Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Governo britânico pressiona emissora

BBC NA MIRA

A britânica BBC está sob uma pressão política poucas vezes testemunhada antes. Duramente criticada por representar uma elite de esquerda e ameaçada de perder seu capital de emissora pública, a BBC foi recente alvo de “arqueiros” do Parlamento britânico ao dizer que o gabinete do premiê Tony Blair adulterou um dossiê sobre armas de destruição em massa no Iraque.

A guerra verbal fica mais acirrada com a BBC se preparando para renovar seu “alvará real” e reter 2,5 bilhões de libras (US$ 4,16 bilhões) com fundos da arrecadação fiscal. Além disso, de acordo com Merissa Marr [Reuters, 1o/7/03], a emissora tem atiçado o debate sobre sua auto-regulação.

Outro ponto de conflito é a programação. Com a concorrência, a BBC teve de aderir a programas mais comerciais, atitude considerada por alguns críticos um acinte, devido a seu dever de emissora pública.

O que realmente está pesando, no entanto, é o conflito entravado com o gabinete do primeiro-ministro. Um dos assessores mais confiáveis de Blair, o chefe de comunicações Alastair Campbell, teve sua conduta questionada por um correspondente da Defesa da BBC, conforme noticiou o OI na semana passada [veja link abaixo]. Campbell, por sua vez, atacou os padrões jornalísticos da BBC, acusando a emissora de dizer mentiras baseadas em uma fonte anônima da inteligência.

Apesar do recente conflito, muitos afirmam que o governo Blair tem sido um dos que mais apoiou a BBC em anos, garantindo seus fundos e mantendo a auto-regulação. Ironicamente, Greg Dyke, diretor-geral da emissora, encarou na semana passada o líder da oposição conservadora a fim de discutir reclamações sobre a tendência anticonservadora da BBC.

Mudança de tom

Convenientemente, a BBC está mudando o tom da conversa acerca de revelações de que as informações da inteligência haviam sido adulteradas. A emissora admite agora que sua fonte pode não estar completamente correta.

Segundo apuraram Matt Wells e Patrick Wintour [The Guardian, 1o/7], a emissora só admitirá oficialmente se a Downing Street reconhecer que a reportagem é legítima quanto ao uso feito pelo governo de material da inteligência. “Se eles aceitarem nossa justificativa, então podemos dizer que nossa fonte não conseguiu acertar em todas as suas colocações”, disse um funcionário da emissora.

É pouco provável que o governo britânico assuma tal responsabilidade, mas o clima geral, depois de humores exaltados, é conciliatório. O porta-voz do primeiro-ministro, contudo, insistiu que o governo não voltará atrás.

 

O governo de Israel uniu-se à Downing Street contra a BBC, e diz ter rompido todos os laços com o canal devido ao tom tendencioso de recente documentário transmitido mundialmente. O programa, intitulado Armas secretas de Israel, trata de programas de armas químicas e nucleares que, alega, Israel mantém.

O governo israelense, segundo Jason Deans [The Guardian, 1o/7], disse que a forma como a BBC retrata Israel compete com “a pior propaganda nazista”. O país tem sido crítico assíduo da cobertura da BBC desde a Intifada palestina, há três anos.

“O programa tenta mostrar que não obedecemos à lei internacional. O Estado de Israel decidiu cortar contatos com a BBC devido ao documentário, no qual sentimos tendências anti-Israel, ao retratar o país sob um prisma muito maligno”, disse Danny Seaman, assessor de imprensa do governo israelense.

Jornalistas da emissora ainda podem noticiar do território israelense, mas o governo não vai mais convidá-los a coletivas especiais ou garantir-lhes entrevistas. Porta-voz da BBC disse que a emissora sustenta o programa.

Alvo de dossiê

Os argumentos do governo de Israel ganharam força em dossiê de 39 páginas produzido pelo advogado internacional Trevor Asserson. O documento, segundo Douglas Davis [The Jerusalem Post, 2/7], analisa a cobertura da BBC na guerra no Iraque, e conclui que houve falhas consistentes na obrigação da emissora de prover notícias imparciais. “Tropas da coalizão são descritas com termos inflamados e favoráveis, evocando simpatia tanto pelos soldados como indivíduos quanto como tropa militar”, afirma a análise. “Em contraste, tropas israelenses são retratadas como assassinos brutais e anônimos, com nenhuma (ou pouca) noção do porquê de suas ações”.

O estudo indica que, “às vezes, reportagens sobre Israel são cheias de distorções, e, outras vezes, parecem pura discriminação contra Israel.”

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