ESTUDANTES EM SALVADOR
Max Matos Jr. (*)
É com tristeza que constato, mais uma vez, como a imprensa
nacional se comporta como se o Brasil se restringisse a Copacabana
e à Avenida Paulista, relegando o restante do país
às suas curiosidades folclóricas. A cidade de Salvador
foi tomada de surpresa pela manifestação de estudantes
(de escolas públicas, privadas e cursinhos pré-vestibulares,
de todas as idades) que, numa demonstração prática
de cidadania, protestavam contra o aumento abusivo da passagem de
ônibus.
Durante oito dias ? e ainda não parou ? os ônibus
foram impedidos de circular, causando enormes engarrafamentos e
transtornos a uma população que, apesar dos contratempos,
os apoiava. A prefeitura foi obrigada a assinar acordo histórico
com alguns representantes estudantis, com diversas vantagens, mas
que não contemplava a redução da tarifa. O
movimento continuou e parte da imprensa atribuiu-lhe a alcunha pejorativa
de "corpo sem cabeça", no que foi seguida por políticos
e donos de empresa ? que alegavam ter Salvador a tarifa mais barata
do Brasil em comparação a outros estados, esquecendo
(?) estes que o serviço oferecido e o poder aquisitivo do
povo local não corroboram este argumento.
"Acertaram o remédio, mas erraram na dose." O
movimento é mesmo um corpo-sem-cabeça e aí
reside sua força, pois vários grupos independentes
lutam por um objetivo comum, impedindo que supostos "líderes"
concordem com posições não-satisfatórias
tipo "farinha pouca, meu pirão primeiro". Com certeza
este "levante" democrático, mais sincero e espontâneo
do que o artificial movimento batizado pela imprensa ? e daí
sua repercussão na mídia ? de "caras-pintadas",
merecia maior cobertura e reflexão do que os simples "flashes"
a que teve direito. Será que a juventude baiana não
é digna de servir de exemplo?
(*) Professor da rede estadual de ensino de nível
médio de Salvador