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"Novo ?Manual? é um contrato do jornal com o leitor", copyright Folha de S. Paulo, 10/03/01
"Um modo de dar ao leitor uma idéia da produção do jornal; um contrato do jornal com o leitor; uma disposição autocrítica; e um modo de o jornal assumir a sua identidade. Essas são algumas das definições sobre o ?Manual da Redação? da Folha dadas pelos jornalistas Luiz Garcia, Carlos Eduardo Lins da Silva, Eugênio Bucci e Rogério Ortega, num debate realizado no auditório do jornal, no último dia 20.
A jornalista Renata Lo Prete, ombudsman da Folha, foi a mediadora do evento, que faz parte das comemorações dos 80 anos do jornal e marcou o lançamento da edição 2001 do ?Manual da Redação? -a quarta versão.
Cada participante, à sua maneira, deu uma visão da relação do jornal impresso com o leitorado. Talvez esse tenha sido o mais importante fio condutor do debate.
Processo
Garcia, editor de Opinião de ?O Globo?, ressaltou a importância de dar ao leitor uma noção do processo de feitura do jornal diário. ?Temos a pretensão -talvez a maior das pretensões- de contar às pessoas tudo o que aconteceu na cidade dela, no mundo, na política. E isso dentro de um dia de produção de seis horas, oito horas?, afirmou.
?Com uma iniciativa como a do manual, pelo menos fazemos a seguinte ?carta de intenções? ao leitor: ?Esse é o jornal que queremos fazer, comparem-no a esse que você tem na mão?, disse, ainda, o jornalista de ?O Globo?, que é também responsável pela crítica interna do jornal carioca.
?Um contrato a partir do qual o leitor pode fiscalizar ou cobrar excelência jornalística?, complementou Eugênio Bucci, secretário editorial da Abril.
?É importante lembrar que a informação é uma mercadoria, mas é também um direito.?
Bucci estuda mais aprofundadamente o assunto em seu mais recente livro ?Sobre Ética e Imprensa? (Ed. Companhia da Letras), lançado em novembro.
Primeiro manual
O primeiro ?Manual da Redação? editado pela Folha foi lançado há 15 anos. ?Aquele criou resistência entre os jornalistas, tinha um caráter impositivo?, diz Carlos Eduardo Lins da Silva, diretor-adjunto de Redação do jornal ?Valor Econômico? e coordenador da comissão que redigiu a versão mais atual do compêndio. Lins da Silva participou da feitura e da aplicação da primeira versão.
Os manuais nem sempre são bem-vistos por alguns jornalistas, que os criticam por agrilhoar a criatividade dos textos.
?Hoje, a necessidade de regras que balizem as atividades jornalísticas é quase consensual. Dá uma identidade ao jornal. Houve uma vontade política para que o primeiro manual fosse cumprido. Era quase como uma imposição da profissionalização?, afirma.
?Posso fazer um elogio inquestionável àquele primeiro manual. Quando o vi pela primeira vez, senti inveja, a boa inveja. Queria que tivéssemos (?O Globo’) feito antes?, disse Luiz Garcia, em tom de brincadeira.
Rogério Ortega, coordenador do Programa de Qualidade da Folha, direcionou mais seus comentários à estrutura de aplicação dessas regras no jornal, mas não deixou de lembrar que o manual faz parte de uma política autocrítica do jornal. ?Ainda na faculdade, ouvia muito a crítica de que a Folha era um jornal muito autocentrado, voltado para o próprio umbigo. Creio que isso é mais uma disposição autocrítica.?
Autocrítica
Ortega fez referência a outros meios de exercício dessa autocrítica, lembrando a instituição do cargo de ombudsman, do próprio Programa de Qualidade e da seção Erramos.
O manual já está nas livrarias. Segundo a Publifolha, a primeira edição foi toda distribuída, e uma segunda edição já está indo para o prelo."
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