NOS TRILHOS
Fabio Leon Moreira (*)
Ao afirmar que não teve acesso à fita bruta, no programa da Hebe, dizendo-se incapaz emocionalmente de comandar os destinos daquela edição fatídica do Domingo legal, o apresentador Augusto Liberato, o Gugu, poderia ter se saído desta um pouquinho melhor. Em função do agravamento do estado de saúde de seus pais e dado o tamanho da lambança, descrita dia após dia nos jornais, ele deveria ter mostrado, pelo menos, laudos médicos sacramentados, como forma digna de se construir um salvo-conduto.
Citar a internação como fator decisivo no não-cumprimento da tarefa de sua responsabilidade, no caso, acompanhar a finalização das pautas do programa, tornou-se conveniente e providencial demais. Admitir confiança cega num profissional de jornalismo de seu programa, com 30 anos de carreira, salientados pelo próprio Gugu, e contradizer a credibilidade do próprio repórter pego num maquiavélico jogo de manipulação, acabou caracterizado como um legítimo caso de empurra-empurra.
Mas, justiça seja feita: no garimpo televisivo do perdão, cataram-se todos os apresentadores citados nominalmente na matéria para que encenassem um ritual de crucificação como poucas vezes se viu na TV brasileira. Raspando-se algum traço de compostura nessa panela de maledicências, fica a antológica frase de Marcelo Rezende endereçada a Gugu, quando este telefonou à produção do programa Repórter Cidadão para prestar as devidas retratações.
? Quando você quiser fazer matérias investigativas fale comigo primeiro.
Missão impossível
A coluna Informe do Dia, do jornalista Arnaldo César, noticiou que o deputado federal Edson Duarte (PV-BA) elaborou projeto de lei que obriga o governo federal a colocar na internet toda a documentação sobre a concessão de canais de TV e rádios no país. Sinceramente, essa medida é de uma praticidade inútil, pois os segredos corporativos que envolvem esses contratos são, muitas vezes, guardadas a sete chaves. Isso quando alguns privilégios não entram em conflito diretamente com a lei, já que obedecem a prerrogativas explicitamente políticas. É como tentar arrancar de uma velha senhora os segredos culinários de uma receita que é passada de geração em geração. Cobrar clareza e ética de concessões não vai impedir situações constrangedoras como a do escândalo Globo/BNDES. Na época, a vênus platinada foi chorar um prejuízo de mais de 600 milhões de reais e a bufunfa remetida para financiar o rombo partiu do seu, do meu, do nosso parco dinheirinho.
Chamada surreal
Dia 24, no Canal Brasil, estréia o documentário dirigido pelo premiado Sílvio Tendler sobre a obra do antropólogo e sociólogo Josué de Castro. Este ano completam-se 30 anos de morte de um dos mais renomados intelectuais do nosso tempo. Até aí ponto para a inteligência nacional. Mas já repararam na chamada vinculada ao programa? Recheada de testemunhas da vida e da obra de Castro, a edição representa a nobreza de qualquer obituário. Está lá para quem quiser ver: Jorge Amado, Darcy Ribeiro, Barbosa Lima Sobrinho, Betinho e até o músico Chico Science. Todos convidam o telespectador a admirar e conhecer o trabalho do homenageado. Porém, a mórbida coincidência é que o todo o séquito também se encontra no além.
Propaganda incompleta
A VS Comunicação, agência de publicidade capitaneada pelo mestre Lula Vieira, ganhou concessão pública para fazer a campanha de estréia das novas aquisições da SuperVia. Já circulam em caráter experimental pela malha ferroviária carioca alguns exemplares dos trens equipados com ar-condicionado que devem fazer sucesso no próximo verão. Ao mesmo tempo em que a empresa se vangloria dos investimentos em tal tecnologia, a privatização ainda demonstra resquícios de ser um paciente a bordo de uma cadeira de rodas descontrolada ladeira abaixo. Trens superlotados, atrasos, quedas repentinas de energia elétrica ainda dividem o itinerário com os passageiros. Mas para essas situações não há denúncia e muito menos agência de publicidade.
Altos blogs
O programa Altas horas, da Globo, agora tem um quadro sobre blogs. Serginho Groisman entrevista jovens na platéia que explicam as inspirações que os levaram a criar seus diários virtuais. Da forma como são conduzidas as entrevistas, aliadas às respostas vazias de adolescentes tímidos e somando-se ao fraco embasamento jornalístico dessa nova forma de comunicação, os pais devem se perguntar em casa: é para isso que a internet serve?
Cravos e espinhas
a) Pela primeira vez na vida assisti a um apresentador assoando o nariz ao vivo em rede nacional. Nesse caso, foi Ney Gonçalves Dias, do Bom dia Mulher, da Rede TV!
b) Ë bom a Record providenciar um bom inseticida. Dias desses apareceu uma muriçoca tamanho família na cabeça de Alexandre Giacceto, do Fala Brasil.
(*) Jornalista <http://www.inocentesuspeito.weblogger.com.br>