Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Informação, a primeira baixa

PENTÁGONO CALADO

Em 1988, oficiais do Pentágono fizeram circular a informação de que uma aeronave americana estaria atrasada em sua viagem ao Golfo Pérsico, onde Irã e Iraque guerreavam. A história rapidamente vazou para um jornalista e, daí, para o mundo. A informação estava errada ? a aeronave havia decolado exatamente na hora marcada rumo à região ? e os militares ficaram satisfeitos. "Disseminamos uma mensagem falsa para enganar as pessoas", disse Jay Coupe, então porta-voz dos líderes das forças armadas americanas. "A idéia não era dar informações sobre o movimento de nossas tropas. Queríamos confundir o público."

A lembrança dessa situação preocupa muitos jornalistas americanos. Segundo Howard Kurtz [The Washington Post, 24/9/01], o pronunciamento de Bush de que a guerra contra o terrorismo será um "novo tipo de guerra" aumentou o temor de que não apenas a mídia seja censurada e limitada, mas também enganada. "Essa é a guerra mais intensa em termos de informações que se pode imaginar. Teremos que mentir sobre algumas coisas", disse um militar.

"Se se trata de uma guerra de informações, certamente os ?maus? vão mentir." Oficiais já deixaram claro nos últimos dias que boa parte das operações será feita em silêncio. "Posso condicionar a imprensa afirmando que quaisquer fontes e métodos da inteligência permanecerão em segredo", disse o presidente Bush. "Meu governo não falará sobre como reuniremos a inteligência ou se chegaremos a fazê-lo. São medidas de proteção ao povo americano."

Sem fontes de informação, jornalistas não têm como noticiar. Para garantir que tudo será feito sob o mais absoluto sigilo e longe de câmeras, microfones e gravadores, Donald H. Rumsfeld, secretário da Defesa dos EUA, alertou os potenciais transgressores das regras de segurança que "vidas de homens e mulheres uniformizados" poderiam ser postas em perigo.

SOLDADOS EM PERIGO

Editores de jornais e emissoras britânicos receberam um apelo para diminuir as especulações sobre a ação militar futura se isso trouxer perigo aos soldados britânicos. O pedido, feito em carta do contra-almirante Nick Wilkinson, é uma tentativa do governo de podar a cobertura exagerada sobre a ameaça aos residentes.

Wilkinson, de acordo com Nick Higham [BBC, 26/9/01], é secretário do comitê D-Notice, órgão consultor formado por militares e jornalistas sênior para alertar organizações noticiosas sobre informações militares cuja publicação poderia causar danos à segurança nacional. Além de solicitar que haja o mínimo de especulação possível, o almirante pede mais cautela ao "considerar informações que podem ser úteis a terroristas e seus assessores."

Aparentemente, o que motivou Wilkinson a escrever a carta foram notícias publicadas recentemente afirmando que forças armadas britânicas já estavam ativas no Afeganistão, tendo supostamente declarado fogo contra o Taleban. O almirante disse que tais reportagens estavam "selvagemente imprecisas", mas mesmo assim poderiam ter causado danos.

O porta-voz oficial do primeiro-ministro Tony Blair também pediu à mídia mais responsabilidade na maneira de reportar a crise.

    
    
                     

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