IGREJA CATÓLICA
Uma segunda onda de denúncias de abusos sexuais cometidos por padres católicos na imprensa pode jogar a Igreja na pior crise ética e econômica de sua história nos EUA, informa Editor & Publisher [22/3/02]. Depois que o Boston Globe iniciou o movimento, cobrindo a batalha jurídica de 25 vítimas contra o padre John Geoghan, centenas de pessoas apareceram dizendo-se também abusadas sexualmente em vários pontos do país.
Jornais estimulam denúncias, questionam o celibato e a ignorância dos fatos pelas autoridades eclesiásticas. Nos editoriais surgem pontos de vista distintos. Enquanto Stephanie Salter, do San Francisco Chronicle, alerta para uma "caça às bruxas" contra os padres, Jimmy Breslin, do New York Newsday, chama os sacerdotes de "sinistros", e Maurren Dowd os compara ao Talibã no New York Times.
Thomas Fox, do National Catholic Reporter, se diz admirado com a velocidade com que a onda se espalhou: "É a primeira vez que a mídia de toda a costa leste toma consciência da história". "Não me surpreende que isso tenha acontecido", afirma a Irmã Mary Ann Walsh, porta-voz da Conferência Americana do Bispos , ao New York Newsday [25/3/02]. "Tudo relacionado a sexo e igreja chama atenção. As pessoas devem ficar sentadas nas redações pensando em novas maneiras de abordar a questão: ?Qual é o novo viés? deve haver um novo ângulo para a história…?" Ela não condena a cobertura que está sendo feita, apenas faz objeção a casos muito antigos que foram desenterrados.
Eu dei primeiro
Como é comum acontecer em casos de ampla repercussão na mídia, começa-se a procurar quem desencadeou o fato. No escândalo sexual dos padres já surgiu um nome que começa ganhar reconhecimento. Kristen Lombardi, do semanário alternativo Boston Phoenix, teria levantado questões no começo de 2001 que fizeram a imprensa perceber que Geoghan não era caso isolado. Como o Phoenix é um jornal pequeno, não conseguiu fazer barulho com suas descobertas. Entrou em contato com diversos colunistas, revistas e programas de rádio, mas ninguém acreditou na história. Depois de algum tempo, o Globe entrou com ação na justiça pedindo acesso aos dados do processo de Geoghan, que até então tinham ficado estranhamente em sigilo.
Então, percebeu-se que a alta cúpula da Igreja tinha ciência do problema. Kristen afirma estar contente em ver que o Globe abraçou sua luta, mas se diz desalentada por não ver referência ao Phoenix. De qualquer modo, a natureza da descoberta do fato mais importante na mídia americana nos últimos tempos ? depois dos atentados de 11 de setembro, claro ?, dá novo fôlego ao jornalismo investigativo.
PRÊMIO PULITZER
A menos de um mês do anúncio dos vencedores do Prêmio Pulitzer, uma editora do Wall Street Journal criticou publicamente a elogiada série de artigos do Seattle Times, com quem o jornal concorre na categoria de jornalismo investigativo. As matérias tratam do potencial conflito de interesses vivido por pesquisadores do Fred Hutchinson Cancer Research Center, de Seattle. O instituto conduzia testes envolvendo transplantes experimentais de medula óssea em pessoas com leucemia; pelo menos 20 pacientes morreram prematuramente.
A editora-assistente Laura Landro, curada de câncer no Hutchinson Center, argumenta na coluna de opinião que o Seattle Times retratou os eventos de forma dramática e falsa. "Em vez de acumular prêmios, [a série] deveria ser usada como caso de estudo sobre como a mídia divulga informação tendenciosa e enganadora a respeito de pesquisa biomédica." Ela também acusa um repórter do jornal de dar conselho legal aos pacientes que entraram com ações contra o centro.
David Boardman, do Seattle, diz não estar surpreso com as acusações, e vê a coluna como o mais recente ataque dos aliados do Hutchinson. Para Boardman, a resposta da jornalista é compreensível, "já que sua vida foi salva pelo centro". "Mas estou consternado que o Journal permita [a publicação do artigo], sem qualquer checagem de fatos."
As matérias foram publicadas há um ano, já receberam diversos prêmios ? inclusive o Polk Awards ? e só agora, a três semanas do anúncio do Pulitzer, alguns críticos resolveram se pronunciar. Mas Felicity Barringer [The New York Times, 20/3/02] revela que uma das denúncias pode ter fundamento: em maio, dois meses depois da publicação da série, o repórter Duff Wilson enviou e-mail a parentes dos que morreram nos testes. Na mensagem, informou que era preciso registrar queixa para abrir processo de investigação do Hutchinson, e ensinava como proceder legalmente. O repórter explicou que escreveu às famílias porque queria "manter contato com fontes e pessoas importantes desta história para que também informações".
Segundo o Seattle Times, o que impulsionou a reportagem foram denúncias de que os pacientes "não foram devidamente informados do risco do tratamento nem dos interesses financeiros do centro e dos médicos pelas drogas testadas". Em janeiro, uma associação de institutos de pesquisa ? da qual o Hutchinson faz parte ? escreveu ao conselho do Pulitzer contestando os fatos e o contexto dos artigos.