Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Greice Rodrigues

INTERNET

"Internet solidária", copyright IstoÉ, 11/08/03

"Apesar de todas as dificuldades, o brasileiro é conhecido como um dos povos mais solidários do mundo. O País conta com pelo menos 14 milhões de voluntários servindo às comunidades carentes, segundo cálculos de Sharon Capeling-Alakija, coordenadora dos serviços humanitários da ONU, que esteve no Brasil há dois anos. Entre as dificuldades desse exército de benfeitores – e do número incalculável de voluntários em potencial – está o vácuo entre o ato de contribuir e a instituição que recebe o apoio. Para aproximar voluntário e entidade, o engenheiro eletrônico Marcos Wettreich, presidente do provedor Ibest, criou o portal AjudaBrasil (www.ajudabrasil.org). ?É um ponto de encontro entre os que querem ajudar e os que precisam de auxílio. A internet serve como meio?, explica Wettreich.

Inaugurado há dois meses, o AjudaBrasil tem 131 entidades cadastradas. Para fazer parte do portal, elas passaram por um rigoroso processo de seleção, que analisou a seriedade dos projetos. Entre os membros do conselho que julgam as instituições estão personalidades como Washington Olivetto, Luciano Huck e Malu Mader. ?Já plantei muita árvore no meu percurso como apresentador, acho que chegou a hora de causar algum impacto sobre a floresta que se formou?, filosofa Huck.

O portal funciona como um catálogo de entidades. Na página inicial são apresentadas as diversas opções para os interessados em ajudar. Vão de contribuições em dinheiro ou bens a doações de sangue e até órgãos, passando pela prestação de serviços sociais. O site ensina o passo-a-passo para a doação de órgãos e estabelece contato com as coordenadorias de transplante em todo o País. Quem doa dinheiro ainda tem a garantia de uma resposta, com informações sobre o uso da quantia doada. Para participar, basta preencher um formulário e selecionar uma causa para contribuir, como o combate à fome ou a prevenção de doenças. É importante informar o tempo disponível para prestação de serviços, se for o caso. As entidades têm acesso aos cadastros e, de acordo com suas necessidades, estabelecem contato direto com o voluntário. O corajoso time de Marcos Wettreich tem como meta recrutar 40 mil voluntários por meio do novo sistema até o final do ano que vem."

 


"Cartas deletadas", copyright Jornal do Brasil, 10/08/03

"Em tempos de comodismo eletrônico, não é surpresa que as cartas tenham adquirido ares de relíquia. No universo literário, elas seguem disputando espaço nas prateleiras das livrarias, quase sempre embaladas em volumes caros e caprichados que garantem o prazer do leitor e ajudam a encher os cofres das editoras. Tal glamour, no entanto, pode estar com os dias contados. Em velocidade preocupante, a literatura brasileira caminha para um divórcio irrevogável com os Correios.

Ver um autor contemporâneo redigindo longas missivas a caneta e colando selos em envelopes pardos tornou-se tão improvável como imaginar Mário de Andrade teclando poesia no computador e recorrendo ao Google para tirar uma dúvida de última hora, antes de mandar um e-mail acanhado para Carlos Drummond de Andrade.

Assim como Carlos e Mário, lançado no início do ano em bela edição com a correspondência entre os dois poetas, outros volumes têm chegado ao mercado – alguns com preços nada poéticos -, despertando a curiosidade do público pelos segredos da intimidade alheia. Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Caio Fernando Abreu e (mais recentemente) Vinicius de Moraes estão entre os mestres das letras brasileiras que já tiveram suas cartas publicadas.

Ao contrário desta turma, a geração de hoje já não se contenta com o papel. Entre os escritores vivos, poucos resistem à facilidade sedutora do mouse e do teclado. Diante disso, cria-se um novo estilo, menos literário e mais objetivo, sem rebuscamento e impregnado de uma linguagem informal que às vezes resvala no imediatismo do telegrama. A mudança traz a reboque um risco que nem os próprios escritores percebem. Panes, ataques de vírus ou simples trocas de computador podem eliminar centenas de registros num piscar de olhos. Por enquanto, sabe-se apenas que, num futuro breve, os pequisadores terão trabalho dobrado.

A comparação entre os e-mails de hoje e as cartas de ontem deixa claro o abismo que há entre as verves de um e de outro. É difícil conceber uma pensata como ?a glória carioca é aquela merda de sempre?saindo da pena delicada de Clarice Lispector rumo à caixa de correio de Fernando Sabino. A frase, na verdade, migrou do computador de João Paulo Cuenca para o de Chico Mattoso, quando os dois jovens autores trocaram impressões sobre os contos que escreveram – ao lado do igualmente jovem Santiago Nazarian – após um confinamento de 15 dias em Parati.

Mensagens criam novo estilo

Mesmo entre os expoentes da nova geração – craques em sintetizar longas idéias em poucas sílabas -, há quem se sinta incomodado com a mudança no estilo do texto. É o caso de Nelson de Oliveira, organizador da coletânea Geração 90: os Transgressores.

– A carta tem um fetiche que o e-mail não tem. Surgiu um vício da linguagem tosca, as pessoas não se preocupam mais em ser claras e fiéis à gramática – opina – Creio que isso se recupere nos blogs, que têm textos mais longos, com humor.

O poeta Ruy Espinheira Filho, que envia e-mails quase diários para o escritor Miguel Sanches Neto, também lamenta a mudança.

– Cartas de escritores sempre enriqueceram o mundo literário. Já pensou se Mário de Andrade não tivesse escrito cartas, mas apenas breves e-mails? – indaga Ruy, que até hoje reserva espaço na correspondência para as missivas de papel, como as que troca com Ivan Junqueira e Alexei Bueno.

Mesmo quando se perde na bagunça do arquivo virtual, Miguel não renega os avanços da máquina.

– Toda tecnologia é extremamente invasora, mas com o e-mail posso morar em Ponta Grossa, no Paraná, sem receio de estar afastado do mundo – justifica.

O novo estilo das correspondências assusta Adriana Falcão, autora de A máquina, atualmente envolvida num livro que registra a troca de e-mails entre duas personagens adolescentes.

– Também me amedronta a questão do armazenamento. Chega uma hora que a gente perde tudo – conforma-se a escritora.

Adriana não está sozinha em suas preocupações. Marçal Aquino e Luiz Ruffato, dois dos maiores nomes da nova geração, vivem com o computador vazio.

– Eu não tenho mais nada, apago tudo. Além disso, as coisas sérias eu falo ao vivo, e as confidências não as digo em mensagens. Sou mineiro demais para isso – brinca Ruffato (por e-mail, diga-se de passagem).

Claudia Lage, autora de A pequena morte e outras naturezas, também conserva pouca correspondência eletrônica, mas por outro motivo: um vírus inconveniente lhe varreu a caixa postal.

– Isso me deu a sensação horrível de depender de uma máquina! – lamenta.

Italo Moriconi, que organizou a correspondência de Caio Fernando Abreu – lançada no ano passado pela Aeroplano -, vê no e-mail a possibilidade de um novo estilo literário, redefinindo as relações entre fala e escrita, mas sabe que os arquivos do futuro correm sério risco.

– Realmente, este é um problema. A maioria das pessoas jogava fora as cartas de papel, mas com o e-mail isso se radicalizou muito – percebe Italo, que ainda assim se mantém otimista quanto aos próximos volumes. – A partir do momento em que se toma a decisão de guardar cópias impressas das mensagens, temos literatura no sentido clássico da palavra. Há, então, um campo fértil para a produção de livros a quatro ou mais mãos no tempo real do e-mail."

 


"Internet ressuscita os antigos happenings da contra-cultura", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 8/08/03

"Numa evolução do antigo happening, quando alguém praticava algo inusitado para chocar a ordem estabelecida, seja num show ou numa parada militar, nova-iorquinos inventaram agora a flash mob. Trata-se de uma ?horda relâmpago?, como bem descreve a tradução do termo, em que pessoas são recrutadas pela internet para executar no mundo físico, real, ações no mínimo nonsense.

Numa destas ações, um grupo de internautas recebeu um e-mail com as coordenadas de onde, quando e como deviam atuar. O horário marcado era a noite da última quinta-feira. Foi quando, de repente, uma multidão irrompeu na Times Square, urrando loucamente diante de um dinossauro gigante que ruge de maneira ameaçadora para os clientes na Toys ?R? Us, famosa loja de brinquedos de Nova York.

Cerca de 300 pessoas, que pareciam hipnotizadas pelo bicho, se jogaram no chão, gritando e agitando os braços. Pegos de surpresa, os funcionários da loja chamaram os seguranças, mas o grupo se dispersou com a mesma rapidez com que se reuniu.

A flash mob desta quinta-feira foi o sexto evento do tipo em Nova York e o mais recente de um série que pipocou em diversos lugares do mundo. Na mesma noite de quinta, na primeira flash mob inglesa, um grupo de 200 pessoas marcharam até uma loja de sofás de Londres, com instruções para fazer ligações pelo celular para a loja elogiando os produtos.

O Mob Project começou em junho, em Nova York, quando um homem chamado Bill mandou um e-mail para alguns amigos. Desde então, o movimento se espalhou por todo o país e várias cidades da Europa."