RECESSÃO E DESPESAS
Como se não fosse suficiente a crise do mercado publicitário, os custos de cobertura do conflito no Afeganistão deixam o orçamento da mídia à beira do abismo, forçando as companhias a encontrarem meios alternativos de cumprir as metas. A cobertura extensiva dos ataques terroristas aos EUA ganhou audiência de uma hora para a outra, justamente em tempos de contenção de gastos.
Anunciantes em baixa e altos custos com transporte e produção em região de ambiente e infra-estrutura hostis não formaram uma boa combinação para empresas midiáticas, que buscam alternativas. Em tempos de retração como estes, acordos entre emissoras não soam tão estranho, como o da CNN e da emissora árabe al-Jazira. Ao mesmo tempo, a competição entre canais a cabo noticiosos continua mais acirrada que nunca, de acordo com Merissa Marr [Reuters, 15/10/01].
Nos jornais americanos, o quadro não é diferente. Encaram um aumento de custos inesperado. "Diria que estamos gastando entre 15% e 20% a mais", diz George Brock, editor-administrativo do britânico Times. Muitas companhias de mídia já avisaram que o saldo de 2001 será, na melhor das hipóteses, zero ? sem lucros, mas sem perdas também. Alguns analistas estimam que as principais emissoras americanas perderam cerca de US$ 10 milhões por dia na semana dos ataques de 11 de setembro.
IMAGENS AFEGÃS
O exército americano está pagando pelos direitos de exclusividade nas imagens comerciais de satélite do Afeganistão, apesar de seus próprios satélites terem capacidade para tirar fotografias bem melhores. A estratégia serve a duas frentes: ao mesmo tempo em que provê um olho extra sobre o Afeganistão, evita que qualquer outro país tenha imagens do campo de guerra.
Apesar de haver uma lei americana segundo a qual em tempos de guerra a defesa nacional tem poderes legais de exercer um "controle censório" sobre satélites civis dos EUA, o Pentágono optou por usar a força comercial ao adquirir os direitos pelas imagens do Ikonos.
Tal decisão, de acordo com Duncan Campbell [The Guardian, 17/10/01], foi fortemente criticada por especialistas em inteligência dos EUA. Uma vez que as imagens das bases afegãs bombardeadas não mostrariam a posição das forças americanas nem comprometeriam a segurança militar dos EUA, o gesto do Pentágono pode ser visto pela mídia noticiosa como um golpe no estômago da Primeira Emenda, que garante a liberdade de expressão. "Se o Pentágono tivesse imposto um controle, é muito possível que organizações noticiosas entrassem processassem o governo alegando censura prévia", disse John Pike, da Globalsecurity, sítio americano que publica imagens de satélite de aparatos militares e terroristas por todo o mundo.
As imagens do satélite Ikonos, um dos melhores disponíveis ao público, serão adicionadas às coletadas por aviões e satélites militares, segundo Joan Mears, porta-voz da Agência Nacional de Imagens e Mapas. Mears, conta John Lumpkin [The Associated Press, 16/10/01], não comentou quanto o governo está pagando pelos direitos. O contrato da agência com a Space Imaging Inc., sediada em Denver, foi firmado em 7 de outubro e estima-se que a negociação está em patamares multimilionários. Ao comprar os direitos exclusivos sobre as imagens, o exército americano impede que o público ? no qual se inclui o Talibã ? saiba para onde os EUA estão olhando.