Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Informar, não rotular

THE WASHINGTON POST

Muitos leitores escrevem ao Washington Post reclamando que o jornal seria tendencioso na cobertura do conflito entre israelenses e palestinos, sendo estes os favorecidos. Não aceitam que grupos como Hamas e Jihad Islâmica sejam chamados de "militantes" em vez de "terroristas". O ombudsman Michael Getler, em coluna de 21/9/03 explica qual é a posição do jornal a esse respeito. "Terrorismo e terrorista podem ser palavras úteis, mas são rótulos. Como todos os rótulos, não carregam muita informação. Nós devemos nos ater primeiramente a fatos específicos, não a caracterizações", explica, citando o manual de redação do Post.

Getler aponta que, neste sentido, qualificações como a de terrorista devem, de preferência, ser restringidas a declarações de pessoas envolvidas. Não raro aparece no jornal a citação de um israelense que acusa os palestinos de terroristas. Isso é uma opinião que o jornalista não pode abraçar, mas deve mencionar, para que o leitor tire sua própria conclusão. Chegam cartas ao ombudsman reclamando que a cobertura do Oriente Médio é tendenciosa, mas nunca com queixas de que as notícias não explicam adequadamente os fatos. Se o diário informa bem, sua missão está cumprida, pois as pessoas poderão ler e decidir se consideram o Hamas terrorista ou não.

Finalmente, Getler responde às pessoas que equiparam a luta de Israel contra os tais "grupos militantes" com a cruzada dos EUA contra a al-Qaeda. "O Hamas pratica terrorismo, mas também tem ambições territoriais, é um movimento nacionalista e conduz algum trabalho social. Pelo que se sabe, a al-Qaeda existe somente como rede terrorista". Ele completa que o contexto dos dois conflitos é muito distinto e conclui: "Os veículos de comunicação não devem fugir da palavra terrorismo quando for o termo apropriado. Mas, em geral, a reportagem forte, descritiva e factual é melhor que um rótulo".