COPA 2002
"O que se pode esperar desta Copa na tevê", copyright Jornal da Tarde, 1/6/02
"Para milhões de brasileiros, esta Copa será parecida com aquelas da era do rádio, quando todos conversavam sobre jogos e jogadas que não viam.
Pode-se prever que será a Copa do trololó na televisão. Todas as emissoras, tirando as da Rede Globo, só poderão comentar, sem mostrar; vão analisar partidas que milhões de telespectadores não viram. Por dois motivos. O primeiro: 25 jogos serão disputados na alta madrugada, quando o povão descansa; 10 jogos serão disputados a partir das 6h da manhã, quando o povão se desloca para o trabalho; e 29, em horário de trabalho, a partir das 8h30. Quatro ou cinco dos possíveis sete jogos do Brasil serão realizados nesse último horário, e aí sempre se dá um jeito.
O segundo motivo: a Globo, que tem os direitos exclusivos de transmissão, não vai reexibir jogo nenhum na tevê aberta, nem os do Brasil. No país, são pouco mais de 3 milhões os assinantes de tevê paga; só quem tem assinatura vai poder ver videoteipes no Sportv.
Condenados ao ufanismo
Estamos condenados ao estresse ou ao ufanismo de Galvão Bueno.
Para usar uma terminologia telenovelesca, ele é um narrador espetaculoso. Não é que não entenda de futebol, depois de tantos anos tentando, mas é espetaculoso, verborrágico, sangüíneo, emocional – e isso trabalha contra o que ele sabe. O que ele quer é show, é gritar gol, com aquela música tã-tã, tã-tã, tã-tã-tã-tã-tã-tã ao fundo e o replay rolando. E não é o que o povão quer? É, por isso que ele é popular.
Também atrapalha o telespectador aquela mania que ele tem de conversar sobre coisas que não têm nada que ver, enquanto o jogo está rolando. Lembram-se? No treino contra a Malásia, ele passou um tempão conversando com José Roberto Wright, o comentarista de arbitragens, sobre os juízes designados para a primeira fase da Copa. Abobrinhavam detalhes, nomes, retrospecto de vários deles, conjeturavam se iam ser jogos difíceis ou não – e o treino lá, rolando sem narrador. Ora, a equipe da Globo teve 20 minutos de transmissão antes de começar o treino e deixou aquele papo para a hora do jogo.
Outra coisa: continua aquela confusão de Ronaldinhos na narração. Supõe-se que toda vez que Galvão fala Ronaldinho se refere ao Ronaldo, mas não é, às vezes é do Gaúcho que ele está falando, sem o complemento. Assim fica difícil. Poderia simplificar logo para Ronaldo o nome do mais antigo.
Comentaristas engessados
O problema dos comentaristas Falcão e Casagrande emana do Galvão Bueno, que lhes passa um pré-comentário dele, pronto, para eles comentarem, como lição de casa. Passa em tom de pergunta, mas eles ficam limitados ao tema lançado. Seria interessante que tivessem mais liberdade, algo aberto como: ?Dez minutos de jogo, vamos ouvir os comentários de Falcão e de Casagrande.?
No esquema atual, eles já entram engessados, para falar de um aspecto que talvez nem seja o mais relevante para eles. E talvez nem seja uma colocação correta, mas é aquilo que está pautado. Por exemplo, a questão Denílson e Rivaldo. Freqüentemente, os dois comentaristas foram convidados a optar por um deles, embora soubessem que os dois, em seus clubes, jogam em posições diferentes. Como se Denílson e Rivaldo não pudessem jogar no mesmo time. Tostão acha que podem e devem. Falcão e Casagrande sabem que é lá atrás que tem gente sobrando, mas se envolvem na falsa questão.
O telespectador deve ficar atento aos comentaristas de outras emissoras, abertas ou fechadas, para se orientar melhor. A ESPN Brasil tem uma equipe muito crítica e principalmente vai ouvir o Tostão, que está lá na Coréia; a Sportv tem Júnior, entre outros; a Record conta com um Raí atento e com o arguto e sereno Paulo Calçade. É bom ouvir alguns deles."
"Em posição de impedimento", copyright Folha de S. Paulo, 31/5/02
"Moradora de Canabrava do Norte, no interior do interior do Mato Grosso, Sônia Maria Ferreira da Rocha não vai ver a Copa na TV pela primeira vez na vida desde que se entende por gente.
A cidade, com pouco mais de 7.000 habitantes, é uma das 58 no Brasil sem cobertura da TV Globo, que terá exclusividade na transmissão do Mundial deste ano, com estréia hoje, na Coréia.
Sônia, dona-de-casa, 40 anos, terá de se conformar com as mesas-redondas da Record, a única que ?pega? no local, por meio de retransmissora. ?É uma pena que a Copa não vai passar na Record. Tive que vender a parabólica para construir minha casa e fiquei sem os jogos?, diz. O marido, ?por sorte?, está trabalhando em Goiânia e poderá ver a seleção pela TV.
Com os horários malucos das transmissões, esta Copa também vai contar menos com os ?televizinhos?. ?Não vai dar para visitar o vizinho às 3h para ver o jogo.?
Se não fosse nesse horário, Sônia poderia ir à casa de dona Luiza Barbosa dos Santos, 50. Depois de passar ?a vida toda? sem mudar o canal da TV e tendo de assistir até aos programas dos bispos evangélicos, mesmo sendo católica, ela está em festa porque conseguiu finalmente comprar uma parabólica para torcer pelo Brasil.
No início do ano, sabendo que só a Globo deveria exibir os jogos, Luiza e o marido, Rafael Souza do Nascimento, 50, decidiram entrar em um consórcio de antena. ?Custa R$ 380 e não dava [com o dinheiro que recebem trabalhando ?na terra?] para pagar à vista.?
Festa do prefeito
Assim como em Canabrava, os habitantes das outras 57 cidades que não são cobertas pela Globo -o que representa 1,05% dos municípios brasileiros- só poderão ter acesso à Copa se tiverem antena parabólica (leia ao lado).
No total, segundo cálculo da Superintendência Comercial da Globo, são 221.101 pessoas que potencialmente têm acesso à TV -0,15% do número de telespectadores no país- sem a Globo. Não é possível, no entanto, calcular quantos possuem parabólica.
E também não dá para dizer que, se o Mundial não fosse exclusivo da Globo, essas pessoas estariam salvas. É muito provável, segundo especialistas consultados pela Folha, que a maioria desses municípios não tenha cobertura de nenhuma outra emissora.
É o caso de Santa Rosa do Purus, no Acre. Com 2.004 habitantes (segundo site da Globo), a cidade só assiste TV por antena parabólica. Para não deixar a população sem a Copa, o prefeito, José Altamir Taumaturgo de Sá (PT), irá organizar festas com um aparelho ?bem grande?. Na praça? ?Não. Na casa dele?, diz Francisco Salles Contreiras (PT), presidente da Câmara. ?Cabem umas 500 pessoas num canto lá do quintal.?
Mesmo com esse número de convidados, alguns moradores devem ficar fora da torcida pelo time de Luiz Felipe Scolari, já que, segundo dados de 2000 da Globo, há apenas 231 domicílios com aparelhos de televisão, ou 1.334 telespectadores em potencial.
E lá, a torcida começa ?mais cedo?, já que são duas horas a menos do que o horário de Brasília.
?Quando os jogos forem às 4h (6h no horário de Brasília) e às 6h (8h), será fácil porque normalmente já estamos acordados nessa hora. Quando for à 1h (3h), será mais complicado. Acho que teremos que ficar acordados direto.?
Copa dos excluídos
Calcula-se que no Brasil haja pelo menos 7 milhões de antenas parabólicas, ou 22 milhões de telespectadores potenciais.
Mas, segundo a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), desse total de antenas, 3,8 milhões estão no Sudeste, 1,36 milhão no Sul, 1 milhão no Nordeste, 570 mil no Centro-Oeste e Norte e 360 mil no Norte.
Com esses números, o que se conclui é que justamente as três regiões que possuem municípios ainda não cobertos pela Globo são as que menos têm acesso às antenas parabólicas.
É o torcedor brasileiro em posição clara de impedimento."
"Globo veta Copa na concorrência antes das 13h", copyright Folha de S. Paulo, 1/6/02
"Contrato assinado nesta semana entre a Globo e demais emissoras de TV aberta impõe sérias restrições às concorrentes para o uso de imagens da Copa. A concorrência receberá apenas 90 segundos de imagens de cada jogo e, além disso, só terá o direito de exibir o material em programas esportivos ou jornalísticos, após as 13h e até as 13h do dia seguinte.
Aos domingos, as emissoras concorrentes poderão utilizar as imagens dos jogos da semana apenas entre 22h e 24h. Isso resultará em algumas mudanças na programação das redes. O ?TV Esporte?, da Rede TV!, por exemplo, agora vai até as 13h15.
As restrições são uma punição às emissoras, que se recusaram a dividir os custos de direitos de transmissão. É também uma forma de valorizar o ?Globo Esporte?, que ontem entrou no ar mais cedo, às 12h34. A Globo também reprisa os gols às 11h40.
A Globo pagou US$ 220 milhões pelos direitos do Mundial. Prevendo prejuízo, tentou repassálos por US$ 60 milhões, depois por US$ 30 milhões. Tentou por último vender pacote com 40 minutos de imagens por dia por US$ 5 milhões. Também encalhou.
A abertura da Copa, ontem, entre França e Senegal, deu média de 32 pontos no Ibope na Grande São Paulo, mais de três vezes a média do horário. SBT e Record perderam dois pontos cada, o que indica grande aumento no número de TVs ligadas.
OUTRO CANAL
Vermelho 1
Ciro Bottini não é mais apresentador da promoção ?Show de Gols?, da Globo. Só soube que seria substituído por Fausto Silva por volta das 19h de quinta-feira. A Globo diz que a mudança já estava prevista, mas a verdade é outra: Bottini iria até o fim da promoção, no final de junho, como estava em contrato.
Vermelho 2
Há duas versões para a troca. A primeira diz que as vendas de revistas estavam fracas (oficialmente, foram 2,5 milhões em maio, gerando receita bruta de R$ 7,3 milhões). A outra diz que Fausto Silva teria exigido apresentar a promoção como condição para renovar contrato. Duvidoso: o mais provável é que Faustão entrou numa fria.
Loucação
A mesma Parada Gay de São Paulo, amanhã, que irá lançar comitê de monitoramento da imagem dos homossexuais na mídia, vai servir de cenário para a gravação de cenas da novela ?Desejos de Mulher? e do humorístico ?Casseta & Planeta?. Avacalhação na certa.
Liquidação
O SBT lançou no mercado publicitário uma promoção para atrair anunciantes para os intervalos de ?Popstars?, exibido aos sábados. Oferece, por exemplo, pacote de 15 inserções nacionais por R$ 380 mil, um desconto de 40% sobre a tabela."