MÍDIA ESPORTIVA
Guilherme Estanislau do Amaral (*)
Li a resposta do Sr. Milton Neves [ver remissão abaixo] e fiquei abismado com o seu conteúdo. Ele fugiu do ponto central da crítica, que foi a sua falta de ética na escolha do técnico da Seleção Brasileira. O mais grave é ele pactuar segredos com uma figura nefasta como Ricardo Teixeira, presidente da CBF, que mantém relações comerciais com a Traffic, que por sua vez é parceira da Record, onde trabalha o Sr. Milton Neves. Será possível que seus ouvintes não tenham o direito de criticar sua postura ética? Será que não existem motivos suficientes para isto? Este tipo de atitude não prejudica sua imagem?
Ele me ataca pelos detalhes, que, diga-se de passagem, fiz questão de salientar que poderiam estar errados, e foge do foco da crítica. Gostaria que ele soubesse que não sou surdo ou mentiroso e que apenas tenho a capacidade de interpretar as atitudes de figuras públicas. Existem jornalistas dos quais sou "fã", como Gilberto Dimenstein, Clovis Rossi, Carlos Heitor Cony, Eliane Cantanhêde, Juca Kfoury etc, mas tenho por hábito ler, interpretar e formar minha opinião, que nem sempre coincide com a deles.
Acredito que eles não me chamariam de surdo ou mentiroso por discordar de alguma de suas opiniões, pois são jornalistas de alto nível. Não tenho procuração para falar em seus nomes, mas acredito que, neste caso, eles devem ter opiniões muito próximas da minha. Não preciso de opiniões corporativas, como da ACEESP, para formar minha própria. Caso eu precise de alguma opinião mais abalizada sei muito bem onde procurá-la. Gilberto Dimenstein publicou pesquisa em que se perguntava quem fala mais a verdade, e os jornalistas ficaram com apenas 7%. Parece um resultado muito baixo para profissionais que trabalham na busca da verdade. Isto vem provar que precisamos saber onde e como procurar a verdade. Será que nesta mesma pesquisa, se fossem colocados os jornalistas esportivos, em vez de jornalistas, o resultado não ficaria abaixo dos 7%? Será que atitudes como a do Sr. Milton Neves não ajudam a prejudicar ainda mais este resultado?
O curioso é ver seu medo de responder ao Juca Kfoury, a quem ele considera um grande jornalista esportivo. Ele prefere "bater" na Soninha, que teve problemas recentes com a polêmica sobre uso de maconha. Ele tenta passar que este problema ético é de "jornalista pobre e invejoso".
Eu viajo todo fim de semana para meu sítio perto de Piracicaba e volto ouvindo futebol. Minha esposa quer me matar (talvez ela tenha razão), já discuti várias vezes pelo direito de ouvir o Milton Neves no rádio. Por este motivo me considero absolutamente à vontade para falar, pois não gostaria de vê-lo na "sarjeta". Ao contrário, quero que ele não cometa erros graves, para que possamos continuar a ter prazer em ouvi-lo. Se ele não tomar cuidado sua credibilidade diminuirá e, na seqüência, seu faturamento também.
Acredito que se trabalhasse para ele daria exatamente este conselho: não corra o risco de perder seu maior bem, que é a credibilidade entre seus ouvintes. Este tipo de relação com o poder é perigoso para seu bolso e para seus ouvintes, que podem achar que o importante é ter um bom relacionamento com o poder.
Um dia o Sr. Milton Neves disse que o jornalismo esportivo era considerado de baixo nível, mas muita gente boa começou aqui (Reali Júnior, Joelmir Beting etc). Acredito que Juca Kfoury só é jornalista esportivo porque quer, pois tem nível suficiente para ser jornalista político, o "filé mignon" do jornalismo. Portanto, o problema não é onde o jornalista trabalha, mas sim como ele trabalha. Posso afirmar, categoricamente, que o Sr. Milton Neves não está trabalhando bem como jornalista esportivo, e suas chances de poder trabalhar em alguma área mais nobre do jornalismo são nulas, pois não dá para imaginá-lo entrevistando o presidente da República e lhe dando de presente um kit de refrigerante ou de barbear.
Mas isto não é problema, porque hoje em dia ele se dedica muito mais a sua "carreira de marqueteiro" do que àquela que um dia o projetou no rádio esportivo.
Espero que ele reflita sobre seu comportamento, pois errar é humano. Mas ele não teve, até agora, a grandeza de admitir que pisou na bola e está sendo muito mal-educado com este seu ouvinte.
Acredito que seria importante que Milton Neves soubesse que eu realmente existo: sou engenheiro, 42 anos, casado, dois filhos, e a equipe do Observatório tem meus telefones.
(*) E-mail: <guilherme@tarsiladoamaral.com.br
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