INCLUSÃO DIGITAL
Antonio Alberto Trindade (*)
Seria muito importante a disponibilização dos conteúdos da internet a toda a população do país por meio da TV; com isso, seria aberta a perspectiva de um novo processo de difusão e uso da informação. Daí a falar em inclusão digital há uma grande diferença; a idéia de inclusão abrange dimensões bem mais amplas do que a da questão do acesso à informação.
Que tipo de inclusão poderia produzir a TV digital? Em princípio, nenhuma; o que teríamos é a abertura de um campo promissor para quem deseja vender produtos ou serviços de todo tipo num meio muito mais barato e ainda explorado comercialmente fora dos parâmetros legais que regem a relação entre produtores e consumidores. Estes teriam, enfim, algum ? ou mais um ? meio de chegar até as pessoas que, em função da condição econômica difícil, ainda têm como principal meio de informação e diversão a televisão. A inclusão aqui seria a de determinados "setores produtivos" em mais uma fatia do mercado: aquela que dispõe de pouco mais que alguns centavos.
O novo público da internet, neste caso, estaria sendo incluído na lista de públicos-alvo da ação comercial legal ou fraudulenta e, a julgar pela forma como este se utiliza da informação televisiva, radiofônica ou impressa, "avançaria" na condição de vítima de mais um meio de difusão de informação.
Usar, não ser usado
O acesso aberto à internet aumentaria bastante o volume de informações na vida de cada um; provavelmente aumentaria também o grau de vulnerabilidade do novo consumidor dessa informação diante de investidas de todo tipo que, vale dizer, assumem na rede de computadores formas jamais imaginadas. Caberia então à sociedade ? e especialmente àqueles que atuam na educação ? refletir sobre algumas questões:
** Estamos produzindo materiais importantes para o meio eletrônico?
** Por quanto tempo ainda deixaremos guardadas em nossas gavetas as produções que não conseguimos utilizar para a auto-promoção?
** Como vamos pensar a produção e a socialização de conhecimentos e desenvolvimento de competências daqui para frente, num tempo que anuncia o início do fim do monopólio da difusão de informação?
A inclusão no "mundo digital" poderia ser entendida como a capacidade de fazer um uso importante deste. Então a pergunta seria: como poderão as pessoas fazer um uso importante dos materiais disponibilizados na web? Nosso sistema educacional, com seus profundos problemas, não tem garantido nenhum tipo de inclusão. Mesmo a informação difundida nos meios já antigos é mais assimilada do que utilizada pelo público carente de senso crítico e método para discernir e escolher o que de fato pode ser importante para sua vida. A escola brasileira, mais preocupada em produzir indicadores estatísticos de qualidade e produtividade, não atua no sentido de instrumentalizar seu educando para o exercício da autonomia no uso da informação.
A inclusão digital pode ser algo mais do que uma idéia vaga num discurso impreciso. A internet pode ser o espaço da difusão de conhecimentos e pontos de vista, da ampliação das possibilidades de comunicação, da superação das barreiras físicas que prejudicam a ação social e educativa. Para isso, contudo, precisamos de uma educação de qualidade. Que venha o mais amplo acesso aos novos meios; que venha também a responsabilidade social de povoar o meio digital de conteúdos importantes e de instrumentalizar o educando para que este possa fazer uso da coisa, e não ser usado por ela.
(*) Sociólogo, mestre, doutorando do Departamento de Artes e Multimeios da Unicamp e professor universitário