A REPORTAGEM
Rodrigo Chia (*)
Há quem assuma, há quem dissimule, mas a verdade é que a teoria do jornalismo não passa de sonífero para grande parte dos profissionais da imprensa brasileira. Não por acaso multiplicam-se erros grosseiros, matérias plantadas, textos tendenciosos, informações equivocadas e atentados à lógica, além, claro, dos imortais "jabás" e "recos". Aqueles que falam muito de jornalismo são considerados, em geral, incapazes de fazê-lo, afinal, "jornalismo se aprende na prática".
A reportagem, pequeno guia recém-lançado pelo jornalista e professor Nilson Lage [veja remissão abaixo], prova que, na prática mesmo, a teoria é outra. O livro aborda os principais temas que deveriam preocupar um indivíduo que se pretenda jornalista: reportagem, pauta, fonte, ética. Para incômodo dos críticos do estudo formal da atividade, é realista de ponta a ponta. Depois de lembrar que "jornalismo é um serviço público, como a telefonia ou o fornecimento de luz elétrica", Lage completa: "A qualidade da informação, como a qualidade dos telefones e da energia, independe do lucro das empresas e até deve ajudá-las a ser mais lucrativas".
Nada de idealismo, viva o capital! A missão de Lage com o livro não é defender idéias pueris de uma imprensa "sem fins lucrativos" ou completamente imparcial; é mostrar que, sem respeito a alguns preceitos básicos, o jornalismo ? impresso, de rádio, TV ou internet ? sequer pode apresentar-se sob esse nome.
A reportagem começa com um breve histórico da imprensa e percorre todas as etapas da produção de um texto jornalístico. Explica o bê-á-bá da profissão, cita casos exemplares e resvala em temas polêmicos, como a transmutação de outros profissionais em jornalistas "especializados". Reproduz ainda trecho do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, do qual muitos itens tornam-se melancolicamente risíveis diante do que se vê nas redações.
Nilson Lage indica o livro a estudantes de cursos de graduação em Jornalismo. "Mas gostaria que fosse lido também por colegas em atividade", diz. Não deixa de ser uma ousadia. Esses colegas provavelmente destilarão ironia ao se depararem com trechos como: "Jornalistas não são sacerdotes nem se espera que sejam militantes de causa alguma. (…) Devem desenvolver uma persona profissional tal que ? a despeito de crenças e valores pessoais, compromissos de classe e cultura ? possam registrar os fatos e as idéias do nosso tempo com honestidade, concedendo à fonte o direito de ser como é e ao público o direito de escolher de que lado ficar."
Irônico que Lage não critique, por sua vez, a imprensa que coloca à frente dessa honestidade a vaidade, a ambição, os interesses pessoais. Ao contrário, A reportagem é sereno, simples, objetivo, direto e imparcial, como o jornalismo deve ser. As prima-donas das redações fariam a si um grande favor ? e à imprensa ? dedicando alguns minutos à sua leitura.
(*) Jornalista, editor de Informática do Jornal do Commercio, do Rio
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