FOTOJORNALISMO
“Imagens da esperança”, copyright IstoÉ, 26/02/03
“Uma guerra iminente e um cenário de crise econômica baixam o astral de qualquer um. Mas nunca é demais lembrar que no dia 1? de janeiro deste ano os brasileiros esbanjavam esperança. E tanto otimismo não pode ter se dissipado em menos de dois meses. Por isso, a segunda edição especial de A Revista, veículo produzido pelo Instituto Takano, da Takano Editora Gráfica, chega em boa hora: o trabalho é um vultoso registro da festa da posse do presidente Lula, realizado por 17 repórteres fotográficos, entre eles Ed Viggiani, Mônica Zaratini, Gal Oppido e Ricardo Stuckert, ex-ISTOÉ e atual fotógrafo oficial da Presidência. Desembarcando em Brasília com a missão de clicar apenas o que os olhos pedissem, essa turma realizou nada menos que sete mil fotografias naquele dia, das quais pouco mais de 100 estão reproduzidas num verdadeiro documento histórico.
Para acompanhar as imagens, nada de textos de análise ou de inspiração acadêmica. Apenas histórias de Lula contadas por Ricardo Kotscho, amigo do presidente desde o fim dos anos 70 e atual secretário de imprensa do Planalto. Regina Echeverria, diretora de redação, ouviu Kotscho durante quatro horas: ?O depoimento dele tem um clima de conversa de botequim?, diz. ?Não temos compromisso com a profundidade, quisemos fazer um painel ligeiro da história?, explica Marcos Weinstock, diretor do Instituto Takano e um dos idealizadores do trabalho. Também dos tempos em que o presidente era o maior líder sindical do País, A Revista traz fotografias de Hélio Campos Mello, hoje diretor de redação de ISTOÉ. E, como se não bastasse, o leitor ganhará de presente um broche criado pelo designer de jóias Antônio Bernardo – uma réplica do que foi usado por Lula durante a posse – e um emocionante cd-rom com som e imagem. Fazendo sua parte, a Takano quer doar ao Fome Zero toda a renda adquirida com as vendas da publicação.
As fotos que não foram escolhidas para entrar em A Revista estão expostas no viaduto Santa Ifigênia, lugar movimentado do centro de São Paulo. São 57 painéis, que abrigam cerca de 120 imagens impressas digitalmente. Iatã Cannabrava, um dos fotógrafos escalados para a cobertura e programador visual da exposição, diz que a idéia foi dar ênfase à festa popular, e não à cerimônia oficial da posse. ?O resultado superou minhas expectativas. A exposição ficou alegre, tem ritmo, tem uma marca. Quero que ela mostre que esta verve festivo-cultural brasileira pode ajudar muito na democracia?, diz Iatã, que no dia 1? ficou no meio da multidão. ?Fiquei impressionado com a força que o Lula tem. As pessoas estavam muito contentes, foi a maior festa que eu já vi.?”
CRÍTICA DIÁRIA
“No Ar”, copyright Folha de S. Paulo
20/02/03 – Da boca para fora
Começou com o Jornal Nacional de anteontem, com William Bonner dizendo que ?o PFL estreou no papel de oposição?. O PFL ?que sempre foi governo?.
Depois veio o Jornal da Globo e também registrou a oposição pefelista, ?pelo menos da boca para fora?.
Da boca para fora ou não, tratado com ironia ou não, o PFL se agarrou às pressas, na reabertura do Congresso, ao papel de oposição.
E então o PSDB saiu a campo às pressas ele também, a tempo de levar o Bom Dia Brasil a dizer que ?está definida a oposição? -citando não só o PFL, mas o PSDB.
E assim prosseguiram durante o dia inteiro tucanos e pefelistas, correndo para ver quem ofendia mais, diante das câmeras, o novo presidente.
Porque é uma oposição diferente, não como aquela do PT ao governo de ambos, no passado. No comentário de Franklin Martins, na Globo:
– O discurso é duro, mas isso não quer dizer que o PFL vá fazer oposição sistemática. Ao contrário, a tendência é ter um comportamento ambíguo. Na tribuna, críticas e cobranças. No painel de votação, colaboração e tolerância.
O que vale também para o PSDB, acrescentou depois o comentarista na CBN.
A oposição de ambos é de retórica pesada -até para ver com quem vai ficar a titularidade da oposição, já que as duas legendas ainda não se compuseram como bloco. Mas em substância a nova oposição é, por enquanto, obscura.
De um lado, critica Lula por estar fazendo tudo como ela, oposição tucano-pefelista, faria. De outro, critica Lula por não estar fazendo tudo ao contrário do que ela faria.
Sem substantivos, apela-se aos adjetivos do gênero ?amador?, ?incompetente?, e até à recusa de convite para jantar.
É preciso viver o papel, ainda que só no grito.
O antiamericanismo vai aos poucos se espalhando pela televisão mundial.
O jornal londrino ?The Guardian? noticiou uma pesquisa de acompanhamento de cobertura que mostra um número crescente de reportagens negativas aos EUA pelo mundo. Um tom que se acentuou sobretudo a partir de janeiro.
Segundo o instituto alemão Media Tenor, que realizou a pesquisa, ?se não fosse a cobertura extensiva da televisão nas indicações para o Oscar, a proporção de noticiário negativo seria ainda maior?.
A redenção de George W. Bush é Hollywood.
19/02/03 -O outro lado do rio
Alexandre Garcia, que devia estar lá, descreveu o jantar dos senadores com o presidente Lula:
– Para quem fez simpáticas reclamações de corte de emendas parlamentes, de aperto fiscal, de mais juros, o presidente explicou que é transitório. Que só dominando a inflação e equilibrando as contas será possível viver com juros menores.
Parece que o argumento e a sedução pessoal, que ecoam FHC, colaram.
Até Arthur Virgílio, o tucano que ofende, mudou de conversa. Depois de muito falar com Lula, saiu dizendo ontem que a alta dos juros e o arrocho fiscal são medidas ?corretas?, ainda que ?impopulares?.
Até Heloísa Helena, a amiga de Babá que não foi ao jantar, apareceu ontem para defender Lula, dizendo que ele, com semanas no poder, não pode ser responsabilizado pela situação do país.
Até d. Jayme Chemello, presidente da CNBB, que convocou as câmeras para atacar os juros, acabou dizendo que não dá para cobrar Lula, que é preciso ter ?paciência?.
Mas a segunda elevação dos juros, não é possível contornar, foi um ponto de mudança -e outros já dão sinais de perder a mesma paciência.
Franklin Martins, da Globo como Alexandre Garcia, registrou a ?repercussão nada boa? dos juros e o ?sentimento horrível? entre os próprios petistas. E comentou:
– O PT diz que está sendo obrigado a fazer esta política porque está numa travessia. O problema é que até agora não mostrou o que existe do outro lado do rio e como chegar lá. Não está claro como Lula vai sair dessa armadilha, armadilha em que FHC entrou e não conseguiu sair.
Para resumir:
– Se tiver luz no fim do túnel, se mostrar como chegar ao outro lado, fica mais fácil suportar o remédio amargo.
Não só para os petistas, mas também para os comentaristas de televisão.
No momento em que se define aos poucos a oposição, ela está presa a personagens como Jorge Bornhausen e Arthur Virgílio -ou mesmo Babá.
Em oposição frontal à liderança de Lula, só FHC e suas entrevistas e seus artigos no meio da suposta aposentadoria.
Nada de José Serra ou Ciro Gomes, que decidiram dar um tempo às câmeras.
Sobraria Garotinho, mas ele está às voltas com as manchetes do Jornal Nacional:
– Ex-secretário da Fazenda acusa ex-governador Garotinho na CPI dos Fiscais.”