DIPLOMA EM XEQUE
"Juiz mantém o fim da exigência do diploma" copyright Folha de S. Paulo, 12/12/01
"O TRF (Tribunal Regional Federal) de São Paulo manteve ontem a suspensão em todo o país da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para a obtenção do registro profissional no Ministério do Trabalho.
A decisão foi do juiz federal Manoel Álvares, que negou os dois pedidos de liminar em recurso de autoria da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e da AGU (Advocacia Geral da União).
A 4? turma do tribunal será a responsável pelo julgamento final dos recursos -não há previsão de quando isso pode ocorrer.
A determinação em primeira instância da juíza Carla Rister, da 16? Vara Cível, continua valendo: a União não pode exigir o diploma, fiscalizar o exercício da profissão ou autuar profissionais.
Os argumentos da Fenaj e da AGU, segundo o juiz, não justificam a necessidade de anular a decisão liminar da juíza. Para ele, a discussão é da ?mais alta relevância?, mas a liminar não implica ?perigo de lesão grave?.
?[A Fenaj] poderá desenvolver normalmente suas atividades (…), dentre as quais destacam-se a defesa da liberdade de imprensa e a busca da democratização da informação.?"
CAUSOS
"O rei dos ?causos?" copyright Folha de S. Paulo, 16/12/01
"Em Minas Gerais, os ?causos? são equiparados às mais elevadas criações literárias. Em São Paulo, ?causos? são mentiras grandes. Esse racionalismo é um dos responsáveis pela falta de prazer na vida do paulistano.
Ao longo da minha vida, desde Poços de Caldas, convivi com contadores de ?causos? fantásticos. Mas, em São Paulo, mesmo com seu cartesianismo cético, conheci contadores de ?causos? maravilhosos.
Tem aquele palestrante requisitado, que dizia ter feito antropologia na Austrália, ter vivido com uma tribo indígena na Amazônia e implantado o sistema de consórcios nos Estados Unidos. E olha que ele faz mais palestras do que reverendos fazem cultos.
Conheci outro, filho de industrial reputado, de São Paulo, que foi morar em Portugal e me contava que tinha participado do desenvolvimento do ?cadcam? (sistema sofisticado de software para desenho industrial) e havia sido parceiro de John Cage em música concreta. Ele contava e eu ficava babando: ?Conta mais, conta mais!?. Outro dia, um se apresentou como filho do dono da Gol, companhia aérea, e fez o maior sucesso.
Mas igual a Alencar Mesquita nunca houve nem haverá, com a notável exceção do barão de Munchausen.
Conheci Alencar Mesquita no início de minha carreira televisiva. Eu era chefe de reportagem de economia do ?Jornal da Tarde? e fui convidado pelo jornalista Alberto Helena Jr. para participar de um programa de entrevistas na TV Record dos Machado de Carvalho. Havia dois entrevistadores-âncoras -ele e o velho Wilson Fittipaldi. Depois, para cada área, um entrevistador especialista.
Um dia aparece no programa o Alencar Mesquita, apresentado como ex-membro da assessoria econômica de João Paulo dos Reis Velloso, ministro do Planejamento. Naqueles tempos, início dos anos 80, a assessoria do Velloso era o que havia de melhor.
A entrevista foi um tanto truncada. A cada pergunta econômica, Mesquita rebatia com a máxima ?eu não quero tecnicalidades, eu penso a economia politicamente?, mas não soltava nenhum pensamento político.
Terminada a entrevista, ele me convidou para jantar. Pagou, depois me pediu carona para o hotel onde estava hospedado. Disse que seu Ford Landau estava na oficina. Mas me pediu para deixá-lo no largo Paissandu, local que não estava à altura de tão reputado economista.
No dia seguinte, mandei uma pauta para a sucursal de Brasília indagando sobre ele. Ninguém o conhecia, muito menos a assessoria econômica de Velloso. Durante dois meses ele ligou para mim, querendo mandar artigos para o jornal. Por precaução, alertei outras áreas do jornal para o excesso de imaginação de Mesquita. Escapamos, mas outros veículos, não.
Nos meses seguintes, Mesquita participou com o deputado Herbert Levy de um ?Crítica e Autocrítica?, no qual se saiu muito bem. Deu entrevista para revistas semanais, para alguns jornais reputados. Virou formador de opinião, como muitos que pululam na mídia.
Um dia encontro a Hermínia Brandão, repórter minha conhecida, indignadíssima com seu editor. Disse que havia entrevistado um tal de Alencar Mesquita, reproduzido fielmente o que ele havia dito. Depois descobriu-se que era só batatinha, e Mesquita ligou para o editor dizendo que a repórter tinha deturpado suas declarações.
A Hermínia me dizia: ?Tenho certeza de que ele falou o que publiquei?. Aí eu lhe contei minha história com Mesquita. Disse que ela devia avisar ao editor que ele era contador de ?causos?.
Ela saiu vitoriosa da minha sala e voltou cabisbaixa: ?O editor disse que é só ele encontrar um sólido economista conservador para a esquerda começar a campanha de difamação?. E me disse que Alencar Mesquita tinha sido contratado para ajudar na reformulação da editoria do jornal.
Quase caí sentado, e a surpresa só não foi a maior de minha vida porque, dias depois, apareci na FGV de São Paulo, para conversar com meu amigo Alkimar Moura, e dou de cara com o Alencar Mesquita. ?O que você está fazendo aqui??, perguntei. E ele: ?Sou professor daqui, não sabia??.
Entrei aturdido na sala do Alkimar, que me disse que o diretor da escola tinha recebido um telefonema do economista Adroaldo Moura da Silva, recomendando o Alencar, e o tinha contratado. Mas os alunos andavam indignados com as aulas.
Mais um mês, estoura a notícia: Alencar Mesquita preso, acusado de falsidade ideológica. Nem curso superior tinha. Descobriu-se que ele ligava para pessoas imitando a voz de Adroaldo, Velloso, Paulo Yokota e até do Simonsen, recomendando o grande economista Alencar Mesquita.
Foi preso, mas não se rendeu. O editor do jornal, solidário com a causa, mandou um repórter entrevistá-lo. Ele se declarou vítima de uma conspiração das multinacionais, do Pão de Açúcar e minha. Fiquei todo orgulhoso da companhia, mas uma certa solidariedade profissional tirou meu nome da entrevista do Alencar.
Hoje, tenho plena certeza de que os tempos passarão, outros contadores de ?causos? surgirão, mas nenhum chegará aos pés do maior de todos: o inigualável Alencar Mesquita, um clássico."
SHOW DO MILHÃO
"Políticos tentam sorte em ?Show do Milhão?" copyright Folha de S. Paulo, 12/12/01
"Petistas e pefelistas ajudando uns aos outros para ganhar R$ 1 milhão. Essa cena aconteceu na tarde de ontem em São Paulo, durante a gravação do ?Show do Milhão?, do SBT. A convite de Silvio Santos, 12 políticos responderam a perguntas sobre conhecimentos gerais para o programa, que irá ao ar no dia 30.
Três foram sorteados para responder às perguntas individualmente. Os demais -os governadores Olívio Dutra (PT-RS), Albano Franco (PSDB-SE), César Borges (PFL-BA), Hugo Napoleão (PFL-PI), Esperidião Amin (PPB-SC) e Jaime Lerner (PFL-PR) e os deputados federais Roberto Jefferson (PTB) e Aloizio Mercadante (PT)- formaram um time.
Quando o grupo já tinha conquistado R$ 20 mil, o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB), convidado de última hora, não soube responder como se chama o estudioso dos santos (hagiólogo). O time teve de começar de novo.
?Malufista é assim: prejudica o petista?, afirmou Mercadante.
Entre os três sorteados, o governador Anthony Garotinho (PSB-RJ) foi o que se saiu pior: levou para casa apenas R$ 15 mil. Ele pediu para pular uma questão sobre o que era a sigla H2O (símbolo da água) e foi eliminado por não saber o que é algesia (sensibilidade à dor).
O vencedor foi o deputado federal Marcondes Gadelha (PFL-PB), que parou nos R$ 500 mil. Em segundo, ficou o governador Marconi Perillo (PSDB-GO), com R$ 200 mil. Os demais participantes dividiram R$ 100 mil. O dinheiro deve ser doado a instituições de caridade."
ESCOLINHA CHEGA AO FIM
"Globo acaba com ?Escolinha? de Chico Anysio" copyright Folha de S. Paulo, 12/12/01
"Durou menos de um ano a tentativa da TV Globo de ressuscitar a ?Escolinha do Professor Raimundo?. Anteontem, a produção do programa de Chico Anysio, exibido às 17h30, foi informada de que a atração sai do ar em 2002. As gravações acabaram há uma semana. A informação foi confirmada pela assessoria da Globo.
Pouco menos da metade do elenco de 20 atores deverá ser dispensada. Os atores que têm contrato por tempo determinado, como Chico Anysio, permanecerão empregados -a Chico, a direção da emissora encomendou um novo projeto. Os 14 redatores continuarão em ?Zorra Total?.
Com a extinção de ?Escolinha?, dois parentes de Chico Anysio ficam fora do ar: o filho Lug de Paula e a irmã Lupe Giglioti. No programa, também atuavam a nora Heloísa Perissé (mulher de Lug) e a ?ex? de Chico Alcione Mazzeo.
Oficialmente, o programa não sai do ar por corte de custos ou por baixa audiência, mas porque a emissora avalia ?Escolinha? como uma fórmula desgastada, incapaz de alavancar o ibope vespertino com o público-alvo de adolescentes. O programa vem dando 15 pontos no Ibope, a mesma audiência de ?Sessão da Tarde?, mas metade de ?Malhação?.
A partir de abril, o horário de ?Escolinha? será ocupado por um programa para jovens, provavelmente um ?game show?. Em janeiro, a cúpula da Globo deve escolher o projeto substituto."