Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Herton Escobar

JORNALISMO ONLINE

“A interatividade está no futuro do jornalismo”, copyright O Estado de S.Paulo, 22/5/02

“A idéia de que a mídia on-line decretaria o fim da mídia impressa está descartada, mas os jornais que quiserem sobreviver na era digital precisarão oferecer mais interatividade aos seus leitores. Mais do que um disseminador de notícias, o jornal deve servir como um canal de discussão e busca de soluções para os problemas da sociedade. Essa é a base do chamado jornalismo cívico, ou comunitário, defendido pelo jornalista americano Chris Peck, vice-diretor do Projeto de Credibilidade Nacional da Fundação de Editores Executivos da Associated Press, que participa de um debate sobre o assunto hoje em São Paulo.

?Os jornais precisam fazer mais para inspirar e engajar seus leitores na vida cívica; fazer o possível para garantir que as pessoas conheçam e discutam os problemas da comunidade?, disse Peck, ontem, em entrevista exclusiva ao Estado. Isso pode ser feito de várias maneiras. Quando era editor do The Spokesman-Review, em Spokane, no Estado de Washington, Peck criou os ?jornais-pizza?. A publicação fornecia um formulário e convidava os leitores a se reunirem com seis amigos para comer uma pizza e discutir um tópico da comunidade. Os comentários eram anotados e remetidos ao jornal, que os publicava. Já na primeira tentativa, foram 1.500 respostas.

?Conseguimos ouvir pessoas que não estão normalmente envolvidas no noticiário, mas deveriam?, disse Peck.

Na reportagem diária, acrescentou, o jornal deve sempre trazer a palavra daqueles que são diretamente afetados pelos acontecimentos e políticas públicas, e não apenas opiniões de especialistas e ?homens engravatados?.

O Estado mantém um canal aberto de comunicação com a comunidade pelo serviço Falecom. Os leitores podem enviar comentários, reclamações e solicitar informações pelo telefone (0xx11) 3856-5400, ou pelo e-mail falecom@estado.com.br. O debate com Chris Peck começa às 10 horas na Escola de Comunicação Social Cásper Líbero, na Avenida Paulista, 900.”

 

GIGANTE BAQUEADO

“Doente, AOL Time Warner volta às origens”, O Estado de S.Paulo / The Sunday Times, 21/5/02

“O lendário dançarino de sapateado Bill Bojangles Robinson deu a ?árvore da esperança? à população do Harlem nos anos 30. Plantada diante do Lafayette, na época o principal teatro de negros nos Estados Unidos, a árvore atraía atores que esperavam que ela lhes desse sorte.

Quando a derrubaram nos anos 40, seu toco foi instalado nos bastidores do Apollo Theatre, que ficava perto e em cujo famoso palco muitos dos maiores astros americanos apareceram. Diz a lenda que todo mundo, de Billie Holiday a Michael Jackson, tocaram o tronco da árvore na esperança de receberem parte de sua magia.

Na semana passada, outro afro-americano estava depositando esperanças na magia de Bojangles: Richard Parsons, recém-nomeado diretor-executivo da AOL Time Warner, a maior empresa de mídia do mundo. Freqüentadores do Apollo são difíceis de contentar nos melhores tempos, e os acionistas reuniram-se ali furiosos depois de verem seus investimentos perder bilhões de dólares.

Quando Parsons subiu ao palco para sua primeira reunião como diretor-executivo, fez questão de esfregar bem o tronco.

Estes têm sido os melhores e os piores momentos para a AOL Time Warner. A companhia possui alguns dos maiores meios de comunicação do mundo, incluindo a Warner Brothers, o lar de Pernalonga e Batman. Os dois maiores filmes do ano passado foram Harry Potter e O Senhor dos Anéis, e ambos saíram das linhas de produção da AOL. Na televisão, o inovador canal a cabo HBO produziu alguns dos melhores programas. Apesar da mais dura recessão no ramo publicitário de que se tem lembrança, a divisão Time da companhia produziu quatro das dez maiores revistas em termos de receita publicitária, incluindo as duas principais, People e Sports Illustrated.

Companhias de mídia estão tendo um tempo penoso ultimamente.

Publicidade ? da qual a AOL Time Warner depende maciçamente ? já estava diminuindo antes do 11 de setembro. Depois, desabou completamente. Mas isso ocorreu em todo o setor de mídia.

Os verdadeiros motivos da raiva demonstrada pelos acionistas no Apollo são peculiares à companhia. O preço das ações da AOL Time Warner tem sido massacrado porque a companhia não conseguiu cumprir as metas de lucro e lançou muitas surpresas desagradáveis sobre os investidores. As ações caíram cerca de 40% desde o início do ano e cerca de 70% desde que a fusão da America Online com a Time Warner foi anunciada em janeiro de 2000.

O público na assembléia anual não estava feliz. Um investidor que mora em Nova York, Michael Hariton, criticou duramente Parsons e o presidente da companhia, Steve Case, por causa dos salários ?absurdos? que eles pagam a si mesmos. ?Vocês receberam pagamento antes que seu trabalho fosse feito.?

Parsons está assumindo o cargo de Jerry Levin, que renunciou na semana passada depois de 30 anos na companhia. Foi Levin quem fundou a HBO e, durante sua carreira, viu a companhia fundir-se com a Warner Brothers, tornando-se uma força em Hollywood.

Mas a história vai julgar a carreira de Levin com base no negócio da AOL.

Ele recebeu como remuneração US$ 147,6 milhões em 2001, mas agora está na rua da amargura, ganhando magros US$ 1 milhão anuais, prestando serviços de consultoria.

Insiders da companhia dizem que a morte do filho dele e o 11 de setembro remodelaram suas prioridades. Ex-estudioso da Bíblia, ele agora passa grande parte do tempo pregando moral sobre modernos conglomerados de mídia e criticando severamente os que buscam riqueza fácil.

O discurso de despedida de Levin esteve mais para o Antigo Testamento do que para a Nova Economia. Ele foi aplaudido de pé, com Parsons assim o descrevendo: ?Meu mentor, colega e muito bom amigo?. Outros membros da platéia não mostraram nenhum entusiasmo. Um investidor irritado disse:

?Visionário? O homem não criou nada. É uma nulidade?.”