Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Guilherme Barros

TV DA AMÉRICA LATINA

"BNDES vai bancar canal de TV latino", copyright Folha de S. Paulo, 30/05/03

"Depois de anunciar empréstimos de US$ 3 bilhões a países da América do Sul, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deverá apoiar a criação de um canal de televisão educativo com programações em português e espanhol para os países da América Latina.

A idéia faz parte do projeto do governo de integração dos países da América Latina. O objetivo é de que esse processo de integração não se dê apenas na economia e na política, mas também se estenda para o âmbito cultural.

De acordo com o que a Folha apurou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já manifestou apoio à idéia da criação do novo canal de TV em encontro recente com o presidente do Equador, Lucio Gutierrez.

O presidente do BNDES, Carlos Lessa, também defende a idéia. A pessoas próximas, disse que o canal de TV da América Latina é mais um passo na integração dos países da região. O BNDES tem sido o principal instrumento do governo brasileiro para a viabilização desse processo.

Além do BNDES, a emissora também conta com a simpatia do assessor especial de Lula para a área internacional, Marco Aurélio Garcia, principal artífice do projeto do governo de integração dos países da América do Sul.

O novo canal deverá ser chamado de TAL (Televisão da América Latina), e a previsão é que entre em operação no ano que vem. O projeto prevê que, no início, o canal seja exibido nas TVs a cabo, para num segundo momento atingir as TVs abertas.

As formas de financiamento do projeto para a criação do novo canal ainda não foram definidas. O investimento previsto é de R$ 36 milhões por ano. O BNDES deverá apoiar com um terço desse valor. A Secom (Secretaria de Comunicação do Governo) poderá vir a ajudar com mais um terço, e o restante deverá vir da iniciativa privada.

O projeto da criação da TAL foi concebido pelo ex-presidente da TVE do RS, Gabriel Priolli, que ficará à frente do novo canal de TV. A programação do canal latino americano deverá ser produzida em São Paulo, e o objetivo é que os programas sejam voltados principalmente para a área cultural. O governo pretende envolver no projeto outros países da América do Sul, como Argentina, Venezuela e Chile.

Em todos os países serão exibidos programas educativos locais. De acordo com o projeto original, cerca de um terço da programação será brasileira.

Pelo projeto, a TAL irá pagar os empréstimos recebidos do governo através de programas institucionais a serem exibidos pela nova emissora de TV.

Na viagem que inicia hoje no Chile para participar da reunião da Ceal (Conselho de Empresários da América Latina), o presidente do BNDES já pretende começar a apresentar a idéia da TAL a empresários e autoridades presentes ao encontro."


"Tela Fria", Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 31/05/03

"Seria difícil pensar, no momento, em projeto menos oportuno para o BNDES aportar recursos do que o da criação de um canal de TV a cabo visando colaborar com a integração da América Latina. No entanto, é o que está sendo feito. Não apenas o banco mas outros organismos do governo deverão investir dinheiro na TAL, sigla para Televisão da América Latina. O empréstimo seria pago, segundo reportagem da Folha, com ?programas institucionais? a serem exibidos pela nova emissora. Prevê-se que, numa segunda etapa, a TAL venha a operar como rede aberta.

São compreensíveis as ambições estratégicas do governo em consolidar o país como um líder continental. Mais do que compreensível, tal pretensão, pelo peso específico do Brasil, parece ser quase ?natural?. Diversos governos da região têm manifestado seu apoio à liderança brasileira, encarnada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

É certo também que líderes regionais devem assumir algumas obrigações além da simples retórica. Sabe-se que o BNDES já anunciou empréstimos de US$ 3 bilhões a países sul-americanos. Seria desejável que tais decisões -que implicam a definição de prioridades- fossem tomadas num regime de maior transparência e debate público, como a cultura petista afirma prezar.

A idéia de uma TV voltada para a América Latina não é em si condenável, embora tampouco desperte maior entusiasmo. Ao contrário: o fato de que nasça atrelada a governos já faz prever alguma contaminação oficialista em sua programação. É cedo para conclusões quanto a isso, mas não para considerar discutível o investimento. Mais ainda quando se sabe que as redes públicas de TV brasileiras encontram-se permanentemente às voltas com graves restrições orçamentárias."

"TV latino-americana", copyright Folha de S. Paulo, 3/06/03

"?Em relação à reportagem ?BNDES vai bancar canal de TV latino? (Dinheiro, pág. B2, 30/5), que resultou no editorial ?Tela fria? (Opinião, pág. A2, 31/5), gostaria de esclarecer que: 1) A TAL -Televisão América Latina- não é uma iniciativa do governo brasileiro. Ela resulta de uma antiga aspiração de instituições e de profissionais do audiovisual e da área da cultura -não apenas do Brasil- de incrementar o intercâmbio de programas na América Latina. É um projeto supranacional, no interesse da integração cultural da região; 2) A TAL não é uma emissora estatal nem, muito menos, governista. Ela vem se organizando a partir de um acordo de cooperação entre emissoras de TV e instituições culturais de todo o continente -públicas, estatais e privadas. Cerca de 50 organizações estão sendo mobilizadas; 3) O total da participação brasileira -pública, estatal e privada- está previsto em um terço (R$ 12 milhões) dos recursos necessários, o que equivale ao peso do país na América Latina (em população e em PIB) e na própria programação do canal; 4) A TAL não drenará recursos da televisão pública brasileira. Diferentemente disso, criará um intenso intercâmbio de programação no continente, o que resultará na oferta de programas às emissoras públicas brasileiras sem lhes gerar nenhum custo; 5) Não sou ex-presidente da TV Educativa do Rio Grande do Sul, como informou o texto. Seria uma honra, mas não a tenho no currículo.? Gabriel Priolli , presidente da TAL -Televisão América Latina (São Paulo, SP)

Nota da Redação – Leia abaixo a seção ?Erramos?:

Diferentemente do que informou o texto ?BNDES vai bancar canal de TV latino? (Dinheiro, pág. B2, 30/5), Gabriel Priolli não exerceu o cargo de presidente da TV Educativa do Rio Grande do Sul."