FÓRMULA 1
Afonso Caramano (*)
O mondo do esporte costuma fornecer imagens espetaculares que acabam entrando para a história por sua própria peculiaridade ou pelas mãos da mídia, que as "glamouriza", de tal maneira e com tanta insistência que acabam permanecendo em nosso cotidiano. No entanto, há fatos esportivos que transcendem a tudo isso e ao seu próprio caráter transitório, trazendo à luz a realidade crua subjacente ao glamour aparente das tais imagens.
No domingo (12/5), o esporte automobilístico proporcionou mais um destes fatos, que causou grande mal-estar tanto à famosa escuderia Ferrari como aos fanáticos ou nem tanto torcedores. A decisão da escuderia de favorecer o primeiro piloto (líder do campeonato) em detrimento da atuação impecável do piloto brasileiro Barrichello revelou o que a maioria das pessoas já pressentia, ainda que se negasse a admitir racionalmente: o mondo esportivo é extremamente tecnicista e empresarial. Deve funcionar e render lucros como um negócio qualquer. E isso não atinge somente os esportes automobilísticos.
Não é de hoje que as relações esportivas se contaminaram pela frieza do business. Nada contra o profissionalismo ou o lucro, afinal vivemos num mundo capitalista. Mas quando essas relações são exploradas ao extremo, quando os ídolos esportistas são fabricados pela mídia e os lucros nem sempre são lícitos (CPI do Futebol, Eurico Miranda etc…) perde-se qualquer resquício de beleza e ética no esporte.
Contratos e marketing
Pertinente a ocorrência de tal acontecimento tão próximo do início da Copa do Mundo, evento que costuma atrair a atenção de milhões de pessoas no mundo inteiro ? e movimenta bilhões de dólares. Melhor que milhões de corações brasileiros em ação aproveitem a lição empresarial e também fiquem atentos às manobras entusiásticas da mídia, especialmente a TV, que joga todas as cartas neste produto esportivo a fim de conquistar uma sonolenta audiência (de pijama). Talvez seja melhor permanecer na cama, se possível tendo ingênuos sonhos…
O tratamento dado pela TV aos eventos esportivos deixa muito a desejar ? seria jornalismo esportivo o que a Globo, por exemplo, oferece aos telespectadores? Parece- me que a informação jornalística e esportiva passam bem distante disso. È puro entretenimento, se assim podemos chamar… com a glamourização de alguns fatos, a mitificação de outros e a alienação geral.
Na terça-feira (14/5) o Jornal Nacional mostrou uma reportagem sobre o futebol na vizinha Argentina ? única diversão e "válvula de escape" para uma interminável crise. Já que falta o pão se oferece o circo. Agora, com a proximidade da Copa do Mundo, nem se fala, é apelação pura, tentando nos convencer com pseudo-reportagens do encanto e da beleza de tão nobre disputa ? quando o que interessa mesmo para a maioria dos envolvidos são os possíveis contratos e o marketing. A mídia não contribui para este cenário? Quando faz papel de propagandista, quem ganha com isso?
(*) Funcionário público municipal, Jaú, SP