Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

His Royal Highness e Mr. da Costa

Iniciada em junho de 2001, completa-se agora, dois anos depois, a publicação dos 31 volumes com a reprodução fac-similar do Correio Braziliense de Hipólito José da Costa, o jornal e o jornalista fundadores da imprensa brasileira. A coleção, organizada por Alberto Dines, é uma iniciativa da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, do Observatório da Imprensa e do Labjor-Unicamp.

Os livros trazem as 175 edições do jornal que circulou entre 1808 e 1822. O volume 30, em dois tomos, contém estudos sobre Hipólito, suas idéias e seu tempo. A partir desta edição, o OI reproduz para seus leitores os textos desses autores.


HIPÓLITO NA CORTE

Isabel Lustosa (*)

Agradeço a Alberto Dines a leitura atenta que fez deste texto e várias indicações bibliográficas, notadamente as que se referem à passagem de Hipólito pela Maçonaria portuguesa e à sua relação com os chamados “libertadores” (ver final deste artigo). Assunto para o qual me despertou a atenção.

Sobre a lápide em pedra lioz do túmulo do brasileiro Hipólito José da Costa, na igreja de St. Mary the Virgin, em Hurley, no condado de Berkshire, está gravado o seguinte epitáfio:

Dedicado à memória do comendador Hipólito José da Costa, falecido a 11 de setembro de 1823 com a idade de 46 anos [nascido na Colônia de Sacramento (região hoje pertencente ao Uruguai) em 25 de março de 1774, Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça tinha, na verdade, 49 anos quando morreu]. Um homem não menos distinto pelo vigor do espírito e proficiência científica e literária do que pela inteireza do seu caráter e atitudes. Descendia de uma nobre família do Brasil [sobre a família de Hipólito no Brasil, ver Dourado, pp. 15-29], e na Inglaterra residiu nos últimos dezoito anos durante os quais, por seus numerosos e valiosos escritos, difundiu entre os habitantes daquele imenso Império o gosto pelos conhecimentos úteis, a inclinação pelas artes que embelezam a vida e o amor pela liberdade constitucional, fundada na obediência às leis e nos princípios de mútua benevolência e boa vontade. Um amigo que conheceu e admirou suas virtudes, assim as recorda, para o culto da posteridade.

Esta bela homenagem de um amigo que preferiu permanecer anônimo é atribuída por um jornal inglês do tempo, o Gentleman?s Magazine, ao duque de Sussex. Palavras tão amáveis parecem anunciar uma alma amável. Em todas as biografias de Hipólito, nos documentos relativos à sua atuação na Maçonaria e no longo período em que viveu em Londres, a figura do duque de Sussex sempre aparece a ele relacionada como o protetor, o amigo que possibilitou a Hipólito condições de viver e escrever na Inglaterra sem que a mão da Justiça portuguesa conseguisse alcançá-lo.

O maior desafeto do brasileiro, o
conde de Funchal, embaixador da Coroa portuguesa em Londres,
confessaria aborrecido ao irmão, conde de Linhares, o
que o deixava de mãos atadas para punir Hipólito:
Sua Alteza Real, o duque de Sussex, fizera o favor de conceder-lhe
cidadania inglesa [Carlos Rizzini e Mecenas Dourado asseguram
que Hipólito não se

naturalizou. Os dois divergem quanto à situação
dele na Inglaterra. Segundo Dourado, Hipólito prestara juramento
de fidelidade ao rei da Inglaterra e, desta maneira, passara a gozar
de certas prerrogativas de cidadão inglês, sem no entanto
perder a nacionalidade de origem. Tonara-se denizen (Dourado,
pp. 243-54). Rizzini, por sua vez, registra declarações
do próprio Hipólito, segundo as quais o fato de ele
ter adquirido ações do Banco de Escócia davam-lhe
também todos os direitos de cidadão inglês (Rizzini,
pp. 39-40). Ver também sobre o assunto, a nota 31 do artigo
de Antônio Costela neste livro]. Mais do que isto, a amizade
com o duque fazia com que Hipólito fosse, no seu tempo, “the
only Brazilian with free access to the Royal Court” (Decho &
Diamond, p. 19). O necrológio de Hipólito publicado
no Gentleman?s Magazine, em dezembro de 1823, diz que: “Mr.
da Costa was Foreign Secretary to H. R. H. the Duke of Sussex and
his eminent talents and distinguished worth had deservedly endeared
him to his Royal Patron
” (apud Rizzini, p. 18).

Apesar de ser generosamente citado em muitas passagens da biografia de Hipólito, como veremos a seguir, pouco ou quase nada se diz sobre a trajetória do próprio duque de Sussex. Seu papel estratégico na proteção a Hipólito estaria relacionado com seu status familiar (filho de Jorge III e irmão de Jorge IV e de Guilherme IV) e à sua posição na Maçonaria Inglesa, da qual era o grão-mestre. Na História da Maçonaria em Portugal, Oliveira Marques cita Hipólito da Costa ressaltando a importância do duque de Sussex para a inauguração do Oriente Lusitano, instalado com base no Oriente Inglês (Marques, p. 79, nota 31). Ele afirma, na mesma nota, que documentos da Intendência Geral de Polícia demonstram a convicção em que se estava do papel fundamental do duque na estruturação da Maçonaria portuguesa. Na história da Maçonaria inglesa também ele aparece como o responsável pela união dos Antigos aos Modernos, a partir de 1813, quando se tornou grão-mestre da Loja Unida de Inglaterra, posto que ocuparia até morrer, em 1843 (ver sites relativos ao tema na bibliografia).

Mas nos textos específicos sobre a história da Inglaterra ou mesmo da família real inglesa, da geração de que fez parte ? dos filhos de Jorge III, ou dos irmãos de Jorge IV e Guilherme IV, ou dos tios da rainha Vitória ?, a presença do duque é apagada ou mesmo apresentada de forma negativa.

O que se pode supor, a partir do contraste entre a importância política atribuída ao duque de Sussex nas bibliografias brasileira e portuguesa e a sua quase imperceptível presença na história da Inglaterra, é que essa valorização seria fruto de uma leitura otimizada do papel da família real inglesa naquele momento. Como diz David Carradine, no começo do século XIX, a importância política do rei e de sua família já era parcialmente neutralizada pelo fato de se viver numa monarquia constitucional. Sabia-se, portanto que “a monarquia não era imparcial, não estava acima da política, e nem num Olimpo acima da sociedade, como aconteceria mais tarde, mas participava ativamente tanto da política quanto da vida social” (Carradine, p. 120).

Os filhos do rei Jorge III

De modo geral, a imagem pública dos filhos de Jorge III não era das mais positivas. Lorde Wellington diria que eles eram “the damnedst millstones about the neck of any government that can be imagined” (apud Priestley, p. 15). Alvos fáceis para os caricaturistas, quase todos mantiveram amantes, contraíram dívidas e viveram acossados por elas, com suas rendas limitadas pelo rei que pensava assim conter os hábitos perdulários dos filhos. Desprezados pela aristocracia por conta de sua relativa pobreza, manifesta em carruagens e vestimentas inferiores, eles eram igualmente detestados pelo povo, que os via como parasitas enquanto subiam os impostos para financiar a guerra contra Napoleão. Diz David Carradine que “as vidas, os romances e o comportamento dos filhos de Jorge III eram suficientes para fazer deles talvez a mais detestada geração real da história inglesa” (Carradine, p. 119).

Um dos biógrafos de Jorge IV diz que seus seis irmãos trouxeram desprezo e ridículo para a monarquia, embora o próprio rei não necessitasse de qualquer ajuda para isto (Priestley, p. 15). Chamado na intimidade de Prinny, Jorge, nascido em 1762, rebelou-se muito cedo contra a rígida disciplina do pai. Aos dezoito anos, envolveu-se com uma atriz, Perdita Robinson, e, em seguida, com lady Malbourne. Em 1785, casou-se secretamente com Maria de Fitzherbert, uma católica, o que era proibido pela lei que regulava os casamentos reais. Mas, em 1795, suas dívidas, boa parte delas contraída nas mesas de jogo, alcançavam a cifra fabulosa de 630 mil libras. Num esforço para convencer o Parlamento a pagá-las, ele afastou-se temporariamente de Maria de Fitzherbert e casou-se com a prima, Carolina de Brunswick. Separar-se-ia desta meses antes do nascimento da princesa Charlote, herdeira do trono da Inglaterra, em janeiro de 1796. Extremamente impopular, tanto por suas atitudes políticas como pela perseguição que moveu contra a popularíssima rainha Carolina, Jorge IV era tido como um mulherengo e um bêbado compulsivo, além de ser viciado em láudano. Apresentava no final da vida “a preposterous figure of debauched obesity” (Strachey) e sinais de insanidade.

Seu irmão, Frederick, o duque de York, segundo filho de Jorge III, foi alvo de um escândalo envolvendo a amante, Mary Anne Clarke, presa por vender comissões e promoções no Exército, do qual ele era o comandante-em-chefe. Apesar disto, numa biografia da rainha Vitória, ele aparece como “the only one of them ? so we are informed by a highly competent observer ? who had the feelings of a gentleman” (Strachey). Depois de Frederick, vinha Guilherme, o duque de Clarence, que subiria ao trono em 1830, com o título de Guilherme IV. Guilherme teve dez filhos com a famosa atriz Dora Jordan, com quem viveu publicamente por mais de vinte anos. Mas abandonou-a em 1812, ficando com os filhos (os FitzClarence) e deixando que ela morresse na França, sozinha e na mais absoluta pobreza em 1816. Edward, o duque de Kent, casar-se-ia a contragosto com uma princesa alemã para gerar um herdeiro para o trono, pois a princesa Charlote, filha de Jorge IV, morrera aos 17 anos, ao dar a luz a um bebê morto. Pai da rainha Vitória, o duque de Kent, que vivia há mais de 27 anos com madame St. Laurent, só concordou em casar-se para livrar-se de suas muitas dívidas. Ernest, o duque de Cumberland, era provavelmente o homem mais impopular na Inglaterra. Além do aspecto horrendo que lhe dava a falta de um olho, causada por ferimento de guerra, era tido como mal-humorado e vingativo na intimidade, pesando contra ele a suspeita de ter matado seu criado e engravidado a própria irmã, Sophie. Na política, revelou-se um violento reacionário, que exerceu grande influência sobre o irmão, Jorge IV. Uma das razões para a grande popularidade da rainha Vitória na juventude foi o fato de ter mantido seu detestado tio Ernest longe do trono (Strachey).

Sobre o duque de Sussex costuma-se dizer de maneira geral que tinha gostos literários e colecionava livros (Strachey), mas a principal referência biográfica é sempre seu casamento com lady Augusta Murray, declarado nulo pelo Royal Marriages Act. Na biografia de Jorge IV, ele aparece, em contraste com o sinistro duque de Cumberland, como um homem amável mas firme em suas posições liberais e um patrono, ainda que modesto, das artes e das ciências. Mesmo assim, o autor cita referência em The Dictionary of National Biography que, a seu ver, diz muito sobre ele: “In his later years he was in great request as chairman at anniversary dinners” (Priestley, p. 18).

Esta imagem frívola e sem grande expressão contrasta com a que dele deixou registrada o próprio Hipólito da Costa, em vários momentos do Correio Braziliense e com a que também transparece em várias passagens da biografia do brasileiro. Este texto recupera a biografia do duque, a partir, principalmente, do livro de Mollie Gillen (Royal Duke, Augustus Frederick, Duke of Sussex, 1773-1843) e de outras fontes, procurando relacioná-la com a influência e a presença do duque na vida e na obra de Hipólito da Costa.

Lisboa, 1801 ? primeiros encontros

Mecenas Dourado supõe que o primeiro contato de Hipólito com o duque de Sussex tenha se dado em 1801, quando um e outro se encontraram em Lisboa. Hipólito havia chegado da Filadélfia, onde se filiado à Maçonaria, e Augustus Frederick empreendia mais uma das inúmeras viagens para clima quente, em virtude de sua precária saúde. Sobre as circunstâncias desse primeiro encontro não há registros, apenas suposições.

De qualquer maneira, parece pouco provável que Hipólito não tenha se encontrado com o duque antes de ser preso. Em primeiro lugar, as diminutas proporções da Maçonaria em Portugal nesse tempo faziam com que todos os seus membros residentes em Lisboa fossem pelo menos conhecidos uns dos outros. Segundo, evidências registradas nas biografias de Hipólito levam a crer que ele retornara da América determinado a trabalhar pelo crescimento e progresso da Maçonaria em Portugal e que, com este propósito, manteve intensa atividade durante o período em que permaneceu em Lisboa, de 1801 a 1802 (cf. Marques, p. 79). Esta atividade clandestina teria sido a causa secreta de sua viagem a Londres e de sua subseqüente prisão. [Episódios relatados em Dourado e em Rizzini, 1957. O grau de envolvimento de Hipólito com a Maçonaria se evidencia na profundidade de seus conhecimentos maçônicos apresentada nos trabalhos que publicou depois, notadamente na Narrativa da perseguição. Ali reproduz suas respostas aos interrogatórios que nada mais são do que sofisticadas análises do caráter e dos propósitos da Maçonaria.]

Movido pela vontade de trabalhar pela Maçonaria, Hipólito deve ter procurado as figuras que, naquele momento, eram as mais representativas da organização em Portugal. É muito provável que, tanto ele como o duque tenham participado da assembléia maçônica cujo objetivo era promover a constituição rápida da Grande Loja Portuguesa e que se realizou no palácio onde vivia o general Gomes Freire de Andrade (Dourado; Rizzini, 1957). Naturalmente que a presença em Lisboa de um príncipe real inglês já iniciado na Maçonaria, à qual todos os seus irmãos eram filiados, seria motivo suficiente para estabelecer contato. O que não era coisa difícil de se obter, porque uma qualidade notória do duque era a facilidade com que criava um clima de familiaridade com as pessoas, sendo reconhecidamente figura simpática e jovial.

Seja qual tenha sido a natureza do contato estabelecido por Hipólito com Augustus Frederick, em Lisboa, o fato é que este teve de ser interrompido em 1802, quando o brasileiro partiu para Londres em missão oficial, encarregado também de uma incumbência junto às lojas maçônicas inglesas: uma consulta à Grande Loja sobre a possibilidade de as lojas portuguesas trabalharem sob a proteção da bandeira inglesa. Tal assunto não devia ser estranho ao duque, que deve mesmo ter dado instruções ao brasileiro de como proceder junto à Maçonaria de seu país.

Como se sabe, Hipólito foi preso assim que retornou a Lisboa, por ordem do intendente-geral de Polícia, Pina Manique. Contemporâneos afirmam que o duque trabalhou, “forte e descobertamente”, pela liberdade do irmão de ordem (Dourado, p. 101). Hipólito dirá, em 1815, que à sua perseguição devia a maior parte das amizades, da consideração e até da fortuna que gozava no meio de uma extensa roda de amigos de todas as classes respeitáveis da sociedade (Idem, p. 109). Dessas amizades, certamente, a mais importante, a mais significativa foi a que estabeleceu com o duque de Sussex.

Os documentos posteriores, particularmente os ofícios diplomáticos dos ministros portugueses na Inglaterra, testemunham a constante proteção dispensada pelo duque de Sussex ao redator do Correio Brasiliense. E convém dizer que conhecemos um dos gestos de Hipólito em honra dessa proteção e amizade: foi o de dar a um dos seus filhos os prenomes do duque: Augusto Frederico. [Dourado, p. 110]

Doenças e viagens: um amargo far niente

Quando chegou a Lisboa, em janeiro de 1801, para uma permanência que se estenderia até 1805, Augustus Frederick tinha 29 anos e nunca exercera qualquer atividade pública. Por conta dos problemas de saúde ou por razões que sua biógrafa não conseguiu identificar, ele fora mantido afastado tanto do serviço militar como de qualquer função de natureza diplomática ou política. Durante os sete anos anteriores, também gastara boa parte de seu tempo e de seus esforços, além de muito de seu prestígio pessoal e político, para fazer reconhecer em Inglaterra o casamento que contraíra, em 1793, em Roma, com lady Augusta Murray. Fora esta a única questão política com que se envolvera até então. Que seria apenas pessoal não fora o status do príncipe e a lei para os casamento reais de 1772.

Desde os treze anos de idade, Augustus Frederick vivera, na verdade, fora da Inglaterra. Tinha sido enviado, em junho de 1786, junto com os irmãos, Ernest e Adolphus, a Göttingen, na Alemanha, para estudar, seguindo uma prática adotada para todos os filhos homens de Jorge III, com exceção do príncipe de Gales. Em Göttingen, porém, começou a apresentar os problemas da saúde que o perseguiriam por toda a vida. As violentas crises de asma que o faziam ficar noites e noites em claro, quase sem conseguir respirar, sentado em uma cadeira de braços, foram associadas ao clima frio e úmido, e os médicos prescreveram climas mais amenos para a recuperação do doente.

Uma série de peregrinações pela Europa teria então início, prejudicando seus estudos e inviabilizando sua inclusão em qualquer atividade formal. Ao longo daqueles anos, apesar da doença, Augustus Frederick solicitaria insistentemente ao pai qualquer colocação que o pusesse em condição de servir ao país. Através da alentada correspondência que manteve sempre com a família, o príncipe solicita e implora qualquer destino, qualquer rumo para sua vida, propondo-se mesmo a tornar-se clérigo para, pelo menos, espiritualmente ser útil ao seu país. Em vão. Durante sete anos, apesar de Augustus Frederick escrever-lhe quinzenalmente, Jorge III nem sequer respondia às cartas do filho, conforme queixa deste ao príncipe de Gales. Enquanto aguardava uma colocação, o príncipe ocioso engordava em meio a jantares e festas, tornava-se fútil e indolente, construindo uma imagem internacional de bon vivant, de amigo das festas e da vida frívola da nobreza européia.

As loucuras do rei Jorge

Augustus Frederick era o sétimo filho de Jorge III (1738-1820), que teve quinze filhos. Durante o longo reinado deste (60 anos), os Estados Unidos se tornaram independentes da Inglaterra. Foi também em seu reinado que a Inglaterra travou guerra com a França até a derrota final de Napoleão. Enquanto governou, Jorge III exerceu forte pressão sobre o Parlamento no sentido de votar sempre da maneira que desejava, enfrentou a revolta dos whigs, partidários de um menor poder para o monarca e conseguiu impedir a aprovação de leis liberais como a que emancipava os católicos. Na década de 1790, a elevação dos impostos para pagar as despesas da guerra com a França tornou Jorge III extremamente impopular e ele chegou a ser alvo de vários atentados, dos quais o mais sério ocorreria em 1800, quando um homem disparou contra o seu camarote no teatro Drury Lane.

Uma estranha personalidade tinha o pai do duque de Sussex. Ao contrário dos filhos, quase todos movidos por paixões, Jorge III orientou sua vida no sentido de tudo sacrificar em nome de suas obrigações de monarca. Assim é que abriu mão de seu amor de juventude por lady Sarah Lennox que, sendo protestante e descendente de Carlos II, da dinastia dos Stuart, era considerada elegível, ou seja, apropriada para casar com o rei. Mas os interesses da casa de Hanover a que pertencia e a tradição de compromisso desta com o protestantismo, que lhes garantira a Coroa em detrimento dos Stuart, recomendavam que a escolha recaísse sobre uma princesa alemã e Jorge casou-se com Carlota de Mecklenburg-Strelitz, a quem só conheceu no dia do casamento. O casal teve quinze filhos, nove moças e oito rapazes, dos quais dois morreram na primeira infância.

Jorge III esforçou-se para construir a imagem de um monarca cuja vida privada era um modelo de retidão. Uma de suas primeiras proclamações intitulava-se “The Encouragement of Piety and Virtue”, e nela ele se dispunha a “punish all manner of vice, profaneness, and immorality“. Dedicado à família, o rei procurou dar aos filhos o exemplo de uma vida simples, em contato com a natureza, sem luxos exagerados, tentando habituá-los a dormir e acordar cedo, a manter uma dieta frugal, a não abusar de bebidas alcóolicas, a praticar exercícios e a ter disciplina nos estudos e no trabalho. Preocupava-se com as boas maneiras dos filhos e tinha uma lista de proibições quase absurdas, cujas recomendações ? “se tiver vontade de tossir não o faça de jeito algum mesmo que se sinta sufocar”; “se sentir vontade de espirrar trinque os dentes, mesmo que isto faça algum vaso explodir” ? já pareciam indicar uma mente original (Hibbert).

Jorge III terminou seu reinado louco. Os sinais de insanidade começaram a se manifestar em 1788, quando atacou o principe de Gales e tentou matá-lo. O rei foi colocado numa camisa-de-força e submetido a um doloroso tratamento; no ano seguinte, os médicos o consideraram recuperado. Mas ele voltaria a sofrer novos acessos em 1801 e 1804. Em 1811, declarou-se irremediável a insanidade do soberano, e a regência foi assumida pelo filho mais velho, também Jorge ? o príncipe de Gales que, com a morte do pai em 1820, seria coroado rei com o nome de Jorge IV.

A loucura do rei Jorge foi, mais tarde, identificada pelos médicos como um dos sintomas de porfiria, uma doença que costuma acometer membros de famílias reais em conseqüência de casamentos consangüíneos. Da prole do rei, suspeita-se que o próprio Jorge IV tenha apresentando sintomas da enfermidade, além de seus irmãos, os duques de York, Kent e Sussex. O filho deste último com lady Augusta Murray, Augusto d?Este, morreria aos 54 anos de esclerose múltipla, uma das formas de manifestação da doença.

Amor em Roma

Em janeiro de 1793, em uma das tantas viagens de que era feita a sua vida, Augustus Frederick seguiu para a Itália, onde reencontrou lady Augusta Murray (1768-1830), a quem não via desde a infância. Encontro que marcou sua vida. Até então, seus apelos ao rei para que lhe fosse concedida alguma função ou para que pudesse retornar a Londres haviam caído em ouvidos moucos.

Dez anos mais velha que o príncipe, Augusta era filha de lorde John Murray (1732-1809), quarto conde de Dunmore, que fora o último governador colonial da Virgínia (1771-76) e cujo nome está ligado à história da independência dos Estados Unidos. Enquanto o conde de Dunmore estava nas Bahamas, para onde fora nomeado governador em 1787, lady Dunmore e suas filhas conheceram Augustus Frederick na Europa.

Foi uma paixão fulminante. O jovem príncipe que, até então, limitara-se a flertes inconseqüentes, apaixonou-se perdidamente por lady Augusta. As cartas de amor trocadas pelo casal, mais tarde reveladas pelo filho deles, fazem parte das coletâneas do gênero e revelam um amor profundo de parte a parte, que se prolongaria por sete anos (ver o site www.loveletters.com).

Foi por saber que o casamento não contaria com a aprovação do rei que eles resolveram se casar secretamente, colocando depois os parentes diante do fato consumado. Usando de subterfúgios, Augustus Frederick atraiu o reverendo William Gunn à casa de Augusta na noite de 4 de abril de 1793, quando seus parentes não estavam, e o convenceu a celebrar a cerimônia. Este o fez muito a contragosto e apenas sob a promessa de que, houvesse o que houvesse, seu nome não seria revelado. Ao longo de muitos anos, em virtude das questões legais daí decorrentes, Augusta, Augustus e, depois, os dois filhos do casal, solicitariam em vão ao reverendo Gunn que testemunhasse diante do Parlamento inglês que oficiara o matrimônio em Roma para que este fosse considerado válido.

Uma lei desumana e cruel

A revelação do casamento para a família da noiva não mudou muito as coisas. Lady Dunmore perdoou o casal e acolheu o genro com muita amabilidade. Porém, quando o rumor afinal chegou a Londres, o rei ordenou a Augustus Frederick que voltasse para a Inglaterra. Augusta já esperava o primeiro filho e viajou separada do marido, chegando a Londres um mês depois, em outubro de 1793. No final de novembro do mesmo ano, disfarçados como simples burgueses e usando apenas seus nomes próprios, eles realizaram nova cerimônia de casamento em uma paróquia dos subúrbios de Londres, desta vez com testemunhas. O primeiro filho do casal nasceu em 13 de janeiro de 1794 e Augustus Frederick mal teve tempo vê-lo e de se despedir da mulher, tendo recebido ordens de partir de novo para a Itália. Em 24 de janeiro, o rei tomou oficialmente conhecimento do casamento do filho e deu ordens imediatas ao chanceler, ao arcebispo de Canterbury e aos demais ministros para proceder “in this unpleasant business” como a lei determinava, pois Augustus tinha se casado em idade inferior à permitida. Também deu ordens para impedir que lady Dunmore e sua filha deixassem o país (Gillen, p. 77).

O Royal Marriage Act, de 1772, determinava que nenhum membro da família real poderia se casar antes dos 25 anos sem a aprovação do rei e, depois desta idade, caso este vetasse a união, havia o recurso de recorrer ao Parlamento e aguardar um ano pela resposta. Caso uma das duas casas não concordasse com o matrimônio, caberia ao rei decidir se o casamento poderia ou não se realizar. Qualquer pessoa que assistisse a tal matrimônio ou dele soubesse com antecedência e não o denunciasse seria considerada culpada de praemunire, punida com a perda de todos os seus bens e títulos e ficaria presa conforme a vontade do rei. O casamento contraído em desafio à lei seria considerado nulo e sem valor, e ilegítimos os filhos gerados.

Fora o próprio Jorge III, motivado pela indignação que lhe causaram os casamentos de dois dos seus irmãos, quem engendrara essa perversa lei que não passaria sem muitas reações no Parlamento e na imprensa. Mas passou e todos os filhos de Jorge III foram vítimas dela. As filhas mulheres que se casaram só o puderam fazer depois dos quarenta anos. E a mais nova, Amélia, manteve um romance com um oficial, o capitão Charles Fitzroy, do qual teria nascido um dos 56 netos ilegítimos de Jorge III.

Um casamento marcado por separações longas e involuntárias

Apesar das tantas e conhecidas ligações de seus irmãos mais velhos e dos escândalos que se desenrolaram em Londres por conta delas, o caso de Augustus Frederick e de lady Augusta Murray teve um impacto maior junto à nobreza inglesa. Pois, tanto mrs. Fitzherbert, como a atriz Dora Jordan e madame St. Laurent eram tidas pelo rei e sua família como simples “ligações”, não sendo reconhecidas como membros da família real. De família católica, mrs. Fitzherbert não estava em condições de reivindicar qualquer coisa sob o reinado de Jorge III, tão pouco simpático aos católicos. As origens de Dora Jordan e de madame St. Laurent, por outro lado, também impossibilitavam qualquer pretensão. Já a família de Augusta era tão ou mais enraizada na aristocracia inglesa quanto a do próprio Jorge III.

Lady Augusta avait effet sur Maria l?avantage d?appartenir à l?Église établie, celui d?une descendance royale. Du cóté paternel elle comptait dans la lignée de ses ancêtres: Henri VII, roi d?Angleterre; Guillaume 1o, prince d?Orange; Louis, duc de Montpensier; Charles VII, roi de France. Du côté de sa mére qui était une Stuart, elle descendait de Jacques d?Écosse. [Wilkins, p. 164]

É possível que este fato, aliado ao empenho da família Murray no sentido de fazer reconhecer o casamento e, com isto, tornar legítimos os dois filhos nascidos da união, tenha exasperado ainda mais ao rei. Pois, tornados legítimos, os filhos do duque de Sussex seriam candidatos naturais ao trono, atrapalhando a estratégia de Jorge III que, com a lei de 1772, pretendia sobretudo garantir o controle sobre a sua sucessão.

Em julho de 1794, tanto o casamento realizado em Roma como o subseqüente, celebrado em Londres, foram considerados nulos com base no Royal Marriage Act. Durante cinco anos, Augustus Frederick foi mantido no continente, sem poder voltar a Londres, enquanto Augusta era impedida de sair da Inglaterra. Ao longo desse tempo, ele escreveu seguidas vezes ao pai, ao príncipe de Gales e às demais autoridades que podiam influir para fazer reconhecer seu casamento ou, pelo menos, obter que a mulher e o filho fossem autorizados a se reunir a ele no continente. Em vão.

Augustus Frederick também continuava com seus pleitos para que lhe fosse confiada alguma missão; e mantinha intensa correspondência familiar, na qual teve sempre a preocupação de relatar os fatos políticos e militares que, a seu ver, poderiam interessar ao governo inglês. Também não deixava de ocupar seu tempo, espírito curioso que era, aprimorando a cultura através dos estudos de história da arte, da música e da religião, além de começar a constituir, nessa fase, a valiosa biblioteca de que tanto se orgulharia futuramente. Durante sua última temporada italiana (de janeiro de 1794 a maio de 1798), dedicou-se ao estudo da música e ao canto, praticando oito horas por dia. No entanto, sem ocupação, longe da mulher e do filho, o príncipe dava seqüência à vida de playboy internacional da primeira juventude, em meio a grandes festas e suntuosos jantares devidamente registrados nas colunas sociais do tempo (Gillen, pp. 90-1).

Enquanto isso, seus irmãos Adolphus e Ernest lutavam na guerra contra a França, o último sendo seriamente ferido em combate. Com a Europa cada vez mais agitada, Jorge III determinou a mudança de Augustus Frederick para Berlim. Lá foi encontrá-lo lady Augusta Murray em agosto de 1799, mesmo sem ter obtido permissão para deixar a Inglaterra. Ela viajou clandestinamente usando o nome de mrs. Ford. O filho de cinco anos viajara semanas antes acompanhado por um criado do príncipe. Antes do final daquele ano, Augustus Frederick decidiu retornar para a Inglaterra com a mulher, independentemente da autorização do rei. Ao que parece, a possibilidade de reconhecimento do matrimônio ficara definitivamente afastada. O casal se estabeleceu em Londres e Jorge III, que no início se recusara a receber o filho, experimentou certo alívio ao achar que este se convencera que sua ligação com lady Augusta era apenas uma “ligação”.

Em Londres, na segunda metade do ano de 1800, Augustus Frederick preparou-se para mais uma viagem rumo a um clima quente. Desejando unir o útil ao agradável, pleiteou um posto em alguma colônia, Malta, talvez. Mas o primeiro-ministro William Pitt (1759-1806) disse-lhe polidamente que não havia nenhum cargo a altura dos “Illustrious Rank and Station of your Royal Highness“. Mantinha-se, segundo Mollie Gillen, o mesmo circulo: ele era importante demais para um emprego comum, e não era competente o bastante para ocupar um cargo à altura de seu status (Gillen, p. 110).

Foi assim que, em dezembro de 1800, Augustus Frederick partiu para Lisboa, tendo sido, em 27 de novembro, elevado a barão de Arklow, conde de Inverness e duque de Sussex. O rompimento com Augusta Murray deu-se pouco depois de sua partida e teve como pretexto o nascimento da segunda filha do casal em agosto de 1801 que, possivelmente por dúvidas (logo superadas) em torno de sua origem, só veio a ser reconhecida pelo pai um ano após o nascimento. O mais provável é que Augustus Frederick estivesse cansado de uma relação que se arrastava em meio a intensa luta contra o poder da Coroa inglesa, cansado também da situação de inferioridade que a vida toda lhe relegara o pai e que fora agravada pelo casamento com Augusta. A recente aquisição dos títulos e a pressão exercida nesse sentido pelo príncipe de Gales devem ter sido decisivas para o desfecho do caso.

Lady Augusta ainda faria uma tentativa de salvar o casamento, viajando clandestinamente a Lisboa em março de 1802. Hospedado no Palácio das Necessidades, o duque de Sussex recusou-se a vê-la, chegando mesmo a tomar um navio para Gibraltar. Augusta retornou sem ter encontrado o marido, mas com a promessa de que suas dívidas seriam pagas.

Outro episódio dessa trama político-sentimental foi mencionado por Mecenas Dourado em sua biografia de Hipólito: a visita do capitão George Murray, irmão de lady Augusta, ao duque de Sussex em Lisboa, levando-lhe documentos pelos quais este assumiria responsabilidades materiais para com lady Augusta e seus dois filhos. Ocorrido em agosto de 1802, o encontro foi marcado pelas ameaças públicas feitas pelo capitão ao duque (Dourado, pp. 101-07).

Em outubro de 1803, o conde de Dunmore voltou afinal das Bahamas. Recebido em audiência por Jorge III, queixou-se do tratamento dispensado pelo duque de Sussex à sua filha e aos dois filhos do casal, principalmente no que dizia respeito à manutenção da família. O rei ouviu as queixas sem nada dizer, mas quando Dunmore começou a acusar o duque de falta de sentimentos para com os filhos, Jorge III gritou, transtornado: “Bastardos! Bastardos!”.

O conde, segundo a narrativa de um de seus filhos, teria retorquido com uma expressão de lesa-majestade: “Yes, Sire, just such bastards as yours are“. O soberano, então com 73 anos, encarou furioso o conde, de 71, e gritou: “What, what, what?s that you say, My Lord?” Ao que, Dunmore, enfrentando-o, voltou a afirmar que sua filha era legalmente casada com o filho de Jorge III e que, portanto, seus filhos eram tão bastardos quanto os do próprio rei. Apesar deste episódio, em abril de 1806, um acordo foi feito com lady Augusta Murray, pelo qual eram atendidas suas demandas, desde que cessasse todos os procedimentos legais contra o duque de Sussex e deixasse de usar os títulos pertencentes ao mesmo (Gillen, p.136).

Vontade de trabalhar e inexperiência

Em Lisboa, o duque de Sussex foi hóspede do príncipe regente, d. João, no Palácio das Necessidades. Como de outras vezes, nenhuma fora encarregado de nenhuma missão política, militar, cultural ou diplomática. Continuava tutelado pelo pai, através de secretários e cavaleiros que o acompanhavam com a função de, entre outras, administrar suas finanças. Se essa situação sempre o incomodara, agora, aos 29 anos, na plenitude do uso de todos os títulos de nobreza a que tinha direito um príncipe real, ela lhe parecia totalmente humilhante. Apesar do aspecto geral de Lisboa não lhe ter agradado no início, o clima era favorável à sua saúde e seu interesse pelas intrigas políticas locais prolongariam sua permanência em Portugal por cerca de quatro anos.

A vontade de ter alguma ação efetiva fez com que o duque, que fora tão amavelmente recebido por d. João, manifestasse a intenção de acompanhá-lo na visita que o regente faria às tropas acampadas na fronteira. Também se ofereceria para lutar como voluntário num eventual confronto com a França, atitudes que provocariam os primeiros dos tantos problemas que teria com os representantes oficiais da Inglaterra em Lisboa. Mas seria com a Paz de Amiens, concluída entre a França e a Inglaterra em março de 1802, e com o estabelecimento do marechal Jean Lannes como embaixador da França em Lisboa que o duque ocuparia a cena principal.

Personagem tão ou mais alheio à tradição diplomática quanto o duque de Sussex, Lannes ? um típico general do exército de Napoleão, de origem modesta, sem muita cultura nem maneiras polidas ? adotaria uma política diplomática tão agressiva em Lisboa que seria inicialmente repelido por d. João (Chrisawn). A visão superestimada que, em sua correspondência, Lannes deixou da importância política e estratégica do duque de Sussex naquele momento passou à história. Através do constante relato que fazia a Napoleão dos progressos de sua política diplomática, Lannes acentuava a “enorme influência” do príncipe inglês sobre a nobreza portuguesa.

Segundo o embaixador da França, o príncipe inglês não tinha vergonha de freqüentar os quartéis, misturando-se com os soldados, bebendo com eles e dando-lhes comidas e roupas. Tal conduta era, para Lannes, um exemplo da baixeza e perfídia inglesas. Hospedado no Palácio das Necessidades, o duque teria a casa, a mesa, os estábulos e até mesmo as dívidas pagas pelo príncipe regente. Como agradecimento, acrescentava Lannes, o duque se misturava em vergonhosas orgias com os nobres e liderava uma revolta contra o regente (Chrisawn).[No entanto, para o historiador português Joaquim Veríssimo Serrão, na verdade, foi Lannes quem deixou uma imagem negativa. “Sua estada entre nós”, diz, “traduziu-se em atos de contrabando, no roubo de objetos de valor e em conflitos pessoais, além de uma constante intromissão nos atos do governo” (Serrão, p. 329). A demissão de Pina Manique da direção da Alfândega fora, ainda segundo Serrão, exigida por Lannes, após o intendente de Polícia ter prendido, sob a acusação de contrabando, um ajudante do diplomata. “Acrescente-se que, para satisfazer a sua venalidade e os caprichos de sua esposa, Lannes mandou retirar do Museu Real da Ajuda centenas de espécies naturais ? conchas, aves, répteis, pedras em ouro, cristais, etc. ? muitas delas enviadas do Brasil pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira e que hoje constituem o espólio do Museu de Arte Natural de Paris” (Serrão, p. 330).]

Em 1803, era de fato considerável o prestígio do duque de Sussex junto a d. João, e ele chegou a ser convidado pelo príncipe regente para ser general do Exército português. Lannes acreditava que o objetivo de Augustus Frederick era ser o comandante- chefe e forçar a mão do regente para fazer do governo de Portugal um mandato inglês (Gillen, p. 124). Mas um incidente propiciou uma mudança de posição, favorecendo Lannes junto a d. João em detrimento do duque. Foi o papel que este, vítima de ingenuidade política, desempenhou nos famosos Motins dos Campos de Ourique. Episódio sempre citado, os motins foram provocados pelo general Gomes Freire de Andrade e pelo marquês de Alorna, com o objetivo de desacreditar e reduzir o poder que havia sido dado à Real Guarda de Polícia, idealizada por Pina Manique, com a aprovação de d. João, para garantir a ordem interna. Comandada por um emigrado francês, o conde de Novion, a Real Guarda de Polícia era repressiva e impopular, perseguindo os maçons e todos aqueles, que, segundo os critérios de Pina Manique, adotassem posturas liberais.

Ameaçados pelo crescente prestígio daquela força, a qual fora atribuído o status de regimento de linha, Gomes Freire e Alorna aproveitaram-se da festa de Nossa Senhora da Piedade, que se realizava nos Campos de Ourique, para fabricar, na noite de 24 de julho de 1803, um falso distúrbio entre os homens de seus batalhões. Quando a Real Guarda de Polícia interveio para restabelecer a ordem, os homens de Gomes Freire, incentivados pelo povo, a atacaram. Novion encontrava-se no Palácio de Queluz com o príncipe regente e, ao ser informado do que se passava, rumou para Ouriques e lá foi preso por Gomes Freire.

Foi na carruagem do duque de Sussex e acompanhado por ele que Gomes Freire seguiu para Queluz a fim de dar as suas explicações a d. João. O príncipe regente, irritado com todo o episódio e com a prisão de Novion, recusou-se a recebê-lo, mas concedeu breve entrevista ao duque. Gomes Freire recebeu ordens de ficar à disposição do comandante do distrito e, em seguida, o duque foi reunir-se a ele e a Alorna no quartel, onde ficaria até a madrugada.

Segundo Mollie Gillen, Gomes Freire acabou convencendo o duque de que uma situação de extremo perigo para Portugal fora abortada por sua intervenção em Ouriques. Já impressionado com a forte presença francesa em Lisboa, o duque resolveu alertar d. João do perigo e escreveu-lhe longa carta na qual dizia que o confronto entre a tropa e o povo não tinha sido um episódio banal. Sugeriu que d. João aproveitasse a prisão de Novion e de seus ajudantes para os submeter imediatamente a uma corte marcial. E exaltou Gomes Freire que, a seu ver, arriscara a própria vida para salvar a de d. João e restaurar a ordem pública. O duque também dizia acreditar que a Real Guarda de Polícia estava infiltrada pelos jacobinos (Gillen, p. 127; GEPB, pp. 440-41).

D. João sentiu-se ofendido com o caráter da carta e fez saber ao embaixador inglês, lorde Robert Fitzgerald, que não tornaria a receber o duque até que este se comprometesse a não mais se intrometer “de algum modo direto, ou indireto, nos negócios internos do governo” (GEPB, p. 441). Lannes aproveitou-se do episódio e da amizade de Augustus Frederick com os maçons, Gomes Freire e Alorna, para aproximar-se de d. João e para alarmar Lisboa com boatos sobre uma suposta conspiração maçônica internacional em que estaria envolvida a nobreza, liderada pelo príncipe inglês, contra o príncipe regente e hostil aos interesses portugueses. [Gomes Freire e Alorna eram, de fato, representantes da nobreza portuguesa empenhada em preservar seus privilégios e adversários de d. Rodrigo, o ministro pró-Inglaterra que era visto pelos nobres como contrário a esses mesmos privilégios. Gomes Freire de Andrade (1757-1817): nascido em Viena de pai português e de uma fidalga austríaca, foi educado naquela Corte para a carreira militar. Combateu em Argel e na Rússia, sob o comando do príncipe Potemkin. Aos 36 anos foi incorporado no exército português e participou de várias operações militares mas nunca foi bem aceito pelos superiores a quem não reconhecia competência. Preso em função dos acontecimentos relatados acima, foi solto por influência do duque de Sussex mas, em seguida, transferido, com seu batalhão, para Cascais. Foi executado em 1817 por conta de seu envolvimento na conspiração liberal.]

O embaixador da Inglaterra contornou o episódio e o próprio d. João convenceu-se de que tudo não passara de um mal-entendido e que o duque não tivera a intenção de ofendê-lo. Este, quando se deu conta da dimensão de sua gafe, temendo a reação do pai, pensou mesmo em sair do Palácio das Necessidades e deixar Portugal. Tendo obtido a promessa de lorde Fitzgerald de que nenhum despacho oficial ou privado sobre o episódio seguiria para a Corte da Inglaterra, resolveu permanecer em Lisboa. Mas, para suas pretensões futuras, este seria mais um fator a distanciá-lo dos desejados postos de responsabilidade.

Encontro em Lisboa

Foi este o duque de Sussex que Hipólito encontrou em Lisboa, em 1801: imponente, muito louro, alto, corpulento, simpático, boa voz, de fácil contato, tratando com excessiva familiaridade a todos, inclusive aos subalternos, amigo dos jantares e das festas (vocação que o acompanharia por toda a vida). Como visto, era um novato em questões políticas, para as quais só despertara na Itália, em 1793. Seus laços com a Maçonaria inglesa, apesar da vinculação de seus irmãos mais velhos, eram ainda tênues.

Apesar dos esforços de Jean Lannes para fazer com que se acreditasse que o duque era o líder de uma vasta conspiração internacional maçônica, Mollie Gillen acha que, em Portugal, o interesse maçônico do duque ainda era incipiente. Ela acredita mesmo que deve ter sido o contato com o jovem brasileiro Hipólito da Costa ou com Gomes Freire de Andrade que o levou a seu maior envolvimento com a Maçonaria e que ajudou a fixar o mito de seu papel fundamental na Maçonaria portuguesa naquele momento (Gillen, p. 124).

Portugal parece ter sido um marco em sua vida. O fim de seu casamento com Augusta Murray, o aprofundamento de seus relações com a Maçonaria que teria, depois, papel tão importante em sua vida, e o começo, ainda que desastrado, de seu envolvimento em questões políticas. O que transparece do episódio dos Campos de Ouriques, no entanto, é também a boa intenção do duque, a vontade de ajudar, acreditanto que abriria os olhos de d. João para o que se passava.

Quando o duque de Sussex chegou a Lisboa, em janeiro de 1801, Hipólito acabava de retornar de sua viagem à Filadélfia. Sua biografia é bem mais conhecida entre nós do que a de Augustus Frederick e, por enquanto, basta dizer que, quando possivelmente se encontraram pela primeira vez o duque tinha 29 anos, apenas um a mais do que Hipólito. Enquanto Augustus Frederick tivera até então uma vida de playboy internacional, com os estudos prejudicados pelos constantes problemas de saúde, e com a vida profissional anulada pela indiferença ou intenção do rei em mantê-lo ocioso, Hipólito orientara-se para os estudos desde a primeira infância, fora um brilhante aluno da Universidade de Coimbra e passara dois anos nos Estados Unidos em importante missão para o governo português. Esses antecedentes, aliados a um agudo sentido de observação e a uma considerável cultura geral, faziam de Hipólito da Costa uma figura respeitada em Portugal. Como demonstra Mollie Gillen, o prestígio do duque, bem como a suposta influência sobre o meio lisboeta em que viveu parecem pertencer mais ao mundo das ilações históricas do que à realidade. Certamente, o alto status de filho do rei da Inglaterra deveria assegurar-lhe a reverência da melhor sociedade portuguesa, contribuindo para alimentar a lenda. Que, de resto, não deveria desagradar a um príncipe tão carente de reconhecimento.

O provável encontro de Hipólito da Costa com o duque de Sussex em Lisboa, no entanto, foi seguido de uma longa separação. Durante os três anos em que passou nos cárceres da Inquisição, ele Hipólito permaneceu quase que totalmente isolado, sem contato com o mundo exterior, e quando por fim fugiu da prisão em 1805, o duque de Sussex já estava na Inglaterra.

Entre os seus: Londres, 1805-1809

Em 1804, uma nova e ainda mais grave crise do rei Jorge III fez com que o duque de Sussex voltasse à Inglaterra. Sua volta foi bem recebida pela família e os primeiros dois anos passados em Londres foram de reintegração e convívio mais estreito com as irmãs mais novas (Mary, Sophie e Amelia) e com a sobrinha Charlotte, herdeira do trono e a quem se tornaria particularmente afeiçoado. Nesta fase, esteve também, como nunca estivera antes nem voltaria a estar depois, bastante próximo do irmão mais velho, o príncipe de Gales.

Em meados de 1806, um posto disponível na Jamaica acendeu-lhe de novo a esperança de obter uma colocação que garantisse, ao mesmo tempo, o reconhecimento de suas capacidade, algum rendimento e o clima quente que sua saúde reclamava. Ao candidatar-se à vaga, o duque lembrou que chegara aos 34 anos sem qualquer demonstração de aprovação ou de confiança do governo, enquanto todos os seus irmãos desfrutavam de posições lucrativas e de responsabilidade.

Em setembro de 1806, no entanto, a doença de Augustus Frederick piorou, agravada por seu estado de espírito, descrito pelo irmão a que era mais próximo, o duque de Kent, como “unusual despondency of mind […] an alarming degree of incipient hypochondria“. Estado de espírito que era produto também da convicção a que ia chegando de que nunca teria um emprego oficial. Mergulhado em profunda depressão, ele escreveria, em outubro, ao príncipe de Gales: “I am here not only a useless being but a burden to myself and friends” (Gillen, p. 145).

O duque de Sussex não obteve o posto da Jamaica, ocupado por outro, considerado mais capaz. Em 1808, seu irmão, o duque de York, fechou-lhe definitivamente as portas do Exército, do qual era comandante-chefe, alegando, através de mensagem oficial, que Sua Majestade ficara sensibilizada com a oferta de seus serviços, mas que, como o duque nunca havia estado antes no Exército, a opinião do rei é de que era tarde demais para que entrasse na profissão.

Em 1809, excluídas todas as esperanças de uma colocação formal, ficou claro para Augustus Frederick que as viagens ao estrangeiro eram coisa do passado e sua vida sofreu uma guinada. Como diz Mollie Gillen, naquele momento de crise, ele afinal percebeu que sempre haveria inúmeras oportunidades para um príncipe imbuído de espírito público, cheio de energia, estudioso, gregário, interessado numa variedade de assuntos e nos problemas de seu país.

There were charities to patronize, Masonic ambitions to further, educational and cultural projects to sponsor, protégés to help, reforms to work for, government mesures to support or oppose. […] With his favorite brother the Duke de Kent, also cast out into the wilderness of public inactivity, he managed to be very active indeed. [Gillen, p. 147]

Jorge IV

A primeira aparição do duque de Sussex nas páginas do Correio Braziliense foi motivada por dois discursos que pronunciou no Parlamento contra as limitações dos poderes de regência conferidos a seu irmão, o príncipe de Gales, em virtude da doença do pai. No primeiro deles, datado de 20 dezembro de 1810, Augustus Frederick, segundo Hipólito, falou com “superior eloqüência” para defender apaixonadamente os direitos constitucionais do príncipe de Gales (CB, 5:661-66).

No segundo discurso, datado de 28 de janeiro de 1811, sobre a mesma matéria, o duque afirmou que expunha ali suas opiniões como “um ardente amigo de meu pai e soberano, como um ardente amigo do príncipe de Gales, meu irmão e como um mais ardente amigo de tudo que possa ter por sagrado na Constituição” (CB, 6:168). Mais adiante, Hipólito justifica a publicação do discurso do duque de Sussex ? ao lado do pronunciado pelo conde de Liverpool, da situação ? como exemplar da fala da oposição na Câmara dos Lordes (CB, 6:206). Partido ao qual pertencera, durante toda a vida, o príncipe de Gales.

Desde que se estabelecera em Londres, em 1804, o duque de Sussex estreitara os laços com os irmãos. Sobretudo com o príncipe de Gales, compartilhando as idéias políticas e as amizades que então ligavam o herdeiro do trono inglês e alguns de seus irmãos aos Whigs. Espírito aberto às novas idéias, observador atento das transformações por que passava o continente europeu, onde vivera por dezoito anos, influenciado ainda pelo espírito liberal da Maçonaria inglesa, à qual ia gradualmente se integrando, o duque de Sussex se alinharia naturalmente com os Whigs.

Desde a juventude, quando se tornara independente do pai, o príncipe de Gales adotara o partido da oposição. Enquanto Jorge III preferia ministros Tories, o príncipe de Gales cercou-se de aliados Whigs, contando entre seus amigos Charles Fox, Edmund Burke e William Sheridan. No entanto, ao assumir a regência, em 1811, ele mudaria de atitude.

As limitações impostas pelo Parlamento à regência deixaram poucas possibilidades de ação imediata ao príncipe de Gales. Antes disto, no entanto, a morte de Charles Fox, em 1806, líder da velha guarda dos Whigs, com a qual ele mais se identificava, deixara os Whigs divididos e fragilizados. Diante desse quadro, o príncipe de Gales acabou por convidar o chefe do ministério Tory, lorde Spencer Perceval, a continuar no cargo. Tal atitude exasperou os Whigs que imaginavam subir ao poder com ele e passaram a considerá-lo um traidor (Carradine, p. 119). De fato, sob a influência dos Tories, o príncipe de Gales passou a acreditar que os sentimentos liberais e antimonárquicos de seus amigos Whigs eram “unfavourable to good government” (Priestley, p. 35). Deste ponto de vista, ele não só reavaliaria a necessidade da reforma parlamentar proposta pelos Whigs, pela qual o poder do monarca sofreria maior controle do Parlamento, como também adotaria a mesma postura intransigente do pai na questão da emancipação dos católicos.

Jorge IV foi, tanto na regência quanto em seu reinado, extremamente impopular. Além da guinada política para a direita, as questões relacionadas ao seu casamento com a princesa Carolina de Brunswick contribuíram para afastá-lo do povo. O casamento de conveniência se desfez tão logo foi confirmada a gravidez da princesa de Gales. A aversão mútua do casal, evidente desde o primeiro encontro, converteu-se em profunda inimizade ao longo dos anos. Vivendo a maior parte do tempo no estrangeiro, a princesa de Gales, cujo temperamento forte e comportamento liberado para os padrões do tempo chocavam, foi observada por espiões que depois depuseram contra ela num processo que ficou conhecido como “a Delicate Investigation“. Processo secreto realizado no Parlamento inglês, em 1806, baseado na suposição de que a princesa teria dado à luz a um filho bastardo.

Em 1820, com a morte de Jorge III, Carolina reivindica direitos de rainha da Inglaterra e enfrenta novo processo. Desta vez, para que o casamento dela com Jorge IV fosse considerado nulo e seu nome excluído das preces pela família real nas liturgias da Igreja Anglicana. Apesar dos escândalos que envolveram seu nome, largamente explorados pela imprensa e pelos caricaturistas, Carolina era extremamente popular. Enquanto durou o processo, em suas idas e vindas à Casa dos Lordes, era saudada entusiasticamente pelo povo. O duque de Sussex, seu cunhado, que, em 1806, testemunhara contra ela no primeiro julgamento, tomaria seu partido em 1820, e acabaria associado a ela na simpatia do povo que apreciava a rainha e detestava o rei.

Jorge IV determinou que, durante sua coroação, a entrada da rainha na abadia de Westminster fosse impedida. De fato, Carolina teve que voltar da porta, mas isto motivou uma série de manifestações públicas de repúdio ao rei que só cessaram quando ela morreu subitamente em agosto de 1821. Jorge IV morreu em 1830. Sua impopularidade era tanta que o jornal The Times publicou um editorial onde se lia: “Nunca houve morte menos sentida do que a deste rei”, indagando em seguida: “Quem derramou sequer uma lágrima por ele? Qual o coração que estremeceu com uma palpitação de tristeza desinteressada?” (Carradine, p. 120).

Um príncipe liberal

A guinada do príncipe de Gales para o partido conservador o afastaria gradualmente, durante a regência e, depois, ao longo de seu reinado, do irmão mais novo. O duque de Sussex marcaria sua ação na política e na sociedade inglesas por uma corajosa atitude de oposição. Ele revelou-se um verdadeiro liberal no Parlamento, trabalhando pela emancipação de católicos, judeus e protestantes dissidentes, pela abolição da escravatura e por uma reforma parlamentar tendente a ampliar os direitos dos Comuns perante a Câmara dos Lordes.

The Duke dedicated himself to reform, to helping the less fortunate where his name and active presence could bring benefits, and to studying for a close understanding of all matters under consideration by the Parliament where injustice might be perpetuated; but he never campaigned for personal power. [Gillen, p. 185]

Segundo Hipólito da Costa, no discurso que pronunciou em 1812, em defesa dos católicos da Inglaterra, o duque “desenvolveu os verdadeiros princípios do cristianismo, recomendando a tolerância mútua pelos sentimentos cristãos, pela política do Estado e pelos ditames da filosofia” (CB, 8:300, apud Dourado, pp. 138-9).

Mais tarde, em 1814, o duque de Sussex tomará a defesa dos interesses portugueses e brasileiros prejudicados pelo Tratado de Paris (1814). Apesar do tratado ter determinado a devolução de Caiena aos franceses, disse o duque, “não se fez menção da restituição de Olivença da parte de Espanha a Portugal”. O duque lembrou a obrigação em que estava o gabinete inglês de defender Portugal, que fora prejudicado “pela adesão do príncipe regente português com S. M. britânica, […] porque o sacrifício daquele distrito tinha sido o preço, que custara a Portugal a sua constante adesão aos antigos tratados com a Grã- Bretanha”. Sua Alteza Real, acrescenta Hipólito, esperava, portanto, que o gabinete britânico “houvesse de esforçar toda a sua influência na presente ocasião para obter ao Brasil a mesma linha de marcação que fora estipulada no tratado de Utrecht” (CB, 13:821-26).

Todavia, o discurso mais polêmico do duque foi aquele em que questionou a legalidade do ato do Parlamento britânico que determinou a prisão de Bonaparte na ilha de Santa Helena: “Condenar a um desterro distante e à prisão um estrangeiro e chefe cativo, o qual, depois da abdicação de sua autoridade, confiando na generosidade britânica, se rendeu a nós, em preferência de seus outros inimigos, é indigno da magnanimidade de uma grande nação”. Hipólito ressalta no protesto do duque a força institucional da Constituição inglesa, pois a falha do Parlamento teria sido a de deixar de estender a proteção da Constituição, “não já a uma nação estrangeira, mas a um indivíduo, que havia sido terrível inimigo de seu país” (CB, 16:296-97).

De resto, a defesa da Constituição e do modelo de monarquia constitucional inglesa estaria sempre na base das palavras do duque de Sussex. No primeiro discurso que pronunciou em defesa do direitos da regência do príncipe de Gales, ele lembrou que residira dezoito anos no continente, “durante o progresso dessa terrível e calamitosa revolução” e, observando seu desenrolar, concluíra que o fato que antecedera a queda de todos os governos fora “pôr a magistratura da realeza em suspenso e falta de reputação, ou inflamar, injuriar e prejudicar o espírito do povo contra o seu soberano e seus herdeiros”. Na opinião de Augustus Frederick, mais sagrada até do que a família real em Inglaterra era a sua Constituição: “Tão magistralmente estão equilibradas as suas três partes componentes que, se um dos três ramos sofrer uma invasão, isto trará consigo a queda dos outros dois”.

Parodiando as palavras de William Pitt, presidente da Casa dos Lordes em 1788, quando Jorge III foi afastado do trono pela primeira vez: “Que Deus se esqueça de mim se eu me esquecer de meu rei”, o duque de Sussex cunhou a frase que expressava melhor sua devoção: “Que Deus se esqueça de mim se eu me esquecer da Constituição de minha pátria”, completando: “Esta Constituição que tem sido a nossa ostentação por tanto tempo; e a inveja de toas as nações que nos cercam e que, pela falta desta benção, tem todas sido confundidas em uma horrível massa de anarquia, ruína e desesperação” (CB, 5:665-66).

Grão-mestre tolerante e eficiente benemérito

A importância do duque de Sussex na história da Maçonaria inglesa é ressaltada na bibliografia sobre o assunto. Ele, que se iniciara em Berlim aos 26 anos, a 20 de dezembro de 1798, só passaria a manter uma atividade maçônica regular a partir de 1806. Em 1813, sua ação, ao lado do duque de Kent, na liderança das duas frentes ? os Antigos e os Modernos ? em que se dividia a Maçonaria inglesa contribuiu decisivamente para a reunião delas na United Grand Lodge, da qual foi eleito grão-mestre. Revelou-se neste posto o líder da união e da tolerância, contribuindo para o progresso e a expansão da ordem em todas as camadas da sociedade e em todas as etnias. Valendo-se da autoridade de grão-mestre do Grande Oriente Inglês, base maior da Maçonaria no mundo, ele estimulou a expansão das lojas maçônicas entre os negros americanos, entre os turcos na Alemanha, entre os irlandeses na Inglaterra e nas ilhas do Pacífico. Tendo sido sempre um estudioso das religiões, respeitando todos os credos, trouxe para a Maçonaria um clima de plena tolerância religiosa. Proclamando-a universal, removeu as referências cristãs das leituras e rituais, favorecendo o incremento das lojas maçônicas judaicas.

These superficial changes, which reflected a desire for Freemasonry to be open to all men believing in God irrespective of their creed, were fostered by the Duke of Sussex who was a Hebrew scholar, a member of Jewish learned societies and also a supporter of Christian Emancipation. [Apud http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/8291/donfr.html]

Eleito presidente da Society for Encouragement of Arts, Commerce e Manufactures em 1816, cargo que ocupou até sua morte em 1843, ele promovia anualmente a entrega de prêmios a todos aqueles que tivessem contribuído para o progresso científico e tecnológico, inventando ou desenvolvendo melhoramentos em qualquer ramo do conhecimento prático. Seu interesse permanente por novos inventos e instituições aproximou-o também do socialista utópico Robert Owen, amigo de seu irmão Edward, o duque de Kent. Numa visita a Owen, este, usando cubos, fez-lhes uma demonstração da “proportionate amount of the different classes of society” (Gillen, pp. 181-22).

O duque de Sussex presidiu cerca de setenta instituições de caridade. Talvez a mais importante delas tenha sido o hoje chamado Queen Charlotte Maternity Hospital. Após assumir o cargo de presidente de seu conselho diretor em 1809, outro posto que ocupou até morrer, convenceu a mãe a tornar-se patrona do hospital que passou, a partir daí, a chamar-se Queen Charlotte (antes, chama-se Bayswater Lying-in Hospital). O duque atraiu outros príncipes e princesas de sua família para colaborarem como patronos do hospital e promoveu uma série de mudanças e melhoramentos que fizeram com que, em 1815, todas as dívidas da instituição estivessem pagas. Em 1825, ele tinha orgulho de dizer que, desde o começo de sua administração, o Queen Charlotte atendera 46 mil mulheres pobres. O hospital admitia tanto as mulheres casadas como as não casadas, proporcionando a todas o mesmo tipo de assistência, ainda que as mantivessem separadas, “that the morals of one might not be corrupted by other” (Gillen, p. 154).

O prestígio de Sua Alteza Real

Nas duas biografias mais completas de Hipólito da Costa, a influência do duque de Sussex é apresentada como fundamental para o seu estabelecimento em Londres e para que a empreitada do Correio Braziliense não fosse prejudicada pelos inimigos. A intervenção excessiva do duque em alguns episódios, a facilidade com que se envolveu, por exemplo, nas negociações com o conde de Funchal (Dourado, pp. 380-81), ganha nova luz a partir dos aspectos da biografia do duque registrados acima. É uma presença miúda, constante, fácil, como fora em Lisboa junto a Gomes Freire.

Não deixa de ser uma presença ilustre, com cacife para escrever a d. João no Rio de Janeiro em defesa dos interesses do amigo (Dourado, pp. 112-13). Mas o que sua biografia nos revela é que ele não era um príncipe tão prestigiado como levam inicialmente a crer as menções a ele nos estudos sobre Hipólito da Costa e a história da Maçonaria em Portugal. Era, como vimos, um príncipe que, depois de ter sido deixado de lado pelo pai, viveu em constante litígio com o irmão poderoso, militando sempre no partido da oposição; um príncipe que vira todas as reivindicações que fizera aos governantes de seu país serem negadas; um príncipe cujas rendas eram muito inferiores às dos irmãos e que, por isso, viveria sempre acossado por dívidas. Mesmo suas qualidades ? bonomia, facilidade em estabelecer relações e desconhecer diferenças, falta de ambição pessoal ? seriam usadas contra ele. Entre os políticos do tempo, sua imagem era ridicularizada como a de um comediante, e as obras sociais que patrocinou, apresentadas pela imprensa Tory através de caricaturas e anedotas como simples pretextos para novas festas e jantares (Gillen, pp. 157, 166 e 181).

Essa imagem recuperada por sua imparcialíssima biógrafa contrasta com a que dele procurou projetar entre nós, através das páginas do Correio Braziliense, seu amigo Hipólito da Costa. As atitudes corajosas e liberais de Augustus Frederick no Parlamento serão o modelo de que se valerá o jornalista para saudar o perfeito e exemplar funcionamento das instituições constitucionais inglesas. O protesto do duque contra a prisão de Bonaparte, por exemplo, seria uma prova do espírito de independência com que se conduzem as discussões no Parlamento.

Também as circunstâncias do discurso em que o duque de Sussex defendeu os interesses portugueses são apresentadas por Hipólito como exemplares do modo como se conduzem os homens no Parlamento inglês. Desaprovando as medidas gerais dos ministros do rei, diz Hipólito, um político de oposição como o duque de Sussex diz em público, na Casa dos Lordes, a sua opinião sobre essas matérias “com franqueza e denodo”. Dirige seus argumentos, acrescenta Hipólito, sem rebuços, invectiva os ministros e, acabado o debate, vai falar com eles e muitas vezes graceja sobre a violência do argumento, ou o ímpeto das imputações que se usam de ambas as partes. Hipólito lembra ainda, como exemplo de boa convivência das idéias diferentes, que, enquanto o duque de Sussex segue o partido da oposição, seu irmão, o duque de Cumberland, segue o partido ministerial (CB, 13:842-43).

Hipólito e os libertadores em Londres

Um aspecto da biografia de Hipólito da Costa que ainda não mereceu a devida atenção dos estudiosos é a sua relação com os movimentos de independência na América. No pequeno trecho do livro Latin Americans in London que trata do jornalista brasileiro, lê-se que Hipólito da Costa, após seu estabelecimento em Londres, tinha começado a colaborar “closely with Miranda and other Latin American and European liberals and exiles in London” (Decho & Diamond, p. 19). Hipólito é classificado em outra parte como um dos latino-americanos importantes que Bolívar teria conhecido em Londres (Idem, p. 16).

O Correio Braziliense é, naturalmente, a fonte para conhecer o pensamento do jornalista sobre o processo de independência das colônias espanholas. Mas só a análise da documentação existente nos arquivos europeus poderá, um dia, dimensionar, em suas reais proporções, o papel do jornalista naquele processo. Mecenas Dourado reproduz carta de Caldeira Brant a José Bonifácio em que o primeiro informa, de Londres, em 1822, que, os ingleses que serviram em Portugal estariam prontos a embarcar para o Brasil e que qualquer autorização a Hipólito da Costa “que sabe perfeitamente como se fizeram, e talvez teve parte em todas as expedições que daqui se fizeram para Colômbia, Chile, bastaria para embarcar gente, armas e principalmente armar navios” (apud Dourado, p. 115). Hipólito, ainda segundo Dourado, seria o auxiliar eficaz e oficial do governo venezuelano de Bolívar para o qual teria contatado soldados e marinheiros ingleses (Idem, p. 115, nota 141).

Apesar da ligação de Hipólito com os libertadores ? ligação que compartilharia com outro amigo e protegido do duque de Sussex, o barão d?Eben [originário de uma tradicional família da Silésia, o barão d?Eben (1778-1825) conheceu o duque de Sussex em Berlim, em 1796. Nomeado por lorde Castlereagh, em 1808, para organizar o Corpo da Leal Legião Lusitana, foi governador de armas de Trás-os-Montes. No ano seguinte, tornou-se coronel a serviço do príncipe regente da Inglaterra. Lutou contra os franceses em Portugal e, em 1810, estava de volta a Londres intermediando os contatos de Hipólito da Costa com o conde de Funchal. Em 1814, foi nomeado ajudante de campo do regente da Inglaterra; achava-se em Lisboa, em 1817, quando foi acusado de participar da conspiração de Gomes Freire. Foi expulso de Portugal e também não pôde mais se estabelecer na Inglaterra, retirando-se para a Alemanha (Dourado, pp. 253-54). As ligações do barão com os duques de Sussex e de Kent e com o príncipe de Gales foram fundamentais para a suavidade de sua pena em comparação com a de Gomes Freire. “It was Eben?s involvement with the British royal family which probably accounts for the comparatively lenient way he was treated by the judges” (Maylm, p. 21).] ?, na biografia do próprio duque nada há que indique qualquer participação dele no processo de independência das colônias espanholas. Por isso nos chama particularmente a atenção a referência ao duque no trabalho de John Lynch sobre as tendências monárquicas do general San Martin.

In 1821, he sent Juan García del Río and James Paroissien to Europe to secure recognition of Peruvian independence, alliance with a European power, and a prince. One of the names proposed as Emperor of Peru was the Duke of Sussex, son of George III. The two commissioners raised no interest or support in Chile and Buenos Aires and by the time they began negotiations in England San Martín had already resigned. [Linch, p. 20]

Se levarmos em conta tudo o que Mollie Gillen levantou em torno das expectativas de colocação que o duque de Sussex alimentara por quase toda a vida, a proposta de San Martin, reunindo o clima adequado a uma posição de grande responsabilidade, representava um pacote tentador. John Linch não nos revela se o duque de Sussex tomou contato com essa proposta ou mesmo se ele tinha alguma ligação com San Martin. Teria a ponte entre o duque e os libertadores sido estabelecida por Hipólito?

Conclusões

Uma das raras páginas do Correio Braziliense dedicadas a uma grande festa londrina foi publicada no volume 10. Trata-se de uma festa maçônica em homenagem a lorde Moira que fora, durante 25 anos, o grão-mestre efetivo da Maçonaria, sob o grão-mestre que era o príncipe de Gales. A reunião, que aconteceu em 27 de fevereiro de 1813, foi presidida pelo duque de Sussex, o qual estava acompanhado de seus irmãos, os duques de York, de Clarence, de Kent e de Cumberland. No salão dos Framaçons, em Great Queen-Street, puderam se acomodar para jantar, sem constrangimento, cerca de seiscentas pessoas. Hipólito destaca a beleza das damas presentes, a excelência da música proporcionada pela famosa orquestra do duque de Kent e de alguns cantores. Sucedem-se depois do jantar os brindes e saudações. O discurso do duque de Sussex em honra do homenageado detalhou fatos da trajetória política e social de lorde Moira. Depois do agradecimento deste, as senhoras retiraram-se para um “esplêndido refresco”, o duque de Sussex presenteou o lorde com uma magnífica jóia e pronunciou uma oração maçônica, recapitulando seus serviços à ordem. Sobre isto e o que mais se passou, diz Hipólito, o silêncio é o único dever (CB, 10:99-101).

O que surpreende nesta nota é o entusiasmo revelado pelo jornalista que é, em geral, bastante comedido no relato da vida mundana. Hipólito descreve uma festa de que evidentemente participou e parece vibrar de entusiasmo, tanto pelo que a festa representa para a Maçonaria como pelo papel central que nela desempenha seu amigo, Augustus Frederick. Em dezembro daquele ano o duque se tornaria grão-mestre da Maçonaria inglesa.

Na década de 1950, Carlos Rizzini descobriu que os descendentes de Hipólito da Costa em Londres ainda guardavam objetos que lhe haviam sido presenteados pelo duque: uma cafeteira de prata e um relógio de ouro. Descobriu também que possuíam um retrato do jornalista que enfeitara uma das paredes do Palácio de Kensington, onde o duque de Sussex vivera e que, depois de sua morte, fora oferecido à viúva de Hipólito. Rizzini localizou ainda uma carta do duque a um velho amigo, onde aquele se escusa de não poder comparecer a um jantar anteriormente marcado por sentir-se ainda aturdido com a morte do “poor da Costa”, ocorrida sete dias antes (Rizzini, p. 18). E o duque se empenharia, após a morte do amigo, em obter de d. Pedro uma pensão para o afilhado, Augustus Frederick Hipólito da Costa, a quem também ajudou a se encaminhar na carreira militar (Idem, p. 22).

A história das relações de Hipólito da Costa com o duque de Sussex foi levantada tanto por Carlos Rizzini como por Mecenas Dourado. Na obra desses biógrafos, a influência do duque no estabelecimento do brasileiro em Londres está fartamente documentada. Este trabalho procura revelar um pouco mais sobre Augustus Frederick, contrastando aspectos de sua biografia com a imagem que se fixou dele a partir das biografias de Hipólito da Costa, como também das referências ao duque inseridas no Correio Braziliense. Não foi seu objetivo traçar um paralelo entre as idéias políticas de um e outro, estabelecendo as identidades que, à primeira vista, estão patentes: liberdade religiosa; fim da escravatura; progresso industrial e científico; monarquia constitucional; um Parlamento forte etc. Só um conhecimento mais aprofundado dos textos e discursos deixados pelo duque permitiria um cotejo equilibrado. Conhecendo, no entanto, a densidade da obra de Hipólito da Costa, sua notável biografia, a firmeza e clareza de suas posições e, agora, as dificuldades da trajetória política, intelectual e social do duque, podemos inferir que é provável que tenha havido uma maior influência do protegido brasileiro sobre seu ilustre protetor inglês.

Estabelecer o grau dessa influência, as áreas em que ela se manifestou de maneira mais evidente serão objeto de um futuro trabalho. Para este, nos basta concluir com o elogio à amizade que uniu dois homens notáveis. Pois foi sob o signo da amizade que se construiu essa relação em que o respeito patente nas declarações de Hipólito às qualidades sempre realçadas do príncipe injustiçado fazem par com a boa vontade e o empenho permanente deste em apoiar o amigo brasileiro, a quem admirava, como deixou expresso nas palavras tão amáveis que fez gravar em sua lápide.

(*) Pesquisadora da Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, doutora em ciência política pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e autora de Insultos impressos. A guerra dos jornalistas na Independência (Companhia das Letras, 2000), Nássara. O perfeito fazedor de arte (Relume Dumará/RioArte, 1999), Brasil pelo método confuso. Humor e boemia em Mendes Fradique (Bertrand Brasil, 1993) e Histórias de presidentes. A República no Catete (Vozes/FCRB, 1989).



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