TIM LOPES
Patrícia de Paula (*)
Diariamente, o profissional de jornalismo tem de enfrentar numerosos obstáculos para obter informações que são do interesse público, mas, ou encontra pela frente portas fechadas ou a manipulação exercida pelo interesse das fontes, que fazem com que nem sempre a notícia seja exatamente uma água límpida. A sociedade, no entanto, precisa do seu trabalho cotidiano de renovar todo dia o estoque de novidades, utilidades e entretenimento e outras modalidades de "fatos" jornalísticos. Os mais graves problemas se apresentam, no entanto, quando o jornalista tem de ultrapassar interdições. Neste momento, um deles, que preocupa toda a categoria jornalística, é o do exercício da profissão mediante o uso de expedientes polêmicos como câmera e gravador ocultos e ocultamento de identidade.
Talvez o acesso à informação pública seja, hoje, um dos maiores obstáculos enfrentados pelo jornalista brasileiro, seja pela situação caótica da administração pública, com dados e informações espalhados, seja pelo mau costume dos governos de divulgarem o que lhes convém. O crime, a corrupção, a atuação das quadrilhas, estes, então, fazem parte do rol de obscurantismos que o jornalista procura vencer para trazer os "fatos" à luz do conhecimento público.
Luz para o jornalismo
A Constituição Brasileira assegura o direito de acesso e transmissão das informações (Art. 5?, Inciso XXXIII): "… todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.
Entretanto, há um abismo entre o que determina a Carta Magna e o costume, razão pela qual repórteres têm de "ralar" diariamente para conseguir desvendar as brumas do que se oculta seja nos gabinetes e repartições, seja na sociedade, por vezes, morros, favelas, antros. Com relação ao Estado, existem algumas iniciativas em favor da visibilidade, como o conjunto de leis americanas chamado Sunshine Laws, pelas quais o governo é obrigado a abrir seus arquivos e reuniões ao público. Tais leis foram criadas porque, durante gerações, o governo só fornecia versões a seu gosto; o sigilo frustrava repórteres e cidadãos, e as informações eram manipuladas. Estas Leis, criadas em 1966, são uma conquista da democracia.
No Brasil, a situação é semelhante à que ocorria nos EUA antes das Sunshine Laws. O jornalista precisa de fontes para obter as informações públicas, sua reportagem é manipulada pelos interesses dominantes ou escusos. Resultado, há uma hipervisibilidade da informação promocional em detrimento das informações supostamente negativas. Esta conjuntura tornou-se bem clara quando, certa vez, um ministro da Fazenda, não sabendo que suas palavras estavam sendo captadas por antenas parabólicas, disse, off-the-record: "Eu não tenho escrúpulos, o que é bom a gente divulga, o que é ruim a gente esconde."
Há ainda a tradição do Estado brasileiro de não se preocupar com o assunto; outro problema é de ordem cultural, pois os servidores públicos não se sentem obrigados a dar informações.
Nesse contexto, cabe o aspecto do interesse público. Será que há por parte da mídia o interesse em buscar informações para saciar o interesse público? E este interesse público não estaria sendo confundido com o interesse do público? Será que a mídia presta um serviço público? Ou rendeu-se completamente aos interesses mercadológicos? Por que nem sempre o interesse público consegue espaço na mídia? Estas são questões difíceis, porque não há uma fronteira clara entre os dois lados. Na mídia brasileira há uma exploração sensacionalista do interesse público. Programas como Ratinho fingem dar espaço ao público para reclamações e coisas do gênero, mas o que se pode ver é um show de baixarias.
Não estamos à procura de realidades puras, angelicais. Sabemos o quanto a objetividade é um mito, embora tenha sempre de ser buscada, até como um ideal. Entretanto, o próprio jornalismo precisa ser mais iluminado, pois nem sempre essa profissão é feita às claras, ainda que isso represente, por vezes, a vida do repórter. O caso Tim Lopes foi um extremo. Entretanto, no dia-a-dia, sabemos, há toda uma sorte de relações e barganhas obscuras entre repórteres e fontes. Quem não se lembra do caso Boechat, em que o próprio repórter foi vítima de grampo? Todo esforço legítimo deve ser feito em nome do interesse coletivo, é claro. Mas há limites para tudo.
(*) Estudante de Jornalismo na UnB, participante, como bolsista de extensão, do projeto SOS-Imprensa