OFJOR CI?NCIA
OfJor Ciência 2000 ? Oficina OnLine de Jornalismo Científico é uma iniciativa do Observatório da Imprensa, Labjor e Uniemp.
CARTAS
SUPERINTERESSANTE
Na mesma edição há uma entrevista negando o HIV como vírus de contágio da Aids [ver artigo de Roberto Takata]. Essa edição foi um atentado à saúde pública.
TRANSGÊNICOS
O artigo "Novos gerentes para a ciência", publicado pelo Globo em 13/10 [ver Aspas, abaixo], assinado pelo presidente da Fiocruz e seu diretor de Planejamento Estratégico encheu-me de preocupação. Lendo-o, percebi que sua intenção foi informar-nos que a ciência hoje está mais que nunca envolvida com interesses econômicos e políticos, mercê das possibilidades comerciais das novas tecnologias. Essa "parceria" já ficara evidente com o atual esforço conjunto de cientistas e empresas para alterar geneticamente os nossos alimentos, porém surpreendeu-me que cientistas ? e servidores públicos! ? advogassem a lisura ética de tal associação de interesses e ainda clamassem pela retirada das frágeis barreiras burocráticas e jurídicas que hoje ainda dificultam minimamente que nos tornemos cobaias inadvertidas ou meros consumidores cativos desse novo complexo industrial-científico-governamental.
Aliás, pareceu-me que o artigo foi escrito para fornecer apoio "científico" à MP que FHC se prepara para lançar em breve, retirando do Ibama e da Vigilância Sanitária suas prerrogativas de exigir salvaguardas e precauções quanto aos alimentos transgênicos, e atribuindo-as exclusivamente à CTNBio ? a comissão técnica nacional de "bioINsegurança" que vem apoiando sistematicamente a introdução de comida "científica" na alimentação do povo brasileiro.
Os autores citam, como exemplos bem-sucedidos dessa nova parceria, entre ciência e negócios, o mapeamento do genoma e a pesquisa pela cura da Aids ? sucessos de limitado alcance social, já que não incluem os aspectos culturais, econômicos e ambientais que dão origem aos problemas que essas tecnologias buscam resolver. Porém não citam o problema dos transgênicos, onde claramente a ciência dedica-se a desenvolver uma nova tecnologia muito mais por seu potencial de lucros para as indústrias de tecnobiologia, para o agrobusiness, e supostamente para a balança comercial, do que por suas vantagens para a população.
Não tenho nada contra o avanço da ciência e da tecnologia, mas acho que deve ser usado para ajudar nossos descendentes a lidar com os enormes problemas que lhes legaremos, como o efeito-estufa, a desertificação, o buraco no ozônio, a escassez de água, o fim do petróleo barato, a poluição química e atômica, o desemprego, a violência etc. Não para lhes criar novos desafios ? e definitivos, já que alterar a qualidade biológica dos alimentos vai afetar a qualidade biológica das futuras gerações.
Lendo tais análises e propostas, provindas do presidente da Fiocruz e de seu "assessor de Planejamento Estratégico", fico ainda mais desesperançado quanto ao futuro da pobre população brasileira.
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