Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ignacio Ramonet

GUERRA NO GOLFO 2

“A era da guerra perpétua”, copyright Le Monde Diplomatique, 10/03/03

“?History is again on the move 14.?

Arnold J. Toynbee

Sente-se, nesta questão do Iraque, que algo de fundamental está em jogo. Sinais de alerta piscam por todo lado, o arcabouço internacional quebra, a ONU é posta de lado, a União Européia se divide, a Otan é fraturada… Persuadidas de que a máquina que produz tragédias se pôs em marcha, dez milhões de pessoas fizeram protestos, nas ruas do mundo inteiro, no dia 15 de fevereiro de 2003. Recusam-se a ver de volta a brutalidade da política internacional com sua extrema violência, suas paixões e seus ódios.

Esses temores coletivos se manifestam por meio de perguntas angustiantes: por quê essa guerra contra o Iraque? Por que agora? Quais os verdadeiros motivos que têm os Estados Unidos? Por que a França e a Alemanha se opõem tão energicamente? De que maneira este conflito é revelador de uma nova situação em matéria de política externa? Que mudanças ele prenuncia para o equilíbrio do mundo?

Muita gente pensa que os verdadeiros motivos para esta guerra continuam sendo enigmáticos. Com a melhor boa-vontade, quem examina os argumentos apresentados por Washington continua cético. As autoridades norte-americanas não conseguiram convencer que a guerra é necessária. E sua insistência em repetir justificativas ridículas aumenta as dúvidas da opinião pública internacional.

Quais são os argumentos oficiais? Em número de sete, foram enumerados no relatório Uma década de mentira e de desafio, apresentado pelo presidente George W. Bush perante o Conselho de Segurança da ONU, no dia 12 de setembro de 2002. O texto, de vinte e duas páginas, relembra as três principais acusações: Bagdá não teria respeitado dezesseis resoluções das Nações Unidas; o Iraque teria, ou procuraria ter em seu poder, armas de destruição maciça (nucleares, biológicas, químicas e mísseis balísticos); e, finalmente, seria culpado pela violação de direitos humanos (tortura, estupro, execuções sumárias).

As outras quatro acusações dizem respeito: ao terrorismo15 (Bagdá estaria dando cobertura a organizações palestinas e enviaria 25 mil dólares à família de cada autor de um atentado suicida contra Israel); a prisioneiros de guerra (entre os quais, um piloto norte-americano); aos bens confiscados por ocasião da invasão do Kuait (obras de arte e material militar); e à malversação das mercadorias destinadas ao programa ?petróleo contra alimentos?.

Todas essas acusações levaram o Conselho de Segurança a votar, por unanimidade, no dia 8 de novembro de 2002, a resolução 1441, que cria ?um regime de inspeção reforçado com o objetivo de concluir de forma completa e verificar o processo de desarmamento?.

Seriam esses argumentos de tal maneira assustadores, que todos os países deveriam passar a considerar o Iraque como o problema número um do mundo? Fariam eles do Iraque a mais terrível ameaça à humanidade? Seriam justificativas definitivas para uma guerra de grandes proporções?

A essas três perguntas, os Estados Unidos e alguns de seus amigos (a Grã-Bretanha, a Austrália, a Espanha…) respondem afirmativamente. Sem esperar pelo sinal verde de qualquer instância internacional, as autoridades de Washington despacharam para a fronteira com o Iraque uma poderosa força militar de cerca de 200 mil homens, dotada de colossal poder de destruição.

Por outro lado, a essas mesmas perguntas, outros países ocidentais (a França, a Alemanha, a Bélgica…) e uma considerável parcela da opinião pública internacional respondem com um triplo ?Não?. Reconhecem a gravidade das acusações, mas avaliam que seria possível manifestar as mesmas suspeitas – o não-respeito pelas resoluções da ONU, a violação de direitos humanos e a posse de armas de destruição em massa – sobre outros países do mundo, começando pelo Paquistão e Israel, íntimos aliados dos Estados Unidos e contra os quais ninguém sonha declarar uma guerra. Salientam também que, em relação a inúmeras outras ditaduras amigas dos Estados Unidos (Arábia Saudita, Egito16, Tunísia, Paquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Guiné Equatorial etc.), que espezinham os direitos humanos, Washington fica em silêncio.

Além disso, avaliam que o regime iraquiano, submetido a doze anos de um boicote devastador, com a soberania de seu espaço aéreo limitada e sob permanente vigilância, não parece constituir uma ameaça iminente para seus vizinhos.

Finalmente, em relação à interminável busca de armas inlocalizáveis, muita gente é levada a pensar, como Confúcio, que ?não é possível agarrar um gato preto num quarto escuro, principalmente se o gato não estiver lá?. Consideram que os inspetores da Comissão de Controle, Verificação e Inspeção das Nações Unidas (Cocovinu), chefiada pelo diplomata sueco Hans Blix, e os da Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA), dirigida pelo perito egípcio Mohammed El Baradei, vêm fazendo progressos constantes, como provam os relatórios apresentados ao Conselho de Segurança, e que isso deveria permitir alcançar o objetivo desejado – o desarmamento do Iraque – sem ter que recorrer à guerra.

Por ter feito seu esse raciocínio de bom senso e o ter sabido manifestar com firmeza, na Assembléia das Nações Unidas, por meio da voz de seu ministro das Relações Exteriores, Dominique de Villepin, o presidente francês, Jacques Chirac, passou a encarnar, na visão de todos os que se opõem à guerra pelo mundo afora, a resistência à prepotência norte-americana. O terno ficou, sem dúvida, um pouco grande, mas é inegável que o presidente ganhou, em algumas semanas, uma popularidade internacional de que poucos dirigentes políticos franceses gozaram antes dele. Como a personagem do general Della Rovere, do célebre filme de Roberto Rosselini17, talvez Chirac se tenha encontrado por acaso nesse papel de resistente, mas é forçoso reconhecer que assumiu a missão.

Por seu lado, o governo norte-americano não consegue convencer que esta guerra é justificável. Continua exposto ao veto francês e sofreu, uma após outra, duas desastrosas derrotas diplomáticas no Conselho de Segurança: no dia 4 de fevereiro, com o fiasco da apresentação de ?provas? contra o Iraque por Colin Powell; e em 14 de fevereiro, com a divulgação dos relatórios bastante positivos dos inspetores, quando Hans Blix mostrou que várias das ?provas? contra Bagdá apresentadas por Powell careciam de ?fundamento?. Nesse mesmo dia, Dominique de Villepin afirmou: ?Dez dias atrás, Powell mencionou a existência de supostos vínculos entre a Al-Qaida e o regime de Bagdá. No ponto em que se encontram as pesquisas e informações que temos conseguido, com nossos aliados, nada nos permite estabelecer tais vínculos.?

Ora, o estabelecimento de vínculos entre a rede de Osama bin Laden e o regime de Saddam Hussein seria decisivo para justificar o conflito. Em especial perante a opinião pública norte-americana, que continua chocada pelos detestáveis atentados de 11 de setembro de 2001.

É justamente porque nenhum argumento palpável parece justificar esta guerra que tantas pessoas se mobilizam contra ela por toda parte. E também por isso questionam os verdadeiros motivos dos Estados Unidos. Que seriam, no mínimo, em número de três.

Inicialmente, há a preocupação, que se tornou obsessiva depois do 11 de setembro de 2001, de evitar qualquer vínculo entre um ?Estado delinqüente? e o ?terrorismo internacional?. Ainda em 1997, William Cohen, secretário da Defesa do presidente Clinton, declarava: ?Enfrentamos a possibilidade de que atores regionais, exércitos de um terceiro tipo, grupos terroristas e mesmo seitas religiosas, tentem obter um poder desproporcional por meio da aquisição e utilização de armas de destruição em massa18.? Num comunicado divulgado no dia 11 de janeiro de 1999, Bin Laden admitia que essa possibilidade era real: ?Não considero um crime adquirir armas nucleares, químicas e biológicas19.? E George W. Bush reconheceu que essa eventualidade o atormentava: ?Nosso receio é que os terroristas encontrem um Estado fora-da-lei que lhes possa conseguir tecnologia para matar20.?

Esse ?Estado fora-da-lei?, na cabeça do presidente dos Estados Unidos, não é senão o Iraque. Daí, a teoria da ?guerra preventiva?, definida em 20 de setembro de 200221, que James Woolsey, ex-diretor da CIA, resumiu da seguinte forma: ?A nova doutrina que nasceu dessa luta assimétrica contra o terror é a da ‘dissuasão avançada’, ou da ‘guerra preventiva’. Se os terroristas sempre têm a vantagem de atacar em sigilo, a qualquer momento e em qualquer lugar, a única defesa consiste em apanhá-los agora, estejam onde estiverem, antes que possam estar em condições de articular sua ação22.? Dispensa-se, logicamente, qualquer autorização por parte das Nações Unidas.

O segundo motivo, não declarado, é o controle do Golfo Árabe-Pérsico e seus recursos em hidrocarbonetos. Mais de dois terços das reservas conhecidas de petróleo no mundo concentram-se sob o solo de alguns países vizinhos do Golfo: o Irã, o Iraque, o Kuait, a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos. Para os países desenvolvidos – e, principalmente, para os Estados Unidos, grandes esbanjadores de energia – essa região tem um papel crucial e detém uma das chaves fundamentais para seu crescimento e seu modo de vida.

Portanto, qualquer intervenção contra países do Golfo é considerada uma ameaça aos ?interesses vitais? dos Estados Unidos. Em 1980, por ocasião de seu discurso sobre o estado da União, o presidente James Carter, prêmio Nobel da Paz em 2002, definia a doutrina norte-americana para aquela região: ?Qualquer tentativa, por parte de qualquer potência estrangeira, seja ela qual for, de assumir controle da região do Golfo Pérsico, será considerada um ataque aos interesses vitais dos Estados Unidos da América. E esse ataque será repelido por todos os meios necessários, inclusive a força militar23.?

Controlada pelos ingleses desde o final da I Guerra Mundial e do colapso do império otomano, a região do Golfo viu crescer a influência norte-americana a partir de 1945. Dois países importantes, entretanto, escapam ao controle de Washington: o Irã, desde a revolução islâmica de 1979, e o Iraque, desde a invasão do Kuait em 1990. A própria Arábia Saudita tornou-se suspeita, após os atentados de 11 de setembro de 2001, devido a seus vínculos com militantes islâmicos radicais e à ajuda financeira que os sauditas teriam dado à rede Al-Qaida. Washington considera que não pode se dar ao luxo de perder uma terceira pedra no tabuleiro do Golfo – menos ainda da importância da Arábia Saudita. Daí a tentação de, sob falsos pretextos, ocupar o Iraque, retomando o controle da região.

Para além das dificuldades militares, a administração de um Iraque livre de Saddam Hussein por forças de ocupação não será fácil. No tempo em que era lúcido, Colin Powell avaliava essa complicada dificuldade: ?Nós nos esforçamos, em vão, para desprezar Saddam Hussein pelo que ele fez. Os Estados Unidos não desejavam de forma alguma destruir seu país. Durante os últimos dez anos, o Irã, e não o Iraque, foi nosso grande adversário no Oriente Médio. Gostaríamos que o Iraque continuasse sendo um contrapeso ao Irã. A Arábia Saudita não queria que os xiitas tomassem o poder no sul do Iraque. Os turcos não queriam a secessão dos curdos, no norte do Iraque. (…) Os países árabes não queriam que o Iraque fosse invadido e devastado. (…) Um Iraque dividido em facções sunitas, xiitas e curdas não contribuiria para a estabilidade que desejávamos no Oriente Médio. O único meio de evitar isso seria conquistando e ocupando essa longínqua nação de vinte milhões de habitantes. Não creio que seja isso que os norte-americanos desejam24.? No entanto, é o que hoje deseja o presidente Bush…

O terceiro motivo não declarado desta guerra é o de confirmar a hegemonia dos Estados Unidos no mundo. A equipe de ideólogos que assessora George W. Bush (Cheney, Rumsfeld, Wolfowitz, Perle etc.) vem teorizando há muito tempo essa escalada rumo à potência imperial norte-americana (leia, nesta edição, o artigo de Philip S. Golub). No final da década de 80, já assessoravam Bush pai. Chegava ao fim a guerra fria e, ao contrário da maioria dos estrategistas – que defendiam uma diminuição no peso dos instrumentos militares -, eles incentivavam a reorganizaçãatilde;o das forças armadas e uma maximização do recurso às novas tecnologias, com o objetivo de restituir à guerra sua natureza de instrumento de política externa.

Naquela época, segundo o relato de uma testemunha, ?a síndrome do Vietnã ainda persistia. Os militares não queriam recorrer ao uso da força, a menos que todo mundo estivesse de acordo. As condições que se colocavam exigiam praticamente um plebiscito nacional antes que se pudesse apelar para o uso da força. Nenhuma declaração de guerra era possível sem um elemento catalisador, como fora o caso de Pearl Harbor25?. No entanto, em dezembro de 1989, essa equipe de ?falcões? conseguiu montar, com o apoio do general Colin Powell e sem autorização do Congresso ou das Nações Unidas, a operação que resultaria na invasão do Panamá (mais de mil mortos) e na deposição do general Noriega.

Esses mesmos homens conduziram, em seguida, a guerra do Golfo, durante a qual as forças armadas norte-americanas deram uma demonstração de superpotência militar que deixou o mundo estarrecido.

De volta ao poder em janeiro de 2001, esses ideólogos consideraram os atentados de 11 de setembro o ?elemento catalisador? há tanto esperado. A partir de então, nada os iria deter. Por meio do Patriot Act, dotaram o poder público de um perigoso instrumento liberticida; prometeram ?exterminar os terroristas?, propuseram a teoria da ?guerra global contra o terrorismo internacional?, conquistaram o Afeganistão e depuseram o regime taliban. Em seguida, definiram a doutrina da ?guerra preventiva?, justificando-a – à base de propaganda e intoxicação – contra o Iraque.

Eles se mobilizam para que Washington se concentre sobre os verdadeiros centros do poder num momento de globalização liberal: o G7, o FMI, a OMC, o Banco Mundial… E pretendem, pouco a pouco, retirar os Estados Unidos do âmbito da política multilateral. Por isso cutucaram o presidente Bush para que denunciasse o protocolo de Kyoto sobre o efeito-estufa, o tratado ABM sobre mísseis balísticos, o tratado que criava o Tribunal Penal Internacional, o tratado sobre minas antipessoais, o protocolo sobre armas biológicas e até as convenções de Genebra sobre prisioneiros de guerra no que se refere aos detidos na colônia penal de Guantánamo. O próximo passo seria a recusa em aceitar a arbitragem do Conselho de Segurança. O que representaria uma ameaça de morte ao sistema das Nações Unidas.

Passo a passo, em nome de grandes ideais – liberdade, democracia, livre comércio, civilização -, esses ideólogos vêm transformando os Estados Unidos num novo tipo de Estado militar. E renovam a ambição de todos os impérios: redesenhar o mundo, retraçar as fronteiras, policiar as populações.

Os colonialistas de antigamente não agiam de forma distinta. ?Pensavam?, lembra o historiador Douglas Porch, ?que a difusão do comércio, do cristianismo, das ciências e da eficiência administrativa do Ocidente ampliaria os limites da civilização e reduziria as zonas de conflito. Graças ao imperialismo, a pobreza se transformaria em prosperidade, o selvagem encontraria a salvação, a superstição se transformaria em luz e a ordem seria instituída onde, antes, reinavam apenas a confusão e a barbárie26.?

Para evitar esse angustiante desvio, a França e a Alemanha, em nome de uma certa idéia de União Européia27, optaram por fazer um contrapeso – não hostil – aos Estados Unidos nas Nações Unidas. ?Estamos convencidos?, afirmou Dominique de Villepin, ?de que é necessário um mundo multipolar e de que uma única potência não pode garantir a ordem no mundo28.?

Desenha-se o esboço de um novo mundo bipolar. Nele, o segundo pólo poderia ser constituído pela União Européia – caso ela consiga se articular – ou por uma inédita aliança Paris-Berlim-Moscou. Trata-se de uma iniciativa histórica que, finalmente, retira a Europa de sessenta anos de medo e lhe permite redescobrir a vontade política. Uma iniciativa de tal maneira audaciosa que revelou, por contraste, a atitude pusilânime de alguns países europeus (a Grã-Bretanha, a Espanha, a Itália, a Polônia…), submissos há um longo tempo.

Os Estados Unidos começavam a se instalar no conforto de um mundo unipolar, dominado pela força de seu instrumento militar. A guerra contra o Iraque serviria para demonstrarem seu novo poder imperial. A França e a Alemanha vieram lembrar-lhes que, em matéria de poder, existem quatro fatores decisivos: a política, a ideologia, a economia e o militar. A globalização pode ter sugerido que apenas a ideologia (liberal) e a economia constituíam os fatores fundamentais. E que os outros dois (o político e o militar) se haviam tornado secundários. Foi um erro.

Na nova reorganização do mundo que começa, os Estados Unidos voltam-se agora para o militar. A França e a Alemanha, por sua vez, para o político. Para enfrentar os problemas que esmagam a humanidade, apostam na paz perpétua. O presidente Bush e seu séqüito, na guerra perpétua… (Trad.: Jô Amado) * Diretor-presidente de Le Monde diplomatique.”

1 Ler, de Joe Klein, ?How Israel is wrapped up in Iraq?, revista Time, 10 de fevereiro de 2003, p. 49, sobre o ?fantasma? estratégico neoconservador para reestruturar o Oriente Médio.

2 Ler, de Anatol Lieven, ?The Push for War?, London Review of Books, vol. 24, n? 19, 3 de outubro de 2002.

3 Definida em Defense Planning Guidance 1992-1994, DOD, Washington, 1992.

4 George Meany, citado no livro Diplomacy, de Henry Kissinger, ed. Simon & Schuster, Nova York, 1994, p. 755.

5 Entrevista de Perle em 13 de março de 1997. Ver o site: www.gwu.edu/~nsarchiv/coldwar/interviews/episode-19/perle1.html

6 As citações e as referências sobre o ?Team B? são tiradas de Anne H. Cahn, ?Team B: The Trillion Dollar Experiment?, Bulletin of Atomic Scientists 49, n? 3, (1993) e John Prados, ?Team B: The Trillion Dollar Experiment, Part II?, Bulletin of Atomic Scientists 49, n? 3, (1993).

7 Ler, de Frances Fitzgerald, Reagan, Star Wars, and the End of the Cold War, ed. Simon & Schuster, Nova York, 2000, pp. 473-476.

8 J. Prados, op. cit.

9 Ler, de Benjamin B. Fischer, A Cold War Conundrum, análise acessível ao público pelo Center for the Study of Intelligence, CIA, Washington D. C., 1997. Segundo Fischer, as iniciativas norte-americanas foram interpretadas em Moscou como preparativos de guerra.

10 Para todo o parágrafo, ler, de Grant Havers e Mark Wexler, ?Is US Neo-Conservatism Dead??, The Quartely Journal of Ideology, vol. 24 (2001), n? 3-4, ed. Louisiana State University, 2000.

11 Declaração perante a Comissão de Defesa do Senado, em 21 de fevereiro de 1991.

12 Citado no New York Times de 8 de março de 1992. Encontram-se quase as mesmas palavras nas frases-chave do ?DPG 1992-1994? no National Security Strategy (NSS), que foi tornado acessível ao público pela Casa Branca em setembro de 2002. Ler, de Paul-Marie de La Gorce, Le Monde diplomatique, falta a data.

13 Citado por Grant Havers e Mark Wexler, op. cit.

14 ?A História volta a caminhar.?

15 O relatório não estabelece o vínculo entre Bagdá e a rede Al-Qaida, de Osama bin Laden, citado pelo general Colin Powell na exposição que fez às Nações Unidas em 4 de fevereiro de 2003.

16 Há mais de vinte anos, o Egito, que recebe cerca de 3 bilhões de dólares por ano de ajuda dos Estados Unidos (quase tanto quanto Israel), proíbe qualquer tipo de manifestação pública, a oposição é ferozmente reprimida (há mais de 20 mil presos políticos no país) e os homossexuais são condenados a pesadas sentenças. O general Hosni Mubarak, no poder há 22 anos, pensa passar a presidência a seu filho… Essa ditadura, entretanto, é qualificada pelos grandes meios de comunicação norte-americanos como um ?regime moderado? e o ditador, considerado uma pessoa perfeitamente recomendável…

17 Em O general Della Rovere (1959), Roberto Rosselini conta a história de um vigarista (protagonizado por Vittorio de Sica) que é persuadido pelos ocupantes nazistas a se fazer passar pelo general Della Rovere, um dos líderes da Resistência, com o objetivo de descobrir a identidade dos guerrilheiros. Pouco a pouco, ele vai se identificando totalmente com seu papel, acaba resistindo e morre como herói.

18 Citado por Barthélémy Courmont e Darko Ribnikar em Les Guerres asymétriques, ed. Presses Universitaires de France, Paris, 2002, p. 228.

19 Ibid.

20 Discurso perante a Assembléia-Geral das Nações Unidas, 12 de setembro de 2002.

21 Ler, de Paul-Marie de La Gorce, ?Un dangereux concept, la guerre préventive?, Manière de voir n? 67.

22 El País, Madri, 3 de agosto de 2002.

23 Citado por Bob Woodward em Chefs de la guerre, ed. Calmann-Lévy, Paris, p. 226.

24 Ler, de Colin Powell, Un Enfant du Bronx, ed. Odile Jacob, Paris, 1995, p. 414 e 452.

25 Ler, de Bob Woodward, Chefs de la guerre, ed. Calmann-Lévy, Paris.

26 Ler, de Douglas Porch, Les Guerres des empires, ed. Autrement, Paris, 2002, p. 16.

27 Ler, de Robert Kagan, ?Power and Weakness?, Policy Review n? 113, junho-julho de 2002. Ler também, de Graham E. Fuller, ?Old Europe – or old America??, International Herald Tribune, Paris, 12 de fevereiro de 2003.

28 Le Journal du Dimanche, Paris, 16 de fevereiro de 2003.

“Diário americano diz ?não? à guerra”, copyright Folha de S. Paulo, 10/03/03


“?Nos próximos dias, o presidente Bush terá de decidir se as forças americanas devem invadir o Iraque diante da oposição das Nações Unidas. Nós acreditamos que há outra opção, envolvendo o reforço das inspeções a longo prazo. Se nos confrontarmos com a questão sobre o sim ou não a uma invasão sem o apoio internacional, nossa resposta é não.?

Assim o diário ?The New York Times? expressou a sua posição em relação à crise iraquiana em editorial, que se aproxima muito da postura que a França, a Rússia e a Alemanha -principais opositores dos EUA no Conselho de Segurança- têm manifestado.

De acordo com o jornal, o último relatório dos chefes dos inspetores da ONU apresentado ao CS foi devastador para a posição americana. ?Eles não apenas disseram que progresso foi feito, como também descartaram a hipótese de que o Iraque esteja tentando fabricar armas nucleares.?

A saída, segundo o ?New York Times?, sempre ressaltando que o ditador Saddam Hussein nunca é confiável, está no envio de ?centenas de inspetores e na ameaça do uso da força para o caso de o Iraque impor obstáculos ao trabalho deles?.

Porém Bush se colocou em uma posição, diz o jornal, nas quais as únicas opções parecem ser a guerra ou um recuo americano diante de Saddam Hussein.

?Há situações nas quais o presidente pode agir militarmente sem o aval do CS, como no caso de os EUA terem sido atacados. Mas apesar dos esforços do governo Bush de conectar o Iraque ao 11 de setembro, não existem provas disso. E se membros da Al Qaeda vivem no Iraque, o mesmo acontece em outros países da região que são aliados dos EUA?, diz o jornal nova-iorquino.

O jornal também refuta o argumento do governo americano, segundo o qual uma guerra poderia levar a democracia para o Iraque, servindo de exemplo para todo o Oriente Médio. ?Esse é um outro objetivo impossível de ser atingido fora de um amplo acordo internacional.?

A ONU, segundo o diário, pode parecer de pouca importância hoje para os conservadores no governo. Mas os EUA precisam dela no longo prazo para a estabilidade no mundo. ?Quando o propósito de uma guerra é vago, baseado em argumentos questionáveis, é hora de parar e buscar outros, menos extremos, modos de conquistar seus objetivos?, finaliza o ?New York Times?.

TV fatura R$ 5,7 bi e cresce 6% em 2002″

 

 


“A batalha dos jornais”, copyright O Globo, 11/03/03

“Os dois jornais de maior circulação nos EUA, respectivamente ?USA Today? e ?The Wall Street Journal?, iniciaram a semana que poderá ser decisiva para o futuro do Iraque atacando os críticos da guerra. O terceiro maior, o prestigioso ?The New York Times?, é o único a se pronunciar contra a intervenção militar pretendida pelo presidente, George W. Bush, e pelo premier britânico, Tony Blair.

O ?Washington Post? sustentou que o Conselho de Segurança precisa estar unido contra Saddam Hussein, mas ponderou que o esforço diplomático em busca de maior prazo para inspeções é válido ?para acalmar as preocupações legítimas de indecisos membros do conselho?.

Em seu editorial, o ?Wall Street Journal? criticou os líderes democratas que, a despeito de terem votado, em outubro do ano passado, moção a favor do ataque americano, agora estão contra a guerra. E comparou-os aos outrora aliados incondicionais dos EUA: ?(…) os líderes do partido de John Fitzgerald Kennedy e Franklyn Delano Roosevelt agora se aliam à França e à Rússia contra o presidente americano. Não é de se admirar que os eleitores estejam relutantes em entregar aos democratas a tarefa de assegurar à América segurança e liberdade?.”