"Excluídos da era digital são 5 bilhões", copyright O Estado de S. Paulo, 15/10/00
"Há exatamente um ano, na abertura da World Telecom, maior evento mundial de telecomunicações, em Genebra, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, lembrou que apenas um bilhão de seres humanos dispõem de telefone. ‘É preciso ligar para os outros 5 bilhões’ – sugeriu, bem-humorado. Já o secretário-geral da União Internacional de Telecomunicações-UIT, Yoshio Utsumi, lembrou que 96% dos provedores de Internet estão localizados no Primeiro Mundo.
O mundo começa, portanto, a encarar seriamente a exclusão digital. No tempo da Telebrás, MST poderia ser também a sigla de um hipotético Movimento dos Sem-Telefone. Hoje poderíamos falar no MSI, dos Sem-Internet.
Para alguns especialistas, há diversos graus de exclusão na nova economia.
Os casos mais dramáticos envolvem a falta de telefone e de computador, meios ainda essenciais para o acesso à Web. E os que têm Internet de baixa velocidade já se alistam no MSBL, o Movimento dos Sem-Banda Larga.
O mundo deve ter hoje pouco menos de 400 milhões de internautas, o que não chega sequer a 7% da população mundial. No Brasil, somos os mesmos 7%, pois a estimativa mais otimista diz que há 12,5 milhões de usuários da Internet no País, assim considerados aqueles que utilizam a rede ao menos para transmitir ou receber e-mails.
No outro extremo, a Escandinávia garante Internet para 44% de sua população.
A densidade dos celulares vai a 65%. Num futuro próximo, digamos 2005, mais de 50% da população do Primeiro Mundo estará conectada à Web. E utilizando acessos de alta velocidade ou banda larga de freqüência.
E o mundo menos desenvolvido? Vejamos um exemplo desse desequilíbrio: o Brasil dispõe hoje de mais telefones do que todo o continente africano. Os brasileiros contam com 21 telefones por 100 habitantes, a África, com apenas 3.
E pior: a gravidade da exclusão digital tende a aumentar a cada dia. O fator que desequilibra quase tudo é a extrema diferença de ritmo do crescimento das telecomunicações, da informática e da Internet, entre os países industrializados e os menos desenvolvidos, alargando o fosso que separa esses dois mundos.
Com a nova infra-estrutura nacional e internacional da informação, que se expande muito mais rapidamente no Primeiro Mundo, crescerá ainda mais o gap entre as regiões ricas e pobres do mundo. Os mais desenvolvidos vão alcançando dia a dia padrões mais elevados de produtividade e de educação, acelerando ainda as aplicações de serviços típicos da economia digital, os chamados e-commerce, e-business ou e-services. Ou seja, terão maior acesso a formas avançadas de telemedicina, teletrabalho e teleducação.
Esse quadro nos faz prever que a globalização que vem por aí pode ser muito mais assimétrica – e mais cruel – do que a atual.
As exceções
Brasil e China têm sido exceções entre os países em desenvolvimento e bons exemplos de esforço nacional para superar as limitações de infra-estrutura nesse campo da infocomunicação. Por ter uma população sete vezes maior que a brasileira, a China precisa investir muito mais e instalar muito mais telefones por ano do que o Brasil para elevar a densidade em linhas por 100 habitantes. E é o que tem feito nos últimos cinco anos. Assim, o ritmo de crescimento chinês é hoje da ordem de 30 milhões de linhas telefônicas por ano, o que equivale a quase um Brasil por ano. Nossa rede telefônica, por sua vez, passou de 13 milhões de linhas em 1994 para mais de 33 milhões hoje.
Em matéria de celular, o Brasil está seguramente entre os países que mais crescem no mundo, tendo saltado de apenas 600 mil assinantes em 1994 para 20 milhões hoje. No ano passado, a taxa de expansão do celular no Brasil foi de 110%. Nesse segmento, aliás, a América Latina é a região do mundo com maior taxa de crescimento médio anual (77%) no período 1995-2000.
E a banda larga?
A pressão da demanda por meios de acesso mais rápidos está crescendo de forma impressionante. Nos anos 80, a comunicação de dados a 9,6 quilobits/segundo (kbps) era considerada ‘alta velocidade’. Hoje, acessamos a Internet a quase 56 kbps e não suportamos a lentidão dos downloads de páginas mais sofisticadas. Com as novas soluções que começam a chegar – como Vírtua, Speedy ou DirecPC – saltamos para 150 ou 300 ou mesmo 400 kbps. É bem provável que até 2005 sejamos 20 milhões de usuários no Brasil acessando a Web a 2 Megabits por segundo.
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