FITAS & ROLOS
Ana Bruno (*)
Só dá malabarismo para obtenção de notícias através de um gravador e algumas fitas. "Fala aí, anda logo, preencha os meus cassetes que o jornal precisa de muito escândalo." Ou ainda "Tem um dossiê com gente grande, são bilhões envolvidos" e "Publica aquela lista do Senado, é fria mas é quente, entende?"
Ultimamente só se noticia quem dá conta de algum fuxico sobre grampos, milhões, desvios ou falcatruas. E sabemos que o país oferece bastante munição nessa guerrilha do alfabeto diário: tem movimento organizado dentro e fora do Congresso, em governos de estados e também em instituições bancárias, todas "levando vantagem em tudo, certo?" Pois não é que está na coluna "Swann", do Globo de 28/7/01, que o apeado da presidência, Fernando Collor, telefonou para o ex-jogador de futebol Gérson para felicitá-lo por uma operação de hérnia? É, há que se perguntar onde estaria o absurdo desta notícia: no cumprimento por uma intervenção cirúrgica ou na opção de um atleta campeão por essa amizade um tanto peculiar e descabida, por este inimigo público da nação?
Será que esse verme collorido não viu no que deu querer levar vantagem em tudo? Não viu como estava o país depois de 29 anos sem eleger presidente? Será que não viu que tentávamos trocar rapidamente nossa ojeriza aos fardões verde-oliva pelo simpático sorriso de anúncio de creme dental da televisão? Ainda não estávamos preparados para distinguir os bonecos polidos ? que são os galãs das novelas ? do Mandrake caçador de compatriotas marajás que ali se apresentava. Era como se para nós pudesse existir um belo Tarcísio Meira no panorama tosco da política, como se pudesse haver esse tipo de redenção plástica no poder. Mas infelizmente prevaleceu a genuína patologia dos folhetins pasteurizando e embotando o nosso discernimento. Infelizmente.
Antes também havia a sombra vermelha do PC a amedrontar os militares, num momento em que a imprensa era calada à força, época em que morreu Herzog enforcado em sua cela com cadarços de sapato. Hoje, morre o Sombra, fundador do temido PCC, enforcado em sua cela por cadarços, mas provavelmente de tênis importado, talvez até um Nike, outra sigla maldita que patrocinou nosso fiasco e nos tomou o penta na última Copa.
Mas talvez não seja este o melhor momento para falarmos em bandidos multinacionais. Agora devemos nos ocupar dos delituosos nativos antes que eles decidam ocupar a presidência em 2002 ? para a danação total de toda a nação brasileira.
Portanto, a imprensa, como prestadora de serviço, deve passar ao largo da leviandade. Informar não é selecionar letras e amontoá-las em palavras desconexas com a nossa realidade só para dar lucro aos capitalistas dos meios de comunicação. Como disse a secretária nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind, no mesmo O Globo, "em momentos de crise a imprensa não presta serviço produtivo. Ela exacerba os ânimos dos presos (…) só falta tirarem as máscaras e darem tchauzinho para as mães", se referindo à cobertura da TV Record na execução de presos, ao vivo, na rebelião em Osasco, nesta semana.
Divulgar extermínios ao vivo de nada vale, nada acrescenta, são só números nos contadores de audiência, só isso: números para engambelar patrocinadores fominhas. Não cabe à imprensa fomentar crises ou produzir terrorismos impressos para se projetar ou fazer lucrar seus patrões. Comunicação se faz com seriedade e profissionalismo, cuidando para que não haja pólvora em lugar do toner preto das notícias.
(*) Poeta, estudante de Jornalismo, cronista da Revista Bundas.