Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Imprensa Popular

CENSURA EM RONDÔNIA

Gessi Taborda da Costa (*)

O Imprensa Popular, de Rondônia, foi novamente apreendido ontem (25/10), quando era distribuído em residências e pontos comerciais da Avenida Calama, em Porto Velho, capital do estado. Está sendo impossível agüentar a censura desencadeada contra o veículo nesse período eleitoral. A censura revela-se pior do que a praticada no jornal Correio Braziliense, proibido de divulgar conteúdo de gravações comprometedoras contra o governador Roriz.

A edição de setembro do Imprensa Popular foi apreendida por decisão da MM juíza da 6? Zona Eleitoral, Sandra Maria Nascimento de Souza, sem qualquer notificação prévia aos redatores do jornal ou à empresa editora. O periódico, que é impresso em gráficas de terceiros, teve sua edição de número 8 apreendida antes que chegasse à sede do jornal.

Imprensa Popular tem linha editorial de oposição e independência, não poupando o governador José de Abreu Bianco, candidato à reeleição pelo PFL, e vários outros políticos. O jornal ganhou notoriedade logo em seu lançamento não só por ter iniciado o sistema de distribuição gratuita na capital rondoniense, mas também por suas reportagens polêmicas, defendendo a preservação do meio ambiente e a ética na política. Passou a ser um veículo esperado todos os meses em vários pontos da capital, coberta com uma tiragem significativa (20 mil exemplares na primeira edição) para a realidade daquele estado.

A manchete da primeira edição não agradou ao prefeito Carlos Camurça, descrito como um personagem odiado nas periferias de Porto Velho, mantidas em total abandono. O jornal sempre tem um assunto polêmico na capa e sempre abre espaço para manifestações de artistas, intelectuais e representantes da oposição política.

A edição de setembro atingiria o máximo de circulação, com tiragem de 50 mil exemplares que seriam distribuídos em todo o estado. A principal matéria de capa apontava o governador, e candidato à reeleição, como um autêntico fracasso que provocou a demissão de 10 mil servidores públicos sem pagar-lhes qualquer indenização ou outro direito trabalhista. A maioria dos demitidos tinha 18 anos de serviço público. Foram essas críticas que incentivaram as medidas de censura adotadas pela juíza da 6? Zona.

Passados praticamente 30 dias da apreensão do jornal, a censura atacou novamente Imprensa Popular no dia de ontem (25), quando a mesma juíza determinou que agentes da Polícia Civil apreendessem a edição de outubro, a de número 9, que estava em processo de distribuição. Uma dezena de agentes localizou o carro de distribuição do jornal ? conduzido por mim ? e apreendeu todo o restante dos exemplares que ainda não tinha sido distribuído.

A ação policial não ficou restrita à apreensão dos jornais. Fomos, meu filho, Aldrin Willy, e João Paulo dos Santos Lima Oliveira e eu, levados à força, sem mandado algum, para um comitê auxiliar do candidato à reeleição, José Bianco, e submetidos a fortes constrangimentos, inclusive com ameaça de agressão e morte.

Só depois de mais de uma hora de ameaças fomos levados para as dependências da Superintendência da Polícia Federal de Rondônia, onde os exemplares restantes da edição número 9 de Imprensa Popular foram recolhidos e prestamos depoimento, com a assistência do advogado Fernando Maia, que representa o jornal. Aldrin Willy, de apenas 19 anos, chegou a sofrer empurrões de um agente não-identificado e ameaças da agente de polícia civil Dilma. Por isso, terminado o interrogatório, foi submetido a exame de corpo delito. Ninguém apresentou mandado judicial.

A implacável censura oficial, que impede Imprensa Popular de circular sem restrições, é fruto da reação do governo ao jornalismo crítico.

Com a apreensão da edição de outubro (número 9), o jornal foi impedido de circular e de protestar conta a apreensão de setembro, assunto de capa desta edição de Imprensa Popular. Ao deixar as dependências da Polícia Federal no fim da tarde de ontem, lamentei diante de companheiros do único jornal diário que apareceu para cobrir o fato (Folha de Rondônia) o silêncio olímpico dos outros veículos de comunicação, engajados na campanha do candidato à reeleição para o governo. Eles falam da censura ao Correio Braziliense sem ver que esta violência contra os direitos assegurados na Constituição acontece aqui mesmo, na capital de Rondônia.

(*) Jornalista e editor do jornal Imprensa Popular

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