JB EM CRISE
"Advogado sai da negociação do JB", copyright Globo Online, 20/01/01
"O advogado Sérgio Bermudes enviou anteontem a seus clientes Leda e Manoel Francisco do Nascimento Brito, controladores do ‘Jornal do Brasil’, uma carta comunicando seu afastamento do processo de venda do jornal ao empresário Nelson Tanure, dono da incubadora de empresas de Internet DocasNet. Bermudes não quis comentar seu afastamento, mas, segundo fontes do mercado, o advogado deixou o caso por considerar os contratos entre o JB e a DocasNet juridicamente inconsistentes.
– Qualquer credor do JB que quiser questionar o negócio na Justiça não teria dificuldades – diz uma das fontes.
Uma outra grande banca de direito comercial, consultada por uma das partes da negociação sobre a consistência do contrato, considerou os termos muito frágeis. Ontem, os representantes da família Nascimento Brito e de Nelson Tanure passaram o dia dando os toques finais no acordo que vai selar a venda do jornal. Nos últimos dias, as negociações que eram apenas para a venda da Agência JB evoluíram para a criação de uma nova empresa, chamada Multimídia, que terá usufruto da marca ‘Jornal do Brasil por 50 anos. Para isso, Tanure desembolsaria cerca de R$ 70 milhões.
Esta empresa exercerá o controle administrativo do jornal e da Agência JB, dona do JB Online. Na empresa nova, Tanure terá uma participação minoritária, algo entre 30% e 49% do capital total, ficando o restante nas mãos de José Antônio do Nascimento Brito. Embora minoritário, caberá a Tanure indicar o executivo que vai administrar a nova empresa.
É exatamente a criação dessa nova empresa o ponto nebuloso do contrato. Segundo um advogado especialista em aquisições, a separação do ‘Jornal do Brasil’ numa empresa limpa, a Multimídia, e outra carregada de dívidas – R$ 700 milhões, segundo o próprio jornal – é passível de questionamento pelos credores, que podem exigir que a nova empresa arque com as dívidas do ”Jornal do Brasil”. Afinal, uma empresa que tem dívidas cobradas na Justiça não pode se desfazer de seus bens no meio do processo. E a marca de uma empresa é um bem.
O contrato garante o afastamento definitivo de M.F. do Nascimento Brito do jornal. Segundo Tanure, as exigências feitas por Nascimento Brito estavam adiando o fechamento do negócio. José Antonio Nascimento Brito permanece presidente do Conselho Editorial do grupo, o que lhe dá poder para indicar os jornalistas que vão dirigir o jornal e a agência.
Há algumas semanas, Tanure e José Antônio jantaram com o jornalista Mário Sérgio Conti e o convidaram para ser o novo diretor de redação do JB. De lá para cá, trocaram três telefonemas e no último, de iniciativa de Tanure, Conti teria dito que aguardaria o desfecho do negócio para, então, emitir uma posição final.
O diretor de redação do JB, Fritz Utzeri, informou ontem aos jornalistas que o pagamento dos salários atrasados sairá até segunda-feira. Desde terça-feira, os jornalistas do JB estão fazendo paralisações diárias em protesto contra o atraso dos salários. Ontem, os jornalistas desligaram os computadores e interromperam o trabalho por 45 minutos durante o dia e uma hora e dez minutos à noite."
"JB vende 49% das empresas de tempo real", copyright Valor Econômico, 22/01/01
"Na tentativa de diminuir sua dívida de R$ 700 milhões, o Jornal do Brasil vendeu 49% das empresas de tempo real do grupo ao empresário Nelson Tanure, dono da DocasNet – braço para tecnologia e internet da Docas Investimento, do Rio de Janeiro.
O valor do negócio não foi revelado e o empresário Tanure diz que, por acordo, somente os Nascimento Brito falam sobre a transação. Comenta-se que seria algo em torno de R$ 70 milhões a serem usados para pagar a dívida do jornal com a Previdência Social. Com o pagamento, o JB poderá pedir o refinanciamento do restante da dívida através do programa Refis do governo federal.
A nova empresa vai reunir os domínios jornaldobrasil.com.br, jbonline.com.br e jb.com.br, a digitalização dos acervos fotográfico e editorial do jornal."
"Tanure fecha negócio com o ‘JB’", copyright Folha de S. Paulo, 20/01/01
"Depois de seis meses de negociação, a família Nascimento Brito, há 51 anos proprietária do ‘Jornal do Brasil’, assinou na noite de quinta-feira um contrato de licenciamento e usufruto das marcas do grupo ‘Jornal do Brasil’ para a Companhia Brasileira Multimídia, uma empresa controlada pelo empresário Nelson Tanure. O negócio chega a R$ 70 milhões. Nessa nova empresa, José Antônio Nascimento Brito, atual presidente do JB, terá uma participação acionária expressiva.
Os documentos finais, entre eles a definição dos percentuais de Tanure e de Nascimento Brito na nova empresa, serão assinados em até 30 dias. O que ficou acertado é que Tanure terá a maioria do capital, entre ações ordinárias (com direito a voto) e preferenciais (sem direito a voto). Nascimento Brito terá a maioria das ordinárias. Mas as ações preferenciais de Tanure poderão ser convertidas em ordinárias.
O grupo Tanure pretende, já a partir de segunda-feira, participar das decisões do grupo. O empresário também pretende anunciar em breve a contratação de um experiente e renomado jornalista para comandar a Redação.
No acordo assinado pela família Nascimento Brito, a empresa ‘Jornal do Brasil’ ficará com o prédio situado na avenida Brasil, 500, no centro do Rio, e mais as dívidas, estimadas em R$ 750 milhões. O velho ‘JB’ terá uma receita garantida da nova empresa, a Multimídia, pelo uso da marca ‘Jornal do Brasil’.
Será com essa receita que o velho ‘JB’ pretende ter acesso ao Refis (Programa de Refinanciamento Fiscal). O Refis permite anistia de juros, redução de multas em até 75% e parcelamento de dívidas em até dez anos.
O velho ‘JB’, também pelo que foi assinado na quarta-feira, passa a ser controlado por José Antônio. A empresa sofreu um aumento de capital de R$ 400 mil; os pais de José Antônio, Leda e Manoel Francisco do Nascimento Brito, tornam-se minoritários.
A estratégia de Nelson Tanure para recuperar o ‘JB’ está fincada em dois princípios: reforçar a redação e o departamento comercial e obter resultados operacionais positivos a curto prazo.
A equipe comandada por Tanure pretende também valorizar os jornalistas que já trabalham no jornal. A idéia é de, pouco a pouco, transferir os jornalistas do velho ‘JB’ para a nova empresa que ficará a frente do jornal."
"‘Blochização’", copyright Coleguinhas, uni-vos, 22/01/01
"Não parece haver mais dúvidas: o JB entrou em processo de ‘blochização’ acelerada. Os eventos desta semana – paralisação da redação, diretor financeiros desrespeitando trabalhador, manobras jurídicas nebulosas – em tudo fazem lembrar o que ocorreu na fase final da Bloch Editores.
Para quem não se lembra, em fins de 97 (logo depois da crise na Rússia, ou terá sido a da Ásia?, que jogou os juros na lua), a Manchete começou a atrasar salários, dívidas judiciais e pagamento de outros fornecedores. O processo, lento e doloroso, acabou por levar, após mais de um ano de agonia, ao fim da empresa, com um prejuízo notável para os jornalistas, radialistas e demais funcionários, e nem tanto assim para Jaquito Kapeller, o Jaquito do Russel.
A situação do JB segue este padrão de calotes e também um outro, o das armações societárias. A diferença é que, no caso da Manchete – até pela menor visibilidadade da empresa – as jogadas de criação, divisão e sumiço de empresas foram feitas sem causar marolas. Quando se viu, a Bloch já tinha se partido em quatro empresas diferentes, que respondiam e não respondiam, dependendo da conveniência dos Kapeller e dos Bloch, pelas dívidas umas das outras, num emaranhado criado exatamente para fugir se não de todos, de 90% dos creedores.
O que os Bloch e os Kepeller tiveram tempo para fazer, os Nascimento Brito estão sendo obrigados a fazer a toque de caixa. Por isso, a armação parece estar ficando mal-ajambrada. A maior prova de que este açodamento está fazendo com que as jogadas sejam mal armadas é a saída do advogado Sérgio Bermudes das negociações com Nélson Tanure, segundo matéria de Gilberto Scofield, publicada no Globo. Quem é do Rio sabe que Bermudes é um dos advogados mais cascudos do mercado: faz quase qualquer coisa pelos clientes em se tratando de armações societárias. Além disso, é o capa-preta de confiança dos Nascimento Brito há décadas.
Bermudes, segundo se comenta, tirou o time das negociações porque sentiu que o acordo seria facilmente contestado na Justiça pelos credores do JB. Não saco de filigranas legais, mas me parece que o advogado percebeu que, com o aprendizado do Caso Bloch, os credores ficaram mais espertos e já devem estar se precavendo para não serem passados para trás novamente.
Esta precaução, creio, é a melhor arma dos profissionais do JB. Juntamente com o Sindicato, que deve ter aprendido muito com as voltas tomadas do Jaquito, os jornalistas da empresa precisam ficar de olho nas manobras dos Nascimento Brito e de Tanure (uma boa idéia talvez seja, por exemplo, contratar um advogado especialista em direito societário a fim de acompanhar em cima as armações). Afinal, como o pessoal do JB já deve ter sacado, os donos da empresa não estão nem um pouco preocupados com o iogurte das crianças dos funcionários.
Sobrevida – Como sempre acontece nestes casos, nem todo mundo sai perdendo com o emperramento da negociação Nascimento Brito-Tanure: Fritz Utzeri ganhou pelo menos algumas semanas na cadeira de diretor de redação. Pelo enquanto o acordo não for assinado, ele fica, mas já sabendo que Tanure não o quer mandando na redação.
Tanto é assim que o pretendente à compra do JB já tem até um Plano B para o caso de Mário Sérgio Conti não aceitar o convite feito há algumas semanas – Tanure já teria sondado um profissional respeitado, com grande passado no JB e que mantém profundas relações sentimentais com a empresa para sentar na cadeira na qual hoje se encontra Fritz. Como este profissional também tem uma certa experiência na Rede, ele realmente cairia como uma luva no projeto tanuriano de transformar o JB numa big marca virtual, com grande capacidade de geração de conteúdo multimídia.
Picadinho
ABTA vai à luta pelo capital estrangeiro – A Associação Brasileira de Telecomunicações por Assinatura (ABTA) decidiu, em assembléia, que vai batalhar pela mudança na Lei do Cabo (Lei 8.977 de 06/01 de 1995) que permita a entrada de investidores estrangeiros nas empresas de TV a cabo. A proposta foi aprovada por 60 a 25 contra os desejos das empresas ligadas à Rede Globo. Para tentar adiar mais uma vez a tomada de decisão, o Império usou de um expediente conhecido: tentara ampliar a proposta para que fosse alterados outros pontos da Lei do Cabo. Mas como os Marinho não estão sozinhos no quesito malandragem, os outros criaram uma daquelas comissões de trabalho que não fazem nada para estudar estas idéias. A divergência rola porque o Império está capitalizado e investindo, mas os os outros já estão com a língua de fora, necessitando urgementemente da chegada do 7º de Cavalaria com os reforços econômicos.
Fim de linha – O serviço brasileiro da ‘Voz da América’ está na marca do pênalti. A decisão, ainda não oficializada, já foi anunciada pelo diretor do serviço brasileiro, Sandy Unger. No ar há quatro décadas, a ‘Voz da América’ é um serviço de notícias mantido pelo governo norte-americano. Até outubro de 1999, a empresa era patrocinada pela Unied States Information Agency (USIA), a agência de informações do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Desde então, tornou-se independente, embora ainda vinculada ao governo. A ‘Voz da América’ transmite notícias sobre esportes, música, negócios, saúde, ecologia, política e assuntos da política externa americana. No Brasil, grandes rádios, como Bandeirantes, Jovem Pan, CBN, Nacional, Eldorado e Itatiaia, reproduzem seus programas. Com o fim do subsídio, em 2000, 30% dos funcionários da empresa já haviam sido demitidos.
Tá feia a coisa no Uruguai – Não é só no Brasil que as coisas não andam boas para os meios de comunicação. No Uruguai, está ainda pior. Nove veículos de comunicação (sete jornais, uma revista e uma rádio) fecharam as portas, 300 postos de trabalho foram extintos e houve um encolhimento de 46% nos investimentos publicitários, sem contar os 50% de queda na publicidade estatal, entre 1999 e 2000. Ano passado, só em Montevidéu, foram fechados os jornais diários ‘La Mañana’, ‘El Diario’ e ‘Primera Plana’ e quatro semanários – ‘El Díiacute;a’, ‘Tres’, ‘Causa Abierta’ e ‘La Prensa de los Viernes’. Também cerraram as portas a revista mensal ‘Guambia’ e a rádio Emisora Delsiglo. Os salários dos que ainda ficaram empregados caíram até 50%. O presidente da Associação da Imprensa Uruguaia (APU), Manuel Méndez, lembra ter havido um momento tão ruim em 1967, quando aconteceu um locaute atronal (fechamento de empresas). Na época, porém, eram vendidos, a cada dia, 500 mil exemplares de jornais de circulação nacional, editados em Montevidéu. Atualmente, entre jornais diários e semanais são vendidos, em média, apenas 30 mil exemplares de segunda a sexta.
Lá e cá – Desde 1º de janeiro, os jornalistas estão ocupando as instalações da TV estatal checa, Ceska Televize (CT). Eles protestam contra a ingerência do Partido Democrático, de notórias inclinações fascistas, na direção da TV. Como a República Checa não é o Bananão, 60 mil pessoas foram para frente da sede da TV no dia 3 para dar apoio aos coleguinhas, e protestar contra a intromissão da política partidária numa televisão pública. Enquanto isso, por aqui, a TVE, e o resto da Fundação Roquette Pinto, continua com duas pernas quebradas pelo tucanato.
Mais um – Três pistoleiros mascarados assassinaram, na quarta, dia 17, o diretor da TV estatal palestina, Hisham Mikki. Líderes palestinos acusaram Israel de estar por trás do crime, mas as autoridades israelenses juram nem saber do que se está falando. Mikki é a primeira vítima entre os homens mais próximos ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat, desde que começou o levante popular, em setembro. Embora não tivesse contato direto com Arafat, escritório do jornalista ficava dentro da sede da ANP."
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