A QUEDA DE STEVE CASE
Alberto Dines
Era uma vez, a ilusão… Assim poderia começar esta nova versão da fábula do aprendiz do feiticeiro. Foi assunto de primeira página em todo o mundo a sumária defenestração do homem que inventou o conglomerado midiático mais importante da história.
Steve Case idealizou a portentosa fusão AOL Time Warner (que incluía alguns penduricalhos como a CNN) e dois anos depois foi espirrado da presidência do grupo. A surpreendente fusão do gigante editorial Time-Life com a gigantesca produtora de cinema e discos Warner tem pouco mais de 10 anos.
Legítimo herdeiro do "sonho americano", Steve Case abancou-se
no comando de duas tradicionais empresas de comunicação
cujas histórias somam mais de 150 anos. Ofereceu-lhes o milagre
da internet, o provedor-pioneiro America Online (AOL). A soma de
três gigantes, às vezes, é igual a zero.
Steve acreditou na fábula da História Instant&aciacirc;nea e comprou uma história da carochinha chamada Revolução da Informática. Com ela, convenceu os parceiros de que seriam donos do milênio. O problema da mídia é que os homens que a controlam acreditam piamente no que publicam. Esquecem que vendem ilusões. Compram-nas sem o devido desconto.
A rede mundial de computadores foi um avanço extraordinário no processo de comunicação, mas acreditar que funcionaria como uma lâmpada de Aladim foi um erro fatal. Um provedor de acessos e conteúdo como o AOL pode atrelar-se, associar-se, mas não comandar um conglomerado sólido, mundialmente poderoso. Steve Case não precisou blefar, todos queriam ser enganados pelas maravilhosas perspectivas que oferecia.
Associações disparatadas
A monumental engabelação poderia ser contada num filme chamado Retratos na Parede: quando deu-se a fusão da Warner com o Time-Life, mandaram guardar o retrato de Henry Luce, o controverso mas inventivo criador das revistas de informação.
Quando Steve Case armou a confusão das fusões e assumiu o conglomerado triangular, em janeiro de 2000, certamente mandou recolher o retrato daquele que o precedeu, outro Steve ? Ross ? o boss da Warner, então majoritária. Com a queda de Case, assume Richard Parsons. Quanto tempo seu retrato ficará na parede não se sabe.
O que se sabe é que apesar da velocidade das transformações tecnológicas e da volatilidade das tendências/modismos, os avanços têm um tempo de maturação. Queima-se primeiro aquele que deu a idéia de queimar etapas.
Ficou nítido também que o processo de concentração da mídia chegou ao seu limite. Impossível agrupar tantas disparidades e dessemelhanças. A idéia de multimídia precisa ser melhor ruminada, amadurecida, digerida. A história da mídia de massas cobre um arco de 500 anos, alguma coisa pode-se depreender de um processo tão regular e firme.
A associação de empresas de filmes, discos, televisão, revistas e internet num mesmo grupo seduz os cultores de Julio Verne, Aldous Huxley e George Orwell mas não garante a potencialização máxima de cada uma das partes. Todos perdem. A internet poderá acoplar-se à televisão mas dela não sairá jamais um New York Times. E ainda existem alguns milhões de americanos que não conseguem começar o dia sem lê-lo.
Associações disparatadas enfraquecem os associados. O semanário Time adaptou-se aos padrões de Hollywood quando juntou-se com a Warner. Deixou de ser a referência em jornalismo semanal e quem ficou com o seu prestígio foi The Economist, que, apesar de britânica, tem hoje grande penetração na classe A americana.
Homens-bolha inventam grupos-bolha para explorar projetos-bolha dentro da dinâmica-bolha. Para acabar com uns e outros basta esperar.