INTERNET
“A inteligência coletiva de Pierre Lévy”, copyright O Estado de S. Paulo, 1/09/02
“O francês Pierre Lévy avisa: não faz previsões pessimistas. Só imagina coisas boas, porque acredita que as previsões ajudam a materializar os fatos. Por isso, nada de falar dos problemas do mundo contemporâneo, das tensões mundiais, das contradições do avanço tecnológico. Lévy acredita, por exemplo, que o nascimento da web, em 1994, é em parte resultado de uma previsão que fez, em 1990, de que, um dia, os computadores de todo o mundo estariam ligados. Essa previsão fez a fama de Lévy, autor de Conexão Planetaria (Editora 34) e A Inteligência Coletiva (Loyola) que esteve nesta semana no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, coordenando um treinamento com instrutores e realizando uma conferência aberta na quinta-feira. A grande preocupação atual de Lévy é desenvolver uma ?ciência da inteligência coletiva?. Isso significa estudar e criar modelos matemáticos e digitais de medir a qualidade e a quantidade dessa forma de pensar. Seu projeto foi desenvolvido na universidade de Ottawa (Canadá) e tem duração prevista de dez anos, nos quais deve mapear o uso dinâmico da informação em rede.
Para Lévy, a internet e o hipertexto se desenvolveram rapidamente porque a rede é, ao mesmo tempo, produto e motor dessa inteligência coletiva. Na sua opinião, há uma tendência universal de conexão à rede mundial de computadores, ainda que a velocidade disso possa variar de acordo com os países. Essa tendência, defende, está levando a uma mudança no papel dos professores no ensino, uma de suas principais preocupações. Nesse processo, ele afirma que a resistência não virá dos professores, mas do poder. ?Não estamos, no entanto, partindo do nada; partimos do conhecimento até agora produzido?, corrige, eliminando mais um dos problemas do mapa. Para Lévy, os professores devem ser, cada vez mais, ?animadores da inteligência coletiva dos estudantes?, oferecendo as ferramentas intelectuais para que os alunos cooperem e produzam conhecimentos em grupo.”
"Internet: cada vez mais uma via para o crime", copyright O Estado de S. Paulo, 2/09/02
"Mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo acessaram este ano pelo menos uma entre as quase 500 bilhões de páginas existentes na internet.
E trocaram o equivalente a 800 bilhões de mensagens, a partir de 200 milhões de computadores conectados nesta teia mundial. O volume de informações armazenadas apenas nos computadores, incluindo caixas postais, mas deixando de fora as páginas web, é da ordem de 25 mil terabytes – algo equivalente ao texto impresso em 2,5 bilhões de livros.
Por uma pequena parcela deste mundo virtual – ainda assim grande o suficiente – trafegam pessoas, grupos e organizações que movimentam bilhões de dólares com atividades criminosas, como o tráfico de drogas e a pedofilia. A partir de 1999, com o bombardeio aos sérvios, expressões como cyberterrorismo e cyberguerra passaram a ser usadas com mais freqüência. E com os ataques de 11 de setembro do ano passado entraram definitivamente na rotina dos órgãos de segurança de vários governos.
Nos últimos meses, os Estados Unidos e o bloco de países que integram a União Européia discutiram, aprovaram e implementaram medidas para fiscalizar e controlar o tráfego de internet, na tentativa de prevenir e combater a atuação dos chamados cyberterroristas. Entidades que atuam em defesa das liberdades civis reconhecem a gravidade do problema, mas advertem que ?os métodos utilizados? representam uma ameaça à privacidade e abrem brechas para um controle total sobre a internet.
Entre os ?perigos? estariam a chamada Lei Patriótica, aprovada pelo Congresso americano em junho, e uma diretriz votada recentemente pelo Parlamento Europeu. A primeira amplia os poderes do FBI para monitorar e interceptar qualquer tipo de comunicação por via digital entre pessoas supostamente vinculadas a atividades terroristas. Já os europeus querem impor aos provedores de acesso a estocagem de todo o conteúdo de internet por um período não inferior a um ano. Numa segunda etapa, as mesmas exigências seriam estendidas às operadoras de telefonia fixa e celular.
É algo parecido como jogar uma bomba nuclear sobre uma cidade só porque existe a suspeita de que ali vive um terrorista ou um pedófilo, compara Ricardo Petrissans Aguilar, porta-voz da La Sociedad Digital, com sede na Espanha.
Invasão recorde – O número de invasões a sistemas digitais em todo o mundo foi recorde em agosto e a previsão é de que em setembro a situação seja ainda pior, em função do primeiro aniversário dos ataques terroristas aos Estados Unidos e da tensão internacional em torno de uma possível ação militar contra o Iraque. Um relatório que será divulgado hoje em Londres pela Mi2g (www.mi2g.com), uma das maiores empresas de segurança digital da Grã-Bretanha, revela que em agosto foram realizados 5.580 ataques a sistemas, elevando para 30.839 o total acumulado no ano.
A projeção para este ano – que o próprio documento classifica como ?conservadora? – é de que as invasões cheguem a 45 mil, o que representaria um crescimento de 45% em relação aos números do ano passado. Em um único dia de agosto – domingo, 18 – o número de ataques a redes de computadores chegou a 1.120, quatro vezes maior do que os registrados ao longo de todo o ano de 1998.
Os especialistas da empresa admitem que o número de invasões aumentou significativamente após os atentados de 11 de setembro, quando grupos ativistas pró-islâmicos voltaram suas baterias contra as redes instaladas nos Estados Unidos, Inglaterra, Israel e Índia.
O FBI estima em ?mais de US$ 10 bilhões por ano? os prejuízos decorrentes de crimes eletrônicos. ?Quase todas as empresas da lista das 500 maiores já sofreram invasões por parte de cybercriminosos, mas somente 17% delas comunicaram isso às agências governamentais?, afirma um ex-diretor da agência federal. Na maioria das vezes, as empresas não comunicam o crime à polícia temendo a perda de confiança por parte de seus usuários, consumidores ou até mesmo acionistas.
Armamento digital – O FBI define cyberterrorismo como o uso do espaço virtual contra a infra-estrutra de um país, com a finalidade de intimidar governos e causar danos à população civil. Dorothy Denning, Ph.D. em ciência da computação pela Georgetown University e especialista em segurança no cyberespaço, encara com ressalva o termo e diz que a grande maioria dos ataques aos sistemas não se enquadra na definição clássica de terrorismo. ?Até porque não há registro de mortes ou danos corporais decorrentes destes ataques?, justifica.
Dorothy chama a atenção para um aspecto que considera importante nesta discussão. Muitos hackers têm conhecimento, habilidade e ferramentas para invadir redes e sistemas, mas faltam a eles motivação para causar violência ou danos sociais graves, ?ao contrário dos terroristas, que têm motivação, mas padecem do potencial necessário?. Na opinião da professora, a atuação de terroristas na internet parece restrita à troca de mensagens e ao planejamento de ações físicas.
William Webster, ex-diretor da CIA e do FBI, nomeado no ano passado para presidir uma comissão que vai rever toda a segurança interna do próprio FBI, pensa diferente. Para ele, no ambiente eletrônico em que vivemos, muitos hackers podem se transformar rapidamente em um Saddam Hussein. No prefácio ao livro Cybercrime, Cyberterrorism, Cyberwarfare…, editado pelo Centro Internacional de Estudos Estratégicos, em Washington, Webster afirma que ?os inimigos da América sabem da nossa dependência aos sistemas de informações e estão desenvolvendo armas para atuar nesse campo?.
Para ele, bytes – e não balas – seriam as munições dessas novas armas. ?Ou, o que seria mais dramático ainda: uma combinação de bytes, balas e bombas.?
O ex-diretor da CIA disse ter ouvido de especilistas o alerta de que um ataque bem organizado e efetuado por apenas 30 hackers situados em pontos estratégicos e com um investimento da ordem de US$ 10 milhões poderia afetar seriamente a segurança dos Estados Unidos. ?Vírus e outras ferramentas da guerra da informação são agora o arsenal deste novo cenário geopolítico criado pela nova economia?, afirmou.
Exército exposto – Há duas semanas, a ForensicTec, uma empresa do setor de informática, anunciou ter ?invadido? 34 sites militares nos Estados Unidos, usando como ferramenta um simples software gratuito, facilmente encontrado na internet. O ponto de entrada foi uma base do Exército no Texas que abriu caminho para as redes internas de várias outras instalações militares e civis, como os Departamentos de Energia e Transportes.
Entre as informações acessadas, estavam mensagens trocadas por oficiais de alta patente, documentos pessoais da tropa e até manuais de criptografia por rádio. A facilidade encontrada levou a empresa a acreditar que milhares de computadores militares correm risco de invasão. Um porta-voz do Exército confirmou a invasão de ?uma rede não secreta?, mas garantiu que nenhum material classificado ficou exposto aos invasores.
A ForensicTec alega que o anúncio e as invasões tiveram o objetivo de alertar e colaborar para a melhoria da segurança dos sistemas militares, mas mesmo assim deverá ser processada pelo FBI por acesso não autorizado a documentos oficiais. No início do ano, o Senado americano aprovou uma lei que amplia as penas para os chamados crimes de violação de sistemas informáticos.
Receita explosiva – MixMaster é um nome conhecido na internet, embora provavelmente você jamais tenha ouvido qualquer referência sobre ele. A explicação é simples: a internet que você freqüenta não é a mesma freqüentada pelos seguidores do tal MixMaster, um programa que permite a qualquer mortal enviar mensagens ou atualizar páginas na internet sem deixar rastros.
O programa foi criado e colocado gratuitamente na internet com objetivos politicamente corretos: garantir a liberdade de expressão, principalmente para dissidentes políticos, sem colocar em risco a sua identidade. Mas, como várias outras aplicações desenvolvidas para a web, acabou fazendo sucesso mesmo quando passou a ser utilizado como refúgio para a disseminação de informações criminosas.
Milhares de páginas na internet recebem todos os dias colaborações enviadas por meio do próprio MixMaster ou outros aplicativos. Ferramenta perfeita para a divulgação de mensagens racistas ou receitas de explosivos e drogas caseiras. Na Espanha, hospedado em um dos maiores provedores da internet, um usuário do MixMaster diverte-se oferecendo dicas literalmente explosivas.
Apenas no capítulo sobre bombas caseiras, são 18 receitas, que variam do coquetel molotov a um produto similar ao napalm, produzido com sabão e gasolina."
COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
“Ações cidadãs”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 30/08/02
“A edição impressa deste Jornalistas&Cia, que circula por e-mail e fax para as principais redações, agências de comunicação e áreas de comunicação corporativa do País, traz duas notas que merecem uma maior reflexão de todos nós que atuamos no universo da comunicação.
Uma delas vem da ADS, agência de comunicação fundada há mais de duas décadas por Antonio De Salvo (ele, o próprio ADS), que foi a vencedora da categoria Micro e pequenas empresas da 2? edição do Prêmio Valor Social, concedido pelo jornal Valor Econômico. O projeto que deu à agência o prêmio foi Todo Mundo Teen, pelo qual ensina informática e noções de jornalismo aos alunos da escola pública Ennio Voss, no bairro do Brooklin, na cidade de São Paulo.
Tive o privilégio de conhecer esse trabalho feito sob a coordenação do próprio De Salvo, de Ingrid Rauscher e de Rosana De Salvo, e ali pude ver e compreender que independentemente do ramo de atuação e porte das organizações, com pouco dinheiro e alguma boa vontade dá para se fazer, neste Brasil, coisas realmente fantásticas, às vezes para o nosso próprio vizinho.
Esse foi exatamente o caso da ADS. A agência decidiu adotar a escola pública Ennio Voss, que fica a pouco metros de sua sede, e abrir caminho para que os alunos que lá estudam, em geral de poucos recursos, tenham a oportunidade de aprender algo mais que matemática, português, geografia e história. Praticamente toda a equipe de profissionais da ADS, com o consentimento da direção da empresa, dedica uma pequena parcela do seu tempo para o projeto, seja recebendo alunos na ADS, seja indo à escola para conversar com eles, seja coordenando trabalhos conjuntos, com o objetivo de ensinar noções de cidadania, de responsabilidade etc. A agência abre à garotada a oportunidade de lidar com computador, de aprender o beabá do jornalismo e das relações públicas (seu foco principal de atuação), tudo numa linguagem simples e lúdica.
Numa conversa que teve comigo, há um ano, a diretora da ADS, Ingrid Rauscher, disse-me que a experiência era gratificante por todos os ângulos que se analisasse, já que os benefícios tanto para a agência, quanto para as crianças e para a escola, eram visíveis e paupáveis, particularmente na evolução dos alunos, tanto no que concerne à educação, propriamente dita, quanto nos conceitos de cidadania, de conhecimento do mundo das empresas, das oportunidades de carreira que terão pela frente. Se comparada a complexidade de uma cidade como São Paulo, a ação da ADS é um grão de areia. Só que um grão de areia com vida, que pode e deve se transformar em semente, para germinar contagiando as milhares de empresas espalhadas por esse Brasil afora. O prêmio foi merecido e o exemplo é dos mais valiosos.
A segunda nota tem um outro viés, mas não deixa também de exercer o lado cidadão de uma empresa, principalmente se ela é uma agência de comunicação, acostumada a lidar com outras organizações e com formadores de opinião. Vem de uma parceria entre o escritório Umbelino Lobo, cuja sede fica em Brasília, com a LVBA, agência tão tradicional e antiga quanto a própria ADS, fundada décadas atrás pelo saudoso Valentim Lorenzetti, em São Paulo – hoje a LVBA é administrada pela filha de Valentim, Gisele Lorenzetti, e por Flávio Valsani.
Dessa parceria e a pedido da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha nasceu um inédito e interessante workshop, batizado de As empresas e os candidatos, que tem o objetivo de promover a troca de idéias sobre financiamento de campanhas políticas e apresentar o assunto como uma evolução dentro do ambiente democrático. O trabalho é ambicioso, nesse sentido, e vai além: se propõe a apresentar critérios claros e objetivos para a escolha de candidatos, ajudando-as a definir os nomes e siglas que pretendem apoiar, seja para o Executivo seja para o Legislativo.
O trabalho é profissional, feito por duas agências muito conceituadas, e não estará, obviamente, a serviço de nenhum candidato ou partido, mas sim a favor de um novo modelo de relacionamento das empresas com o mundo político. Um relacionamento que não venha mais a ser pautado pela corrupção ou pelo estelionato eleitoral, mas sim por compromissos com aspectos e ambientes que digam respeito à área de atuação das organizações empresariais. Compromissos transparentes, sérios, éticos e a serviço da democracia são sempre bem-vindos, sobretudo se ajudarem a alterar essa zona nebulosa onde há anos políticos e empresas circulam, num ambiente de muita promiscuidade e pouca cidadania.
O workshop será realizado no dia 3 de setembro, das 14h às 17h30, nas instalações da Câmara Brasil-Alemanha, rua Verbo Divino, 1488, 3? andar. Será ministrado por José Rubens Pontes, consultor associado da LVBA e diretor da Umbelino Lobo, e por Flávio Valsani, diretor executivo da LVBA. Para os interessados, informações mais detalhadas podem ser obtidas no site da LVBA.”