disse no dia 18 de setembro que decidiu não mostrar mais o vídeo dos aviões colidindo nas torres gêmeas, das explosões ou do desmoronamento dos prédios. Tais cenas dominaram a cobertura da tragédia em todos os canais na primeira semana após aos ataques terroristas. Dizendo que o uso gratuito dessas imagens é inapropriado, a direção da emissora afirmou que apenas imagens paradas podem ser usadas, a menos que o vídeo seja fundamental para determinada reportagem.

Essa política, segundo John Eggerton e Steve McClellan [Broadcasting & Cable, 18/9/01], é exclusiva da ABC, mas seus executivos afirmam que a reação das outras emissoras, até agora, foi "limitada porém positiva". Kerry Marash, vice-presidente de práticas editoriais da ABC News, convenceu o presidente da emissora, David Westin, a tomar a decisão afirmando que a reprise constante da imagens pode diluir seu significado.

Na NBC News, uma porta-voz disse que a emissora não tem uma política oficial de limite do uso das imagens, mas que os produtores têm consciência de usar as cenas apenas se forem essenciais. A CBS News apresentou resposta semelhante à da NBC. Uma porta-voz da CNN disse que a emissora estará usando as imagens criteriosamente, mas garantiu que não sairão do ar por completo.

PATRIOTISMO EXPLÍCITO

Se a mídia americana tenta reter o excesso de imagens chocantes, não tem freios quando se trata de exibir o patriotismo e deixar bem claro desde o começo de que lado está. A imparcialidade foi para o espaço, as palavras de amor ao país foram pronunciadas com mais fervor e as bandeiras dos EUA tremulam orgulhosas no televisor do cidadão americano em quase todos os canais.

No Fox News Channel, o âncora Jon Scott disse a Wolfgang Ischinger, embaixador da Alemanha nos EUA: "Esperamos trabalhar com seu país na varredura dos terroristas." Lou Dobbs, âncora financeiro da CNN, afirmou que "este país é abençoado com uma economia muito forte e a melhor democracia do mundo". São apenas dois exemplos de uma infinidade.

Cobertura de crises ou guerras, segundo Jim Rutenberg e Bill Carter [The New York Times, 20/9/01], sempre pôs a mídia americana em posição ambígua. Deve ser imparcial e apenas passar informações ou revelar-se incondicionalmente patriótica? Simpatia para com vítimas é típico na cobertura noticiosa, mas a TV guarneceu suas reportagens com a bandeira nacional. Âncoras e correspondentes não hesitaram em conduzir a cobertura pós-ataques pelo ponto de vista dos EUA. O uso dos pronomes "nosso" e "nós" virou lugar-comum. Além das bandeiras no canto do monitor, alguns âncoras adotaram broches com a fita vermelha, azul e branca. Críticos afirmam que tais ações podem intensificar a opinião pública em favor de uma guerra.

Alex S. Jones, diretor do Joan Shorenstein Center on the Press, Politics and Public Policy, da Universidade de Harvard, disse que mostrar certa emoção é compreensível neste momento. Mas, segundo ele, à medida que o governo se prepara para a guerra, os noticiários na TV terão que ser mais vigilantes, deixando os impulsos de lado, principalmente ao tratar de governos estrangeiros que podem não estar em completo acordo com os EUA.

John R. MacArthur, publisher da Harper?s Magazine e autor do livro Second Front: Censorship and propaganda in the Gulf War (Hill & Wang, 1992), afimrou que as emissoras de TV já parecem estar "preparando a nação para a guerra" sem questionar uma série de pontos cruciais do governo americano. De acordo com MacArthur, os canais que estão adornando suas telas com bandeiras estão enviando "sinais aos telespectadores de forma a se presumir que a mídia age como braço do governo, oposta à informação independente e objetiva, como deveria ser".

    
    
                     

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