INDEPENDÊNCIA DO BRASIL & IMPRENSA
"A imprensa do Ipiranga", copyright Jornal do Brasil, 13/10/01
"Quem quiser entender hoje como se processou a Independência do Brasil tem acesso a uma série de publicações acadêmicas que mapeiam muitos e variados aspectos daquele momento fundador de nosso Estado Nacional. Desde a preciosíssima História da Independência, de Varnhagen, passando pelos estudos de Tobias Monteiro, Oliveira Lima, José Honório Rodrigues; o conjunto de admiráveis e completas biografias produzidas por Otávio Tarquínio de Sousa; os estudos de Hélio Vianna e Carlos Rizzini sobre a imprensa do período; os já consagrados trabalhos de Maria Emília Viotti e Carlos Guilherme Mota até chegar à produção que as universidades vêm disponibilizado a cada dia, têm-se um universo de teses e publicações considerável.
Os estudos contemporâneos, seguindo as novas tendências da historiografia, têm privilegiado aspectos pontuais como os relativos aos quadros que representam a cena do Ipiranga; os debates em torno da data e principalmente, o papel da imprensa naquele contexto. Nos anos 40, Rubens Borba de Moraes tentara a empreitada de publicar em edições fac-similares alguns dos jornais da Independência: A Malagueta, com prefácio de Hélio Vianna, e O Tamoio, com prefácio de Caio Prado Júnior. Mas a coleção parou aí. Agora Alberto Dines, através da Imprensa Oficial de São Paulo, realiza tarefa de muito maior fôlego que é a edição do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa, empreitada com a qual tenho a hora de colaborar na qualidade de co-editora.
Dentro desse espírito, o mercado editorial brasileiro vem tentando recuperar o tempo perdido. A editora 34 letras publica a coleção Formadores do Brasil, explorando personagens que, por sua atuação na cena pública brasileira aliada à sua obra escrita, contribuíram para a formação do país. Além do pioneiro Hipólito da Costa, outro contemplado foi Frei Caneca, jornalista e mártir da Independência. Pela Editora da Fundação Getúlio Vargas, estão sendo lançados novos volumes da coleção Os que fizeram a História, entre eles um perfil do patriarca José Bonifácio, poeta, editor e redator de vários jornais. E, graças à Bahia, uma nova biografia de Cipriano Barata, o criador do Sentinela da liberdade. Todos jornalistas pioneiros na luta pelo Brasil.
Isabel Lustosa é pesquisadora da Casa de Rui Barbosa, autora de Insultos impressos: a guerra dos jornalistas na Independência (Companhia das Letras) e coordena, com Alberto Dines, a edição fac-similar do Correio Braziliense."
***
"Resgate do primeiro jornal", copyright Jornal do Brasil, 13/10/01
"Uma operação de resgate de um tempo em que o Brasil começava a se organizar como país, os primeiros cursos superiores eram criados e as idéias de independência, circulando pelas frestas, anunciavam a chegada de um novo tempo. Eis o que representa a edição fac-similar dos originais do jornal Correio Braziliense, sob a responsabilidade do jornalista Alberto Dines, que começaram a ser publicados em junho por iniciativa da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Dos 29 volumes (de cerca de 600 páginas cada) já foram publicados os primeiros quatro, além do índice onomástico, elaborado pela Biblioteca Nacional. Os próximos (volumes 5 e 6), que cobrem o período de 1810, devem sair em novembro.
O pioneirismo do Correio marcou o surgimento da era da imprensa no Brasil e o processo de formação de consciências em um período crucial da história. O jornal, que nunca deixou de ser impresso em Londres (o que define um certo caráter de exílio do nascimento da imprensa no Brasil), circulou num tempo em que havia poucas pessoas alfabetizadas por aqui, mas em que as leituras públicas eram freqüentes.
Entre os temas recorrentes do Correio, estavam as denúncias de corrupção contra os ministros da Coroa, a defesa da abolição dos escravos e a exaltação do progresso, sempre sob a batuta do editor e único redator Hipólito da Costa, que assumia então a responsabilidade de ?iluminar?? consciências e acirrar reflexões. Hipólito foi um homem do Iluminismo, com análises lúcidas, idéias próprias e vastas. Foi considerado o pai da imprensa brasileira. Os volumes são um material precioso e raro, que cobrem a cultura e a política do país em um período extenso, sendo o primeiro jornal impresso exclusivamente voltado para o Brasil."