Fórum de Professores quer participar

O Ministério da Educação divulgou e os jornais deram um destaque aos novos parâmetros de avaliação do ensino superior no país. As opiniões divulgadas daqueles que analisaram os novos procedimentos e que não participaram da comissão que produziu o documento retratam um retrocesso no processo de avaliação. Houve inclusive manifestação curiosa de estudantes, que distribuíram caranguejos na frente do prédio do ministério, em Brasília, em clara demonstração de reprovação aos novos parâmetros.

O novo sistema, como foi anunciado no documento "Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior" (Sinaes), da maneira como foi concebido e organizado, ou seja, por um grupo representativo de todos os segmentos que participam da estrutura de educação universitária no país, veio para ficar. A antiga estrutura (o Exame Nacional de Cursos, ou Provão, a Avaliação das Condições de Ensino e o programa Paiub) formatou um sistema de avaliação do ensino superior que, se não provocou mudanças estruturais nas instituições de ensino superior, pelo menos despertou muita preocupação e mudanças de atitude e procedimentos ? provando que o ensino superior no Brasil necessita de acompanhamento rigoroso e sistemático. O conjunto de avaliação atingiu seus objetivos e deveria ser melhorado, não extinto.

O Sinaes e o chamado Paideia (Processo de Avaliação Integrada do Desenvolvimento Educacional e da Inovação da Área) deveriam, preliminarmente falando, ser revistos: sua base teórica é ampla, mas na prática não promove a necessária aferição da qualidade do ensino superior. Mas o sistema será adotado no próximo ano, após sua aprovação no Congresso Nacional ? ou antes, por meio de medida provisória do presidente da República, o que parece ser mais provável, dada a urgência de implantação do novo sistema, para acomodar os interesses econômicos que movem as instituições de ensino superior.

Nessa perspectiva, o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo tem uma tarefa e uma importância capital. Em nenhum outro momento, desde que foi concebido em 1994, num seminário do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Unicamp, por iniciativa do professor José Marques de Melo, o Fórum foi tão necessário como agora, para contribuir num processo de avaliação eficaz dos cursos de Jornalismo. O Fórum Nacional de Professores de Jornalismo tem papel importantíssimo no conjunto do novo sistema de avaliação da educação superior. Desde 2001 o Fórum tem se reunido de forma sistemática, congregando professores, pesquisadores e profissionais de jornalismo para discutir fundamentalmente a formação superior em Jornalismo.

A partir deste ano, os pesquisadores de jornalismo podem contar, ainda, com espaço próprio para debater a pesquisa na área, embora o Fórum privilegie o debate da pesquisa como processo inerente à formação. Em 2004 o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo vai se reunir na Universidade Federal de Santa Catarina, entre os dias 18 e 20 de abril, na sua sétima edição, para debater "Os desafios do ensino de Jornalismo na transição tecnológica". Como a qualificação do ensino de Jornalismo passa também por sua avaliação externa e auto-avaliação, o debate sobre o Sinaes será um momento privilegiado do encontro.

É necessário que o Fórum conheça todos os itens e perspectivas do Sinaes para que esse sistema não produza engodos no campo da formação superior em Jornalismo e favoreça tudo aquilo que seus integrantes repudiam, como o exercício irregular da profissão, a existência de laboratórios precariamente estruturados ou ainda pior, a inexistência de laboratórios, a falta de qualificação acadêmica dos professores e outras situações e ocorrências. Será importante também que os participantes do próximo encontro se comprometam a acompanhar todos os processos avaliativos. Para isso o Fórum e seus integrantes devem ter voz ativa na SESu e no Inep, organismos responsáveis pelos processos de avaliação, para que o sistema não produza deformações nas estruturas dos cursos.

O Fórum tem responsabilidades no sentido de preservar a qualidade mínima da formação jornalística. Essa responsabilidade está agora estendida ao novo sistema de avaliação, se este for efetivamente concretizado, para evitar que menospreze a qualificação acadêmica, principalmente nas instituições privadas, e caracterize como insignificante a pesquisa no ensino universitário. Em outras palavras, professores com mestrado ou doutorado serão considerados caros para a estrutura das escolas, sem necessidade ou obrigatoriedade de mantê-los, e a pesquisa terá seus recursos minguados ou extintos em comparação com as necessidades dos processos de ensino.

O encontro do Fórum de Professores de Jornalismo de 2004 deve reservar um momento para o debate do sistema de avaliação, não poderá se omitir nessa questão. Deve também produzir um documento sobre o assunto, pontuando suas posições, e encaminhá-lo ao órgão responsável pelo Sinaes. Nesse ínterim cabe aos participantes do Fórum a reflexão, o debate e a crítica ao sistema, como forma de contribuir para a busca da eficiência da avaliação e até mesmo sua reformulação.

No que tange ao ensino de Jornalismo, as representações de categoria formalizadas na Fenaj, no Fórum de Professores de Jornalismo, na incipiente Sociedade Brasileira de Pesquisadores de Jornalismo (SBPJor) e na Enecos devem estar vigilantes para preservar um sistema de avaliação eficaz e que produza resultados.