ÍNDIA vs. PAQUISTÃO
Diversas organizações jornalísticas protestaram contra a recusa do governo paquistanês em dar vistos a repórteres indianos. A situação, diz Mark Jurkowitz [The Boston Globe, 7/11/01], revela o crescimento da tensão entre Índia e Paquistão [os dois países disputam a região da Caxemira em freqüentes conflitos armados].
Em 29 de outubro, a Comissão Para Proteção de Jornalistas (CPJ), sediada em Nova York, enviou carta ao presidente paquistanês, Pervez Musharraf, dizendo-se "extremamente preocupada com a aparente recusa do governo em fornecer vistos a descendentes indianos", e que é crucial que jornalistas de todo o mundo tenham acesso ilimitado a países na frente de batalha, como o Paquistão.
Asad Hayauddin, adido de imprensa da Embaixada do Paquistão em Washington, reconheceu que "Índia e Paquistão não estão na melhor fase", mas disse que jornalistas "não foram impedidos de receber vistos". De acordo com Hayauddin, a embaixada tem autoridade de liberar vistos de 30 dias a jornalistas não-indianos. Hayauddin disse que a política de concessão de vistos de seu país é "guiada por acordos bilaterais entre Índia e Paquistão. Por questões de segurança, adotou-se uma política restritiva". Navtej Sarna, porta-voz da Embaixada da Índia em Washington, afirmou não ter conhecimento de tal acordo.
MERCADO DE CÂMBIO
A chegada de centenas de jornalistas de todos os cantos do mundo fez estourar os preços no Paquistão. De hotéis e celulares a camisetas e corridas de táxi, a vida encareceu no país, graças à guerra. A chegada dos correspondentes implica mais cartões de crédito ávidos a comprar presentes para amigos e parentes, além dos gastos pessoais.
Nas telinhas, o mundo de fora vê o Paquistão como um país empobrecido, mergulhado em conflitos sociais profundos, com protestos diários contra crescentes perdas de civis na guerra e líderes religiosos linha-dura estimulando jovens seguidores a empunhar armas em apoio ao Talibã.
O telhado do Hotel Marriott, em Islamabad, segundo Scott Baldauf [The Christian Science Monitor, 2/11/01], virou estúdio de onde dúzias de repórteres de todo o mundo noticiam. O cenário custa caro: US$ 500 por dia para uma plataforma de madeira. No próprio hotel, os preços das diárias subiram três vezes desde 11 de setembro, custando hoje US$ 275.
Entrar no Afeganistão é ainda mais caro. Informações não-confirmadas de empresas de mídia afirmam que são cobrados US$ 2 mil por pessoa para usar o ônibus conduzido por talibãs em um tour por Kandahar, para testemunhar a destruição causada pelos ataques americanos.
Paolo Carta, do Sindicato de Emissoras Européias, diz que este é o momento mais frenético que já viu no mercado editorial. "Há muitas notícias acontecendo de uma vez só ? antraz, conflito Israel-Palestina, o processo por crimes de guerra contra Milosevic e a guerra no Afeganistão. E essas empresas têm orçamentos limitados, que devem ser igualmente distribuídos", disse. "Vão chegar a um ponto insustentável."
"Contatos" imediatos no Afeganistão
No fim de outubro, pela primeira vez desde que a guerra começou, repórteres ocidentais entraram em território afegão, na cidade de Kandahar, onde puderam filmar áreas atingidos pelos americanos. Entrar no país significa trabalhar como quer o Talibã.
Ganhar uma das pouquíssimas vagas para entrar no Afeganistão, no entanto, não depende apenas do "bom comportamento" do jornalista e de seu veículo (para os talibãs, quanto mais influente o veículo maior a chance de ser escolhido). Bill Carter [The New York Times, 1/11/01] informa que depende também de contatos certos ? ou, no jargão de correspondentes, o "subornador" certo.
CNN, ABC News e BBC têm vantagem substancial: têm ligações com paquistaneses que cultivam boas relações com os talibãs. Os "contatos" costumam ser pagos pelas emissoras, e executivos e jornalistas não vêem nada de anormal ou antiético nisso.