REPÚBLICA TCHECA
Não é só no Brasil que a imunidade parlamentar abriga indivíduos enrolados com negócios escusos. O empresário de mídia Vladimir Zelezny conseguiu eleger-se senador por um pequeno distrito rural na República Tcheca, ganhando proteção em processos contra sua emissora de TV, a Nova. Mesmo não tendo orientação ideológica definida, ele pauta a política nacional com seu programa de entrevistas aos sábados, de grande audiência.
Em 1993, Zelezny ganhou a primeira concessão de TV privada da Europa Oriental pós-comunista. Junto com um grupo de intelectuais de oposição, fundou a TV Nova, com a intenção de implantar projeto semelhante à britânica BBC. Pouco tempo depois, foi contatado por Ronald S. Lauder, bilionário empresário do ramo de cosméticos de Nova York, que tinha planos de instalar uma rede de televisão no modelo americano em diversos países do antigo bloco comunista.
Eles viraram sócios e, em pouco tempo, a TV Nova ganhou a programação que tem hoje e que atrai 70% da audiência tcheca: reprises de programas americanos, jornalismo sensacionalista, pornografia leve e reportagens investigativas de qualidade surpreendente. Um dos programas mais assistidos é a previsão do tempo em que a apresentadora fica nua.
Em 1999, executivos de Lauder acusaram o empresário tcheco de desviar recursos da emissora para outras empresas de sua propriedade e tiraram do ar seu programa de entrevistas. Rapidamente, Zelezny conseguiu rescindir seus contratos com o parceiro estrangeiro e levou consigo todos os talentos da TV Nova, passando a transmitir de outro lugar, e deixando Lauder de mãos vazias. Com apoio do direitista Partido Democrático Cívico, foi impedida a intervenção das autoridades de radiodifusão no caso.
Lauder publicou grandes anúncios em jornais denunciando a República Tcheca como um lugar inseguro para investimentos estrangeiros e ganhou processo internacional contra o país, que, por enquanto, está condenado a ressarci-lo em US$ 500 milhões. Zelezny passou a ser mais pressionado pela polícia, que alega que ele sonegou impostos ao falsificar contratos que comprovariam que não deu golpe em Lauder. Diversos de seus bens foram seqüestrados. Segundo Peter Green, do New York Times [4/11/02], ele passou o controle financeiro da Nova para um grupo tcheco pouco conhecido que pagou a maior parte dos US$ 28 milhões que a emissora deveria ao empresário de cosméticos.