Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Imprensa perde o fôlego

DENÚNCIAS

Chico Bruno (*)

São tantas as denúncias de malversação do dinheiro público que a imprensa, principalmente as revistas e os grandes jornais, estão perdendo o fôlego no combate à corrupção. Os escândalos da Sudene sumiram do noticiário faz tempo, que apenas continua na lembrança de Boris Casoy: ele reclama do desaparecimento, mas não o tem pautado no Jornal da Record. O ralo por onde escoou a dinheirama da Sudam deve estar entupido, pois é citado, hoje, apenas de passagem, atrelado ao caso Jader Barbalho. DNER, TRT, obras inacabadas, escândalos capixaba e potiguar, entre outros cabeludos. São assuntos que deixaram de ser estrelas do dia-a-dia da imprensa. Estão relegados a segundo plano, para sermos benevolentes.

O próprio caso Jader Barbalho já está sendo coberto pelas revistas semanais e pelos grandes jornais sem o destaque inicial. Na suspeita de lavagem de dinheiro na Suíça e nas Ilhas Jersey pela família Maluf a imprensa não tem investido em investigação, detendo?se apenas em publicar as informações repassadas pelos órgãos oficiais.

Aliás, diga-se de passagem, tanto o caso Jader quanto o caso Maluf não estão sendo tratados pelos políticos de oposição da mesma maneira como trataram os episódios Luiz Estevão e ACM/Arruda. A atitude da senadora Heloísa Helena, que atuou na linha de frente nas duas ocasiões, hoje é outra, o que causa certa estranheza ? e, por incrível que pareça, isso não tem sido desdobrado pela imprensa, que inclusive pouco noticiou o parecer contrário da senadora no Conselho de Ética ao pedido da Justiça para quebrar a imunidade parlamentar e processar o senador Luís Otávio, por desvio de recursos do BNDES. Esse relatório da senadora até beneficia Jader Barbalho. Quem sabe esse desinteresse das oposições esteja contribuindo para o segundo plano a que foram relegados ambos os casos.

Festa dos lobistas

A suspeita de lavagem de dinheiro da família Maluf tem tido uma cobertura pífia das revistas semanais. Nem a valente e às vezes açodada IstoÉ tem se esforçado em investir nas apurações sobre o assunto. O mínimo que poderia fazer era dar o mesmo tratamento dispensado aos senadores Luiz Estevão, ACM e Arruda. Suas concorrentes Veja e Época seguem o mesmo caminho discreto, para não dizermos outra coisa.

Hoje, o prato principal do cardápio diário das editorias de Política é a sucessão de Fernando Henrique, principalmente a questão da filiação do ministro Pedro Malan ao PSDB, tendo sido criada até uma nova palavra para tratar do assunto, o malanismo. O que estará por trás desse súbito desinteresse ao combate à corrupção? Há exceções, tanto na imprensa como entre os políticos, mas que de repente o eixo mudou, lá isso mudou. E, infelizmente, mudou para pior. Até o jornalismo fiteiro sossegou o facho, há algumas semanas nada de novo nesse setor. A última produção foi uma grosseira falsificação da voz de um desconhecido deputado estadual amazonense, que serviu apenas para dar novo alento à defesa de Jader Barbalho.

A imprensa perde o fôlego no combate à corrupção, e isso faz a festa dos “lobistas de emendas”, que aguardam com ansiedade a chegada ao Congresso do orçamento da União para 2002, ano de eleições quase gerais e nos quais as emendas parlamentares são de vital importância para ajudar a eleger deputados e senadores.

(*) Jornalista

    
    
                     

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