Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Guilherme Fiuza

‘Delúbio Soares é professor, Sílvio Pereira é sociólogo, formado pela PUC de São Paulo. Ambos cuidam bem da aparência, do corte do cabelo ao do terno, tornaram-se altos dirigentes de um partido repleto de intelectuais, transitam há anos entre os círculos mais esclarecidos da sociedade. O Brasil não deve ter entendido nada quando a dupla abriu a boca na CPI e mostrou que não sabe falar português.

O sociólogo Silvinho, com sua cara de menino educado e todo seu currículo no partido de Marilena Chauí e Antonio Cândido, atropela os plurais a toda hora e com grande naturalidade. Nos primeiros ‘os companheiro acharam’ e ‘os cargos foi para o PT’ ainda parecia um tropeço casual. Mas logo se viu o que se confirmaria fartamente no depoimento do colega Delúbio: a dupla tem total desprezo pelas regras de concordância.

Não se deve discriminar ou desqualificar alguém apenas pelo fato de falar mal sua própria língua. A boa instrução não está ao alcance de todos. Quando a ignorância é proporcional à falta de acesso ao conhecimento, portanto, é até justo que seja relevada. É isto o que intriga nos casos de Silvinho, Delúbio e outros mandachuvas do PT. Graduados, diplomados, com décadas de convivência com os estratos mais cultos da política e da academia, como podem ter mantido a delinqüência verbal?

Como não é, evidentemente, um caso de ignorância, a provável explicação pode estar no terreno do desleixo. E aí surge o aspecto relevante desse problema aparentemente apenas formal: a língua é uma das instituições básicas da comunidade, e respeitá-la significa, também, um sinal de respeito a esta comunidade. Um comportamento de descaso com a língua pode se parecer, em termos de sentido de coletividade, com a atitude de urinar em via pública.

Assim como a língua e a rua, o dinheiro está também entre as instituições básicas da comunidade. E aí a falta de cerimônia dos dirigentes petistas com as regras do português sugere um claro parentesco com sua forma de lidar com o dinheiro público. Delúbio, Silvinho e companhia não parecem ser ladrões. Talvez apenas vejam os cargos, os contracheques e os orçamentos estatais com a mesma sem-cerimônia com que sonegam um ‘s’ no final de algumas palavras. Deixa pra lá, não vai fazer falta.

É provável que eles mesmos estejam assustados com toda essa confusão, apenas porque trataram as concorrências públicas como tratam a concordância verbal. Devem estar pensando: fizemos só um xixizinho na árvore da praça, e querem nos prender por causa disso. E aí não adianta pedagogia. Dificilmente um sujeito que acha normal transformar um metro quadrado de via pública em seu banheiro particular, vai compreender o problema de usar uma fração de orçamento público em favor de sua atividade privada.

Neste contexto, o mais preocupante é acompanhar os últimos discursos do presidente Lula. Em recente evento na Fundação Oswaldo Cruz, diante das câmeras de TV, ele declarou aos quatro ventos: ‘As CPIs têm que funcionarem, as CPIs têm que apurarem’. Mais uma vez, não se trata de censurar alguém por seus erros de português. O problema é avaliar, com todo o acesso ao conhecimento que a pessoa já tenha tido, o que está por trás da persistência naqueles erros. O beneplácito da ignorância inocente já não serve mais.

O aspecto grave da questão é desconfiar que, na conduta de Lula e dos petistas, o descuido com as palavras esteja ligado a um descuido com os princípios. O ex-ministro José Dirceu, por exemplo, protestou publicamente contra o tratamento que vem recebendo da imprensa. Afirmou que suas explicações para as acusações que recebe vêm recebendo pouco destaque, às vezes nenhum, e que isto não é jornalismo. É curioso este seu zelo para com o equilíbrio da prática jornalística, considerando ser a mesma pessoa que, há poucos meses, afirmava a seus pares que ‘falava por cima’ com os veículos A, B e C. Qual será o verdadeiro princípio do deputado José Dirceu? O que pede isenção na produção da notícia, ou o que ‘fala por cima’ para dizer como a notícia deve ser produzida?

Outro enigma é o significado pretendido por Lula quando se refere à ‘elite’, que supostamente o estaria perseguindo. Considerando-se que entre os principais interlocutores e aliados do presidente estão hoje o senador José Sarney, imperador do Maranhão, o deputado Delfim Netto, embaixador da Avenida Paulista, a diretoria da Fiesp e os dirigentes dos bilionários fundos de pensão, que elite petulante seria essa, capaz de ousar enfrentar a elite do próprio Lula?

Eis o mistério. Mas sempre haverá a esperança de que, depois de maltratar a língua e o dinheiro público, os líderes do PT não queiram ofender a inteligência nacional.’



Zuenir Ventura

‘Saindo da mala’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 26/07/05

‘Que Glória Peres que nada! Que ‘América’! A novela do momento, a que está mobilizando a opinião pública pela intriga do enredo e pelos atores é a da CPI, transmitida no horário da tarde em capítulos que às vezes duram 14 horas. Apesar disso e embora pareça um pouco inverossímil e improvável – chega-se a desconfiar que aqueles personagens foram inventados – é uma obra realista e um sucesso de público. Conheço pessoas que não saem mais de casa e nem atendem telefone.

Cada episódio é mais imprevisível do que o outro, mais emocionante, mais inacreditável. O suspense é de tirar o fôlego. O cenário é pobre, a ação se passa toda numa única sala, como naqueles filmes sobre julgamento, só que, no caso, com vários réus ou suspeitos. De um lado os inquiridores e em frente, na mesa, o depoente, com um ou mais advogados ao lado. Não sei como se consegue construir uma trama com tantos ingredientes dramáticos: corrupção, suborno, chantagem, mentira, hipocrisia, cinismo e muita grana rolando – tanta que só mesmo num país rico como o nosso.

Os próximos dias prometem ser mais explosivos do que os da semana passada, que já não deixaram ninguém sair da frente da tv. Escrevo na véspera de um capítulo ansiosamente aguardado, quando deve se apresentar a mulher do principal vilão (são tantos!), um certo Marcos Valério. O que ela dirá? Será que vai entregar o marido, comprometendo-o ainda mais? Será verdade que estão querendo se separar?

É bom lembrar que as investigações avançaram graças a uma mulher, uma personagem instigante dessa novela, a ex-secretária de Valério, Fernanda Karina. Com coragem e a ajuda de sua agenda, ela forneceu pistas seguras e apontou caminhos que possibilitaram a descoberta de uma conexão milionária e criminosa que começava nas agências de publicidade de seu ex-chefe e terminava no Planalto, passando por petistas poderosos como Dirceu, Genoino, Delúbio, Silvio Pereira, João Paulo Cunha, a lista é interminável. Não era um mar de lama, mas uma tsunami.

Além da mulher, Marcos Valério promete desembarcar em Brasília com quilos de documentos que só Deus, ou melhor, o Diabo, sabe o que contém. ‘Quem tiver motivos para preocupação pode ir se preocupando’, ameaçou. É difícil dizer quando e como será o desfecho dessa trama, que só tende a se agravar. Enquanto o governo vai saindo do armário, ou da mala, uma pergunta que não quer calar. Lula sabia ou não sabia? Ao contrário de Collor, que todo mundo queria ver mergulhado nos escândalos, ninguém quer o envolvimento de Lula, nem aliados e nem adversários. Os primeiros por motivos óbvios, os segundos porque preferem enfrentar em 2006 um presidente fraco e desmoralizado, se é que ele dura até lá como candidato.

As pessoas podem conseguir preservar Lula, mas e os documentos, os que estão por aparecer? A deputada Denise Frossard, uma das mais ativas integrantes da CPI, acredita que de alguma maneira o presidente sabia do esquema, conforme revelou domingo na tv Bandeirante, lamentando: ‘gostaria que ele fosse investigado como presidente, não como ex.’’



Folha de S. Paulo

‘Notícias sobre crise influem pouco na tiragem dos jornais’, copyright Folha de S. Paulo, 31/07/05

‘O escândalo do ‘mensalão’ influiu pouco na circulação dos principais jornais do país. Na maioria dos casos, as variações não ultrapassaram a marca de 1%.

Esse fato contraria uma opinião difundida em uma parcela da opinião pública, de que os jornais têm noticiado as acusações sobre corrupção no governo com o objetivo de ampliar seu leitorado.

Pesquisa realizada pelo Datafolha no dia 21 de julho revelou que 39% dos eleitores acreditam que os meios de comunicação têm feito uma cobertura sensacionalista. Outros 21% acham que a mídia destaca as notícias sobre o caso por ‘interesses próprios’.

Na realidade, a circulação dos grandes jornais pouco se beneficiou do escândalo: a da Folha aumentou de uma média diária de 312.204 exemplares em maio (quando surgiram as primeiras denúncias sobre fraude nos Correios) para 313.417 exemplares diários em junho -mês em que o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) revelou, na própria Folha, que o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava dinheiro a deputados da base aliada por intermédio do publicitário Marcos Valério de Souza.

A variação (de 1.213 exemplares) corresponde a um aumento de 0,4% sobre a circulação paga da Folha em maio -taxa levemente superior ao crescimento médio dos jornais listados no quadro acima (0,3%). No caso de ‘O Globo’, do ‘Estado de Minas’ e do ‘Correio Braziliense’, a circulação chegou a cair um pouco.

O impacto limitado do noticiário referente à crise política sobre a circulação resulta do fato de que a venda em banca -que reflete de imediato o interesse despertado pelo escândalo- tem hoje uma participação minoritária na comercialização dos grandes jornais. Os assinantes representam 88% dos compradores da Folha, 86% do ‘Estado’ e 83% do ‘Globo’. Por isso um aumento na venda avulsa pesa pouco na circulação num primeiro momento.

Embora pequeno, esse crescimento mostra que os jornais são considerados fontes de informação completas (segundo 47% dos entrevistados pelo Datafolha) e sérias (na opinião de 45%).’

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‘Dirceu cita ‘armação’ para desmoralizá-lo’, copyright Folha de S. Paulo, 31/07/05

‘Leia a seguir a íntegra da nota em que o ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP) contesta reportagem da revista ‘Veja’ e nega que Roberto Marques tenha sido autorizado a sacar dinheiro de contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza:

Com repúdio e indignação vejo mais uma iniciativa da revista ‘Veja’ para enxovalhar meu nome, em uma tentativa anti-republicana de construir um clima de prejulgamento. A edição desta semana desenrola uma série de mentiras com o objetivo nefasto de me desmoralizar perante a opinião pública no momento em que prestarei ao Conselho de Ética da Câmara esclarecimentos, como testemunha, no processo contra o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), acusado pelo PL de ter faltado com o decoro parlamentar.

A reportagem de capa (‘O risco Dirceu’) é totalmente improcedente. Repilo absolutamente a afirmação de que estaria mandando ‘recados ameaçadores’ ao governo e contesto taxativamente a suposição de que Roberto Marques, que é meu amigo e não meu assessor, tenha sido autorizado a sacar dinheiro das contas de empresas do senhor Marcos Valério.

Desde que foi instalada a CPI dos Correios, o esforço para me envolver nas ilicitudes investigadas tem sido enorme. Da obstinação em quebrar meu sigilo bancário, fiscal e telefônico à persistência em pressionar depoentes com o objetivo de me incriminar. Com tais esforços frustrados, partiram para a plantação de informações falsas que induzissem a imprensa a publicar notícias incorretas para me constranger. Na semana que passou, jornalistas receberam supostas informações vazadas de minhas contas bancárias. Em um dos casos, havia uma série de pequenos créditos lançados desde o início de 2003, somando cerca de R$ 230 mil. A suspeita dos investigadores, trazida a mim pelo jornalista, é que os depósitos teriam sido feitos por 30 empresas e entidades, entre elas o PMDB, a Unafisco Sindical, o Centro Radiológico de Brasília e a Associação Obras Sociais Irmã Dulce.

Ao verificar os lançamentos, constatei que se tratavam dos créditos referentes à minha remuneração mensal, paga pela Câmara dos Deputados. Com o esclarecimento, o jornalista desistiu da publicação. Em outra ocasião, solicitaram explicações para quatro lançamentos de crédito totalizando cerca de R$ 300 mil em minhas contas. Em novo levantamento, verifiquei que a conta informada pelo jornalista não estava na relação de todas as contas correntes ativas e inativas que já possuí.

Novamente, com a suspeição das informações vazadas, o outro jornalista preferiu não publicar a reportagem. A revista ‘Veja’, no entanto, não seguiu o mesmo padrão de comportamento. Mesmo depois de ser informada pelo deputado Carlos Abicalil (PT-MT) de que tinha recebido um documento sob suspeição da CPMI, insistiu na publicação de uma versão distorcida, alinhada com a conveniência dos que querem me transformar em réu de um Tribunal de Exceção, mesmo ao custo de uma armação sórdida.

Deputado José Dirceu (PT-SP)’



O Estado de S. Paulo

‘Karina não é Nicole Kidman, diz seu advogado’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/08/05

‘CELEBRIDADE: A ex-secretária da SMPB Fernanda Karina Ramos Somaggio pode concorrer à Câmara pelo PFL, disse ontem seu advogado, Rui Pimenta. Ele disse que um conselheiro da Associação Comercial de São Paulo está armando um encontro entre ela e o vice-prefeito Gilberto Kassab (PFL). Segundo Pimenta, o PSDB e ‘dois partidos pequenos’ também a sondaram. Na sua opinião, Karina teria ‘400 mil ou 500 mil votos’, mas o obstáculo é o custo da campanha, que calcula em R$ 2 milhões – valor que ela pediu para posar na Playboy. O advogado acha quase ‘impossível’ a revista aceitar. ‘Como é que paga R$ 2 milhões para ter uma capa? Se fosse uma Nicole Kidman, uma Julianne Moore…’ Pimenta anunciou ainda que entrará com habeas-corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para trancar a ação por tentativa de extorsão que Marcos Valério move contra Karina. Uma audiência está marcada para hoje. Valério acusa a ex-secretária de tentar extorquir dinheiro para não revelar à imprensa informações sobre seus negócios. Ela nega a acusação.’