PICADEIRO
No dia 19 de dezembro, diante do presidente da República, o governador do Ceará e o ministro da Justiça quase se atracaram. Detalhes, inclusive a transcrição de insultos, foram divulgados três semanas depois, na terça-feira, 8 de janeiro, no Correio Braziliense. No último fim de semana, o relato foi escancarado em três jornalões e dois semanários (dando o crédito, claro) com a assinatura de colunistas famosos. Passado quase um mês ? apesar de insólito e deprimente ? o episódio foi superado por uma sucessão de fatos e, mesmo assim, ganhou esta estranha relevância.
Curiosamente, o pivô da truculência do governador cearense foi a sua queixa de que membros do governo espalhavam notas desfavoráveis à sua pretensão como candidato. Como o queixoso não poderia ser o autor de uma inconfidência que o deixa muito mal, depreende-se que a cobertura política continua sendo feita na base de "plantação". (A.D.)
Quatro grandes diários brasileiros ? Folha, Estadão, Globo e Jornal do Brasil ?, noticiaram na última segunda-feira (14/01) o fracasso das negociações de paz na Colômbia, com crescente risco de início de uma guerra civil de conseqüências imprevisíveis. Todos os quatro deram os fatos colombianos a partir dos serviços de agências internacionais.
Obviamente, se houver mesmo guerra civil no país vizinho, o Brasil será diretamente afetado. Acredite se quiser, os quatro mais importantes ? e ricos ? diários brasileiros não contam com um único correspondente em Bogotá. Qualidade total mais reengenharia "by Navarra": não podia mesmo dar em outra coisa. (LAM)
Traição, envelhecimento e direitos dos homossexuais foram os temas das capas das três grandes revistas semanais do país no último fim-de-semana.
Nada contra matérias de comportamento, mas não deixa de ser interessante notar que os semanários ? todos os três ? tradicionalmente aproveitam o mês de janeiro para "desovar" matérias geladas. Quem acompanha qualquer dos títulos em questão também deve ter reparado na súbita "magreza" das revistas, que saíram com pelo menos 20% a menos das páginas habituais. (LAM)
Os dois fenômenos estão ligados, são parte de um círculo vicioso: nas férias de verão, as revistas esperam vender menos. As agências sabem disto e programam menos anúncios. Assim, as revistas chegam às bancas encolhidas e cheias de pautas frias, permitindo que alguns jornalistas curtam merecidas férias e que os que ficaram tenham fechamentos mais brandos. Fechando o círculo, o leitor, que não é bobo, percebe a artimanha e larga a revista na banca.
"O ano só começa depois do Carnaval" é antes de mais nada um lema discutível. Agora mesmo, neste janeiro de chuvas torrenciais, crise argentina e intrigas na camarilha, não faltava assunto quente para as semanais. (LAM)