ÍNDIA
Um tabu foi quebrado na imprensa indiana. Ao cobrir mais um episódio de violência na série de conflitos entre muçulmanos e hindus, a mídia local usou duas palavras proibidas: "muçulmano" e "hindu".
Numa nação transtornada por confrontos religiosos desde que conquistou a independência, em 1947, os jornais sempre trataram o assunto com cautela, relatando as brigas sem detalhar a fé dos agressores ou das vítimas (muitas vezes, as matérias se limitavam a dizer que "integrantes de uma comunidade entraram em confronto com os de outra"). Segundo Rama Lakshmi [The Washington Post, 25/3/02], entendia-se que narrar explicitamente os conflitos religiosos num país de maioria hindu com 140 milhões de muçulmanos poderia estimular a violência.
Mas os eventos no estado de Gujarat mudaram isto. Pela primeira vez, os canais de TV privados levaram imagens sangrentas do tumulto para dentro das casas. Ao cobrir a retaliação ao ataque muçulmano que matou 56 pessoas, as redes deixaram claro que os agressores desta vez eram hindus.
O caso se complicou quando as TVs mostraram que, enquanto a multidão ateava fogo às casas, policiais assistiam à cena sem interferir, o que teria tornado evidente a conivência do governo ? formado por nacionalistas hindus ? com a ação de grupos radicais. Logo depois, o primeiro-ministro Atal Bihari Vajpayee atacou os canais, acusando-os de exagerar os casos de violência e de agir irresponsavelmente ao exibir cenas de carnificina.
Enfrentando um clima pesado, os jornalistas tentam se defender nas páginas de revistas e jornais; alguns acreditam que se pode tirar de caso uma lição sobre o valor da moderação. "A mídia tende a negligenciar sua responsabilidade principal de tentar conter a violência", disse Chandan Mitra, editor do jornal Pioneer. "A violência não deve ser reportada ao vivo, pois pode provocar revoltas iguais em outros lugares."
AUSTRÁLIA
Mudanças importantes podem acontecer na mídia australiana. O parlamento está avaliando projeto de lei que pode diminuir as restrições à concentração de veículos de comunicação nas mãos de um só proprietário e à participação de estrangeiros no ramo. Se a nova legislação vingar, uma onda de fusões de empresas pode acontecer no país, conta Giles Parkinson, do sítio TheDeal.com [21/3/02].
A idéia de acabar com o limite de participação de estrangeiros de 15% em televisão e 25% em jornais foi apresentada pelo primeiro-ministro conservador John Howard, que defende ainda que grupos deixem de ser impedidos de serem proprietários de um jornal e uma estação de rádio ou TV na mesma cidade. A alegação é de que estas regulamentações são anacrônicas. "As atuais restrições impedem flexibilidade comercial e acesso a capital para infra-estrutura e investimento em conteúdo", afirma o governo.
A aprovação será dificultada pelo fato de o Partido Liberal de Howard não ter maioria no senado. O Partido Trabalhista, de oposição, diz que aprova o fim de limitações aos investimentos estrangeiros, mas que contraria a proposta que diz respeito à concentração de veículos porque isso poderia causar falta de concorrência. Partidos minoritários se opõem a quaisquer mudanças.
Os dois maiores grupos de mídia australianos, John Fairfax Holdings e News Ltd. ? subsidiária da News Corp. de Rupert Murdoch ?, vêem as mudanças com bons olhos. O simples fato de o projeto ser encaminhado ao parlamento fez as ações da Fairfax subirem, pois a corporação deve receber muitos investimentos estrangeiros se a lei passar.