Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Humor estragado

LEO JAIME & GISELE

Minha cara Isabel, um pouco de bom humor não faz mal a ninguém. Você já começa enganada: Leo Jaime não tratou de ecologia, não, tratou foi de chatice. E, se seguir a mesma linha, o próximo artigo dele será sobre o seu texto aqui no OI. O texto de Leo Jaime foi o mais engraçado que li sobre o patético episódio do protesto contra a rica da Gisele Bündchen. Você disse que mulheres que usam peles precisam mostrar um exterior bonito porque não têm nada por dentro. Pois digo que as mulheres da Peta não têm mais o que fazer a não ser se preocupar com bichinhos fofinhos como chinchilas e que tais. Faça-me o favor! São bichos criados em cativeiro e podem ser mortos para fazer casacos, sim, como o couro do boi é usado para fazer todo o tipo de coisa ? inclusive o sapato e a bolsa que você usa. Por que raios nenhuma das petas se preocupa em angariar e levar comida para países africanos onde pessoas estão morrendo de fome em mais uma das infindáveis crises do continente?

E não só lá. Aqui também temos os nossos pobres e famintos. Ninguém se preocupa com eles. O politicamente correto é se preocupar com o bem-estar dos animais, coitadinhos. Os cientistas, estes vilões, vivem a sacrificar ratos de laboratórios para fazer pesquisas. Para quê? Para desenvolver medicamentos que vão curar doenças das pessoas? Que absurdo!!!! Os ratinhos vêm primeiro. peta saudações!!!

Meu caro Paulo Henrique, parabéns pela originalidade na argumentação. Onze entre 10 pessoas que consideram risíveis as iniciativas de proteção a animais utilizam velhos e bons argumentos como “tá cheio de gente morrendo de fome na África”; “e as nossas criancinhas abandonadas pelas ruas?”. Uma ótima maneira de não fazer coisa alguma, nem pelos de quatro patas nem pelos de duas.

Não nos iludamos: o continente africano tem sido mantido à margem do jogo econômico, chamado elegantemente de “globalização”, por uma série de questões muito mais complexas do que sequer possamos sonhar. E não serão organizações do porte de uma Peta, nem eu, nem tampouco você ? aparentemente tão mobilizado pela problemática africana ? que teremos cacife para resolver essa parada. Leo Jaime, aliás, também demonstrou, no artigo, grande interesse pelo continente em questão, ao dizer que se o chefe Zulu pode por que a Gisele não poderia…? Que primor de visão antropológica! Ops, desculpe, esqueci que o objetivo dele foi apenas e tão somente “fazer graça”, pena que com coisa tão séria.

Em tempo: não se esqueça, meu caro Paulo Henrique, que existe uma grande diferença entre falarmos do couro do boi de que são feitos os meus (e os seus) sapatos e bolsas e falarmos da pele dos “fofinhos”. Por baixo do couro do boi existe ? quem senão ? o boi propriamente dito, cuja carne é uma das principais fontes de alimentação humana. Ou seja: o couro do boi é um subproduto do aproveitamento da carne do boi. Uma forma, aliás, bastante racional de utilizar esse animal como recurso para a sobrevivência humana.

Bem diferente do caso dos casaquinhos de peles, usados pela “rica da Gisele Bündchen” e por outras “ricas” ? na conta bancária, mas não no espírito. Peta saudações para você também. (I.R.R.)

 

ALDIR BLANC DEMITIDO

Arbitrária e injustificável a demissão de Aldir Blanc do corpo de articulistas de O Dia. Injustificável, porque se trata de um dos mais expressivos escritores brasileiros em atividade, além de plenamente identificado com a linha editorial do jornal. Arbitrária, porque se sabe que foi motivada pelas ordens ressentidas da futura governadora do Estado do Rio de Janeiro, preposta de seu marido. Pensava que os tempos da ditadura ? em que a cada esquina era possível ouvir a frase “você sabe com quem está falando?” ? já tinham passado. Engano meu. Ainda há na imprensa brasileira quem se vergue tão rasteiramente aos desmandos do poder.

Deixo, portanto, de comprar e ler O Dia.

Sobre a demissão de Aldir Blanc, esperamos que, pelo bem da nossa sanidade mental, alguma atitude seja tomada, porque confessamos que se já tá difícil viver com inflação, guerra, beiramares e afins, sem o humor genial e contundente do nosso querido Aldir fica completamente impossível!