Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Insatisfação e aparências

ARÁBIA SAUDITA

Os protestos contra o governo da Arábia Saudita, que levaram à prisão de mais de 350 pessoas em outubro, foram coordenados a partir de uma pequena casa no norte de Londres. Ali está sediado o Movimento pela Reforma Islâmica na Arábia, que, por meio de uma estação de rádio por satélite ? a al-Islah ?, tem criticado, com grande repercussão, a ditadura da família real saudita. "Após 70 anos de segredo e decepção, nós chegamos com toda essa carga de verdade. E o efeito tem sido esmagador", entusiasma-se o líder Saad al-Fagih.

Um quarto nos fundos da casa foi transformado em estúdio. Nas telas dos computadores, centenas de mensagens de pessoas que querem denunciar violência, corrupção e nepotismo. Os ouvintes participam pela internet e por celular, com opção de terem a voz alterada. Durante as manifestações de 14/10, houve muitas ligações dando informações sobre a repressão. Uma das denúncias mais chocantes foi a da prisão e espancamento de Um Saud, uma mulher de 65 anos que saiu às ruas para pedir o corpo de seu filho Sud al-Mutayri, morto em um incêndio numa prisão. O fato chamou a atenção da Anistia Internacional, que entrou em contato com o governo saudita.

Fagih estima que a al-Islah tem alcançado milhões de pessoas, pois o uso de parabólica é bastante comum na Arábia Saudita. De acordo com Warren Hoge, do New York Times [27/10/03], o governo tem interferido nas transmissões e conseguiu tirar a rádio do ar, mas engenheiros já trabalham para seu restabelecimento.

Campanha por boa imagem

Enquanto luta para conter a insatisfação interna, a monarquia da Arábia Saudita investe pesado para melhorar a imagem do país nos EUA. Desde os ataques de 11 de setembro, pelos quais 15 dos 19 seqüestradores de avião responsáveis eram sauditas, foram investidos US$ 17,6 milhões em relações públicas, lobbies e propaganda. Desde maio do ano passado, já foram veiculados mais de 1.500 anúncios de TV mostrando a Arábia Saudita como um país moderno e alinhado com os americanos, em canais como CNN, ESPN, MSNBC e Fox News. Três importantes escritórios lobistas e jurídicos foram contratados para atuar em Washington.

No primeiro aniversário dos ataques terroristas, o príncipe Abdullah ? que é quem governa de fato, pois seu irmão, o rei Fahd, está doente ? enviou carta de solidariedade ao presidente George W. Bush.

A aparente simpatia não parece, no entanto, ser recíproca. O governo dos EUA acabam de renovar uma recomendação a seus cidadãos para que não viajem à Arábia por motivo de segurança, informa a AP [28/10/03].