ELEIÇÕES 2002
“Alckmin Contra Genoino”, Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 14/10/02
“A primeira pesquisa Datafolha de intenção de voto para o governo do Estado de São Paulo no segundo turno mostra Geraldo Alckmin (PSDB) com uma vantagem de dez pontos sobre o petista José Genoino. Considerando apenas os votos válidos, Alckmin tem a preferência de 55% dos eleitores paulistas contra 45% do adversário.
Aparentemente, os que votaram em Paulo Maluf (21,38%) no primeiro turno não migraram em peso para nenhuma das duas candidaturas que restaram, fazendo com que se mantivesse praticamente inalterada a diferença de dez pontos que separou Alckmin de Genoino no primeiro escrutínio.
Embora o tucano desponte como favorito, a situação para Genoino não parece irreversível. O petista tem a seu favor o fato de ter crescido entre as duas últimas pesquisas. No sábado, dia 5, a simulação de segundo turno dava 55% para Geraldo Alckmin (votos totais) e 35% para José Genoino. Agora, o tucano aparece com 50%, contra 42% do petista.
Nesse cenário, ganha especial importância a propaganda eleitoral gratuita. A partir de hoje, com o reinício da campanha no rádio e na TV, ambos os candidatos terão direito a igual tempo: duas aparições diárias de dez minutos.
A forte liderança de Luiz Inácio Lula da Silva no plano federal deve levar Genoino a orientar a campanha para tentar colar mais sua imagem à do colega petista. Alckmin, por sua vez, tem uma vantagem consistente que, se bem administrada, é suficiente para conceder-lhe mais um mandato como governador de São Paulo.
Ainda restam duas semanas de campanha pela frente e, ao que tudo indica, elas serão bastante intensas.”
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“A Largada”, copyright Folha de S. Paulo, 14/10/02
“Não há propriamente surpresa nos resultados da pesquisa Datafolha para a Presidência que este jornal publica hoje. Tendo ficado próximo da vitória já no domingo, tendo obtido o dobro de votos do segundo colocado e tendo permanecido na semana que passou em plena exposição na mídia, era de esperar que a primeira pesquisa indicasse o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, bem à frente do presidenciável do PSDB, José Serra.
Talvez a magnitude da distância entre os dois, de 26 pontos percentuais, tenha ficado algo além do que uma parte dos analistas previa. Mas nem o mais apaixonado eleitor de Serra esperava que o seu candidato figurasse a uma distância pequena de Lula na primeira sondagem.
O Datafolha mostra o retrato do cacife eleitoral que cada presidenciável tem na saída de uma corrida curta, mas densa do ponto de vista político. Nessa corrida, o candidato do PT pode até perder parte de seu cacife e, ainda assim, permanecer com chances de vitória. Mas isso não quer dizer que está descartada a hipótese de José Serra ultrapassar Lula. Para vencer, o tucano terá que anular, em duas semanas, uma vantagem da ordem de 24 milhões de votos.
A tarefa é difícil, porém não é impossível. Nos próximos 12 dias, haverá 24 sessões de propaganda no rádio e na TV nas quais cada candidatura contará com 10 minutos. Além disso, a lamentável recusa do PT em expor o seu candidato a mais debates e a indagações mais críticas pode associar uma imagem negativa a Lula. Segundo o Datafolha, 74% dos eleitores julgam ser muito importante a realização de debates entre Lula e Serra. A propósito do conteúdo dos programas, é provável que a campanha de Serra parta definitivamente para o ataque contra Lula e o PT, mesmo correndo o risco de ver aumentada a rejeição ao tucano.
Já do lado do petista, a necessidade de administrar o seu cacife de intenções de voto deve levar a campanha a evitar ainda mais o confronto.
Lula parece comportar-se como se eleito estivesse. Grande parte dos analistas, dos empresários e da mídia internacional também trata as eleições brasileiras como se ela já estivesse encerrada com a vitória do PT. Mas o fato inequívoco é que nada ainda está decidido. Grandes viradas na política brasileira já ocorreram no passado recente. Em vez de tratar o resultado das eleições como favas contadas, cabe esperar o desenrolar do jogo, pois ainda há lances decisivos a serem jogados.”
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“Mais e Melhores Debates”, copyright Folha de S. Paulo, 12/10/02
“Não faz sentido, do ponto de vista do interesse do público, que os debates entre Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra sejam reduzidos neste segundo turno, como pleiteia a assessoria petista. A recusa a cotejar diretamente questões programáticas e políticas, se confirmada, será um revés numa campanha eleitoral marcada, até aqui, pela ampliação dos espaços e das arenas de debate.
Neste momento, as assessorias dos candidatos e as empresas de mídia dispostas a realizar debates deveriam estar negociando não se haverá ou não os tais encontros, mas o que fazer para melhorar o seu formato e permitir programas mais esclarecedores para o público.
Mesmo tendo contado apenas com quatro candidatos à Presidência, os debates do primeiro turno ficaram manietados. O apego a um formato que obrigava que o tempo disponível fosse equânime e milimetricamente distribuído entre os candidatos e que reduzia as intervenções externas (de jornalistas, especialistas, eleitores etc.) em nada contribuiu para que os embates pudessem ser conclusivos. A forma prevaleceu sobre o conteúdo, e perderam-se oportunidades de imprimir aos programas um tratamento mais esclarecedor.
Agora, com apenas dois presidenciáveis na disputa final, as discussões para avançar também nesse terreno ficaram em segundo plano. Assessores de Lula propõem que seja realizado apenas um debate na TV, por um ?pool? de emissoras, o que soa a estratagema diversionista para furtar-se ao confronto mais livre de idéias.
Estejam os petistas cientes dos riscos que correm ao desprestigiar debates. Parte do eleitorado certamente tomará a atitude como uma fuga de quem teme o confronto de idéias e passará a levar esse elemento em conta na hora de decidir o voto. Além disso, o próprio Lula, num cenário em que Serra suba rapidamente nas pesquisas, poderá vir a precisar dos debates mais à frente.
A despeito dos cálculos eleitorais, o aspecto mais lamentável da recusa petista é que o grande prejudicado com a ausência de mais e melhores debates será o público eleitor e, consequentemente, o país.”
“Opção”, copyright Folha de S. Paulo, 9/10/02
“?A Folha não se emenda, mesmo quando pratica um jornalismo equilibrado, como vem fazendo nos últimos dias. A foto de Lula estampada na Primeira Página da edição de ontem faz qualquer um pensar na imagem de um cadáver. Foi uma escolha, uma opção dos editores. A Folha também enfatizou em sua manchete de segunda-feira que Serra e Lula estão no segundo turno, igualando assim os dois candidatos. Poderia ter destacado que Lula teve o dobro dos votos de Serra. Os leitores desse jornal merecem um melhor jornalismo.? Carlos Tibúrcio, chefe de redação da campanha Lula Presidente (São Paulo, SP)”