FM Lagoinha, projetos de vidas

Se me permitem os editores deste OI, gostaria de fazer deste texto uma homenagem aos grandes amigos que deixo na FM Lagoinha, rádio-escola comunitária. Trata-se de um projeto acadêmico iniciado há quase cinco anos pelo UNI-BH, em Belo Horizonte. A FM Lagoinha começou bem pequena, com cinco pessoas trabalhando. Os alunos faziam de tudo. Operavam a parte técnica, iam para a rua fazer entrevistas, editavam, eram os locutores. Tudo. Hoje, com reconhecimento da comunidade, a FM Lagoinha funciona com cerca de 50 alunos, entre voluntários e monitores.

A construção desse projeto acadêmico tomou como base o amor ao rádio, o apego a um jornalismo que sempre procurou ser criativo e ético e, acima de tudo, a convivência em clima de respeito e solidariedade. Não são aqui apenas palavras com as quais você tenta recriar a realidade. Quem esteve e ainda está na FM Lagoinha sabe dos critérios de seleção e mesmo de permanência. Talento? Vamos descobrir o que cada um tem de melhor. Competência técnica? Temos que habilitar a todos. Caráter e índole? Bem, esse é um critério e tanto.

Mais uma vez, peço permissão para dizer que nesses mais de quatro anos a FM Lagoinha, uma rádio comunitária tocada exclusivamente por estudantes, transformou-se numa verdadeira escola de vida. Acertamos, erramos, fizemos coisas maravilhosas, coisas que preferimos deletar de nossos MDs e de nossas mentes. É um projeto pura e genuinamente pedagógico. Acima de tudo porque todos aprendemos juntos.

Como não poderia ser diferente, muitos dos alunos que passaram pela rádio já se colocam bem no mercado de trabalho. Felizmente, a FM Lagoinha tem sido celeiro fértil de excelentes jornalistas radiofônicos que trocaram o microfone da emissora pelos de rádios como Globo, CBN e Itatiaia.

Explico a homenagem: depois de ter criado e implantado a rádio, deixei a coordenação da FM Lagoinha para assumir outros trabalhos. Considerei importante registrar neste OI que, de tudo isso, um aprendizado importante para mim foi o de que projetos pedagógicos como esse acabam diretamente envolvidos e enroscados com projetos de vidas. A maneira como vi nesses anos alunos priorizarem a FM Lagoinha, colocando-a à frente de tantas coisas em suas vidas, é inevitavelmente contagiante. Sei que a FM Lagoinha continuará sua trajetória vitoriosa. Sei que novos e novos talentos surgirão. Não escrevi esse texto para jogar confetes. Achei que a experiência construída até aqui e que, com certeza, vai continuar pode ser um exemplo importante de como é possível transcender a rotina e escapar das armadilhas colocadas pela burocracia da sala de aula ou mesmo de um laboratório onde só se faz tarefas.

Para o pessoal da FM Lagoinha, toda sorte.