Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Imprensa alinhada com os amigos e os inimigos

AMAPÁ

Chico Bruno (*)

No norte brasileiro os meios de comunicação se dividem entre os que apóiam e os que fazem oposição ao governo. Isenção é um termo em extinção naquela região. Essa questão pode ser explicada de duas maneiras. Uma é que alguns meios de comunicação estão nas mãos de coronéis eletrônicos. A outra é que os demais estão nas mãos de proprietários que cobram pedágio para se alinhar a esse ou aquele grupo político. Lá você tem a imprensa alinhada à oposição ou à situação.

Um bom exemplo está no Amapá. Nesse estado, cortado pela linha do Equador, a grande maioria da imprensa faz oposição. Apenas dois veículos se alinham ao governo estadual, sendo um deles a emissora de rádio estatal. Essa dicotomia traz um imenso prejuízo para a comunidade local e para os próprios meios de comunicação, que, por serem parciais, perdem totalmente a credibilidade.

No Amapá, um estado que preserva e mantém intactos 98% de sua área territorial, o papel da imprensa está completamente distorcido.

O clima é de guerra. Nenhum dos meios de comunicação é isento ou tem bom senso. A ética é uma palavra desconhecida. Para ter uma idéia do nível, basta recorrer às edições de alguns jornais amapaenses da época em que as investigações da CPI do Narcotráfico alcançaram algumas figuras do Legislativo e do Judiciário local. Nesse episódio, alguns jornais saíram em defesa de certos suspeitos e atacaram os membros da CPI que lá cumpriam uma tarefa para o qual foram designados pela Câmara Federal. Foi uma clara demonstração de quais interesses servia essa parte da imprensa do Amapá.

Pauta do absurdo

Os meios de comunicação do Amapá vivem um clima de permanente enfrentamento eleitoral. Para saber o que está ocorrendo hoje, basta sintonizar as emissoras de TV locais e deter-se nos intervalos comerciais da programação, de qualquer programação. Você verá políticos agredindo seus adversários em espaços publicitários comprados ilegalmente ? afinal é público e notório que a propaganda partidária brasileira tem uma legislação especifica e é gratuita. Além disso, todos sabem quando ganham senadores e deputados. Todos têm uma noção clara de que seus salários não comportam a compra de espaço comercial em horário nobre da televisão brasileira. Fica no ar a pergunta: quem banca tal ilegalidade?

Devem ser os mesmos que bancam o caixa 2 das campanhas eleitorais brasileiras e que se arrepiam com a Agenda 21 e o desenvolvimento sustentável, que se praticados corretamente ajudam a combater as desigualdades sociais. Felizmente no Amapá a Agenda 21 não é um discurso, é uma realidade que incomoda aos que sempre se locupletaram com o poder, enriquecendo às custas do governo e do povo amazônico.

O comportamento de uma parte da imprensa no Amapá, tanto editorial como comercial, está a serviço dessa elite. Um absurdo que entristece os jornalistas brasileiros e, em particular, os amapaenses, que lutam por uma imprensa isenta, ética e de bom senso. O jornalismo não pode ser a favor ou contra. O jornalismo não pode ser plebiscitário. O que está ocorrendo na imprensa do Amapá é a negação de todos os princípios que norteiam o jornalismo e com certeza os jornalistas amapaenses não são coniventes com seus patrões, mas infelizmente precisam sobreviver. Um absurdo que merece ser pautado pela grande imprensa brasileira, como forma de mostrar aos seus leitores que, ainda, infelizmente, se faz esse tipo de jornalismo pelo Brasil afora.

(*) Jornalista