ABOBRINHA DA SEMANA
A matéria de página inteira da Folha de S.Paulo sobre as deficiências de dicção do presidente Lula, do ministro Palocci e do deputado Vicentinho é, no mínimo, grosseira ("Lula tem a língua solta, diz fonoaudióloga", domingo, 19/1, caderno Cotidiano, pág. C 8).
Se uma autoridade sofre de gagueira, miopia, insônia, ejaculação precoce, prisão de ventre, tem o lábio leporino, nariz operado, implante dentário, seios de silicone, língua presa ou qualquer outro diferencial físico ou médico é problema da sua esfera privada. Se não corre risco de vida nem tem suas faculdades mentais prejudicadas a questão não é de interesse público. Sua exploração fere o decoro jornalístico.
O homem público precisa ter a sua vida pessoal preservada e quando a imprensa sabe reconhecer seus limites credencia-se aos olhos da sociedade.
O "jornalismo de verão" é um parênteses de leviandade na imprensa do hemisfério norte. Esvaziadas pelas férias e recessos, as pautas ressentem-se, emagrecem os veículos impressos, banaliza-se ainda mais a mídia eletrônica. Mas no calorento hemisfério sul onde o verão estende-se pelo menos ao longo de um semestre não se justificam as liberalidades "setentrionais". Com seis meses de abobrinhas, adeus credibilidade.
Humoristas, chargistas e satiristas, evidentemente, não podem aceitar restrições ? gozar e criticar faz parte das suas atribuições. Mas nos espaços reservados à informação exige-se aquele mínimo de compostura, respeito aos ritos, cargos e, sobretudo, à privacidade. Ao menos para evitar que o secundário substitua o essencial.